Um secretário de Estado-adjunto de um ministro-adjunto do Governo de Portugal (até parece que os emigrantes portugueses só merecem ter a atenção de governantes adjuntos) veio a público anunciar que o Governo criou o programa “VEM” (Valorização do Empreendorismo Emigrante), destinado a fazer regressar a Portugal os emigrantes que, em resultado da crise económica que nos tem atingido desde 2011, saíram de Portugal em busca de uma oportunidade de vida (actualmente entre 350 mil e 400 mil).
Segundo o secretário de Estado-adjunto, que dá pelo nome de Pedro Lomba, o Governo vai facultar uma subvenção não reembolsável, cujas verbas podem oscilar entre dez mil e o máximo de vinte mil euros, a quarenta ou cinquenta projectos empreendedores dos emigrantes, que vierem a ser aprovados.
Perante um país cada vez mais envelhecido, em consequência da fuga (salva-vidas) para o estrangeiro dos nossos cidadãos em idade activa, que se foram juntar aos outros milhões que por lá ficaram e que porventura não regressam, já antes tínhamos ficado surpreendidos com as políticas de incentivo à natalidade anunciadas por Passos Coelho, que nunca viram a luz do dia. Também ainda não esquecemos a “excelente” reforma do Estado que Paulo Portas prometeu e que ainda ninguém viu e talvez ainda bem (considerando que, para o Governo, reformas é igual a mais cortes).
Vem agora o secretário de Estado-adjunto do ministro-adjunto com o seu programa “VEM” – sem saber explicar quantas pessoas prevê abranger (dezenas? centenas? milhares?), que verbas disponíveis estão destinadas a este programa e de onde sairá o dinheiro para sustentar a iniciativa (com o País a crescer economicamente uma décimas) – prometer que o Governo vai diferenciar-se de todos os anteriores, porque antes não havia nada para ajudar os emigrantes a regressar (só mesmo a sair).
O senhor Lomba ainda não percebeu que a única coisa que faria muitos dos novos – e menos novos – emigrantes regressarem ao País seria o bom desenvolvimento económico do mesmo, proporcionando empregos sólidos e remunerações adequadas. Pensar que o emprego conseguido no estrangeiro, remunerado três ou quatro vezes mais do que em Portugal, possa ser substituído por um subsídio de uma dezena de milhares de euros, para criar um emprego mítico no País (a produzir o quê? para vender a quem? com que custos de produção? com que tipo de impostos?), é no mínimo um exercício patético do governante (adjunto), ou uma tentativa de classificar os emigrantes de patetas, incapazes de confundirem a triste realidade que se vive no seu país com mais uma promessa sem o essencial conteúdo.
Poder-se-ia pensar que este programa “VEM” se destinava a um grupo selectivo de emigrantes (os “bons”) mas, a avaliar pelos salários que os técnicos mais competentes auferem fora do País e as condições de actividade e de progresso profissional que Portugal lhes pode actualmente oferecer, a sua resposta ao “VEM” será, necessariamente, “não vou!”.
E se o senhor Lomba tem dúvidas do que aqui afirmamos, basta-lhe falar com o seu antigo correlegionário Carlos Moedas, antigo secretário de Estado de Passos Coelho, actual comissário da Comissão Europeia, engenheiro civil, economista (negociou com Catroga, pelo PSD, o Orçamento de Estado do PS para 2011 – ano do início da nossa austeridade) e banqueiro (trabalhou no célebre Goldman Sachs e para os nossos “amigos” do Deutsche Bank), e decerto tira as dúvidas, se é que as tem!?
Quando este mesmo “especialista”, de nome Moedas, foi recentemente interrogado sobre se voltaria à vida política em Portugal, depois de acabar o seu mandato na União Europeia, limitou-se a responder: «Todos devemos ter fases na vida em que damos o nosso melhor para o bem público, mas depois temos de olhar para as nossas famílias» (vulgo, moedas, direi eu).
Citando o tão famigerado programa “VEM” e a pensar nas famílias e nos tão necessários euros para as sustentar, apetece-me terminar com o refrão da “obra prima-pimba” mais conhecida e angustiante de Graciano Saga: “Vem devagar emigrante”.
“Venham todos devagar
há tempo para cá chegar
e abraçar Portugal”
Luis Barreira