TIMOR-LESTE RECEBE O PAPA FRANCISCO NO INÍCIO DE SETEMBRO

TIMOR-LESTE RECEBE O PAPA FRANCISCO NO INÍCIO DE SETEMBRO

Visita papal é expressão de amor e injecção de esperança

O Papa Francisco vai visitar Timor-Leste nos dias 9, 10 e 11 de Setembro, confirmou a Santa Sé no final da passada semana. A deslocação do Sumo Pontífice à mais jovem nação do continente asiático materializa-se ao abrigo de um périplo de dez dias – o mais longo de Francisco até ao momento – que leva o líder máximo da Igreja Católica a quatro nações do Sudeste Asiático, entre 3 e 13 de Setembro.

Para além de Timor-Leste, o Papa Francisco visita a Indonésia, de 3 a 6 de Setembro, a Papua-Nova Guiné, entre 6 e 9, concluindo aquela que poderá ser a sua última deslocação ao Extremo Oriente em Singapura, nos dias 11, 12 e 13.

A visita de Francisco a Timor-Leste ocorre 35 anos depois da última passagem de um Papa pelo território. Em 1989, aquando da visita de João Paulo II, Timor-Leste ainda estava ocupado militarmente pela Indonésia, mas a breve visita efectuada a Díli pelo Papa polaco, a 12 de Outubro, é recordada unanimemente como um momento fulcral na história da luta pela auto-determinação do povo timorense. Com a deslocação a Timor-Leste, João Paulo II colocou a pequena nação, flagelada por anos de sofrimento e opressão, no mapa da política mundial.

Para os católicos timorenses, a importância da visita apostólica do Papa Francisco ao País só pode ser vivida em toda a sua plenitude, se for tido em conta o legado da passagem de Karol Wojtyla por Timor e as palavras que proferiu em Tassi-Tolu. «Se a primeira visita, a que foi efectuada por São João Paulo II, foi entendida como uma forma de solidariedade para com o sofrimento do povo de Timor e como uma forma de apoio à causa da independência e da auto-determinação, esta visita, muito seguramente, será vista como uma expressão do amor da Igreja universal e do Papa pelo povo de Timor», defendeu o padre Plácido Téofilo Freitas, SDB, professor do Instituto Filosófico de São Francisco de Sales, em Díli. «O povo timorense tem muito orgulho da sua vivência católica e considera que o seu país foi abençoado pelo Senhor, ao ponto de ser referir a Timor-Leste como terra de Santa Cruz. Deste ponto de vista, a visita do Papa Francisco vai, seguramente, reforçar a identidade do povo de Timor como uma nação católica; fortalecer a ligação entre o Estado Timorense, o Vaticano e a Igreja Católica; e revigorar o sentimento de afecto que o povo nutre em relação ao Papa e ao Estado do Vaticano», disse o sacerdote salesiano, em declarações a’O CLARIM.

Agostinho Martins afina pelo mesmo diapasão. Radicado em Macau há mais de duas décadas e fundador de duas associações de matriz timorense, Agostinho acredita que a exemplo do que fez João Paulo II em 1989 a visita do Papa Francisco pode constituir uma injecção de esperança para uma nação e um povo que abraçaram a liberdade, mas que ainda não conseguiram enterrar o espectro da pobreza e do subdesenvolvimento. «A primeira visita, a do Papa João Paulo II, foi uma visita muito importante, que abriu o horizonte dos timorenses para a possibilidade de um outro panorama político. Em grande medida, abriu as portas à auto-determinação e à independência do País. Foi uma visita que ocorreu numa altura em que Timor estava mergulhado numa escuridão brutal. O que São João Paulo II fez foi abrir uma nesga de luz, que permitiu colocar Timor no mapa», argumentou Agostinho.

Para ele, «a visita do Papa Francisco ocorre num contexto social muito mais privilegiado e constitui uma grande bênção para todos, ainda que ao longo dos últimos vinte anos os nossos líderes não se tenham conseguido entender uns aos outros. Timor é um país independente, mas o povo ainda não se conseguiu livrar totalmente da escuridão. A maior parte dos líderes timorenses são humildes. Espero que estejam atentos à mensagem do Papa e que possam voltar a olhar para Timor como um país de futuro, que voltem a ousar querer colocar Timor ao nível de Singapura, Hong Kong ou Macau. Espero que o Papa abra as perspectivas necessárias para que os nossos líderes reflictam sobre a forma como podem ajudar o País a crescer e a melhorar as condições de vida do povo timorense».

REDESCOBRIR A ESSÊNCIA DA FÉ

Na homilia que proferiu a 12 de Outubro de 1989 nos arredores de Díli, João Paulo II apelou ao respeito pelos direitos da família, falou em concórdia, paz e amor, e apelou aos católicos timorenses para assumirem, no continente asiático, o estatuto de «sal da terra e luz do mundo». Encimado por um monumento em memória do Papa polaco, o descampado de Tassi-Tolu vai servir de púlpito também ao Papa Francisco. O padre Plácido espera do Sumo Pontífice uma homilia igualmente catalisadora, que possa impelir o povo timorense para a redescoberta da sua religiosidade e para uma vivência plena da mensagem do Evangelho. «A visita do Papa pode configurar para uma oportunidade para que a Igreja possa reclamar de novo o seu papel como guia espiritual, moral e até social junto do povo de Timor, sobretudo neste período de grandes mudanças sociais e políticas. A visita do Papa pode constituir ainda uma ocasião para que as pessoas se possam interrogar sobre o que é ser cristão e timorense. O lema escolhido para a visita – “Que a vossa fé seja a vossa cultura” – sublinha a importância desta interrogação», sublinhou o padre Plácido, que recentemente completou o Doutoramento em Filosofia, na Universidade Pontifícia Salesiana, em Roma. «Este lema, que coloca frente-a-frente fé e cultura, merece ser tido em consideração. Em Timor, a questão da inculturação nunca foi devidamente enfatizada. É uma circunstância compreensível, uma vez que ao contrário do que acontece em países vizinhos, como a Indonésia, que herdaram tradições religiosas e seculares de grande envergadura, Timor nunca conheceu nenhuma outra tradição religiosa que não o Cristianismo. É por isso que a questão da inculturação não se coloca. No entanto, há uma outra interrogação que se faz premente e que deve ser feita: “Será que em Timor existe mesmo uma cultura cristã?”».

A cinco meses de distância, os preparativos para a visita do Papa Francisco já estão em curso. A obra para a construção do palco onde o Papa vai celebrar Missa, em Tasi Tolu, foi lançada na quarta-feira pelas autoridades timorenses e pelo representante da Santa Sé em Timor-Leste, monsenhor Marco Sprizzi.

Marco Carvalho

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