Educar é ensinar a “dar a vida” pelos outros
«Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas» (Jo., 10, 11)
Nestas últimas semanas, ouvimos a narração dos Actos dos Apóstolos sobre o aumento constante dos baptizados na nova comunidade de crentes. Mas também ficámos a saber que a missão da Igreja primitiva foi muitas vezes confrontada com oposição e até perseguição. O Novo Testamento sublinha o facto de que, longe de desanimarem, os discípulos se aperceberam de que Jesus não os abandonou depois da Sua ressurreição; pelo contrário, continuou a estar presente e deu-lhes força e coragem para enfrentarem as adversidades. O que Jesus lhes tinha dito durante a Sua vida terrena, “Eu sou o bom pastor”, permaneceu nas suas mentes e nos seus corações. Não é de admirar que, entre as primeiras representações visuais de Jesus nas catacumbas, durante as ferozes perseguições dos imperadores romanos, as mais comuns fossem as imagens de Jesus como o Bom Pastor, carregando um cordeiro aos ombros.
Hoje em dia, perante este mundo perigoso, também nós precisamos do Bom Pastor para nos conduzir e guiar a pastos cada vez mais verdejantes e a águas vivas e correntes, como proclama o Salmo 23, e para nos proteger de todo o mal e de todo o perigo. Figurativamente, num momento de perigo ou na hora da nossa morte. Mas também, literalmente, porque o planeta está a morrer e precisamos de Cristo Ressuscitado para guiar a Humanidade para um futuro “mais verde”, onde o respeito pela dignidade do Ser Humano se alia ao respeito pela Natureza.
Tradicionalmente, o 4.º Domingo depois da Páscoa é chamado de Domingo do Bom Pastor e rezamos pelas vocações para a vida sacerdotal e consagrada. Todo o bom pastor conduz, alimenta, nutre, conforta, corrige e protege o seu rebanho – responsabilidades que, de um modo particular (mas não exclusivo), pertencem ao Clero e às pessoas consagradas.
No Evangelho deste Domingo (Jo., 10, 11-18), Jesus especifica o que constitui um “bom pastor”, ou seja, a disponibilidade para “dar a vida pelas ovelhas”. Esta observação importante não pode ser tomada como garantida no nosso período histórico, caracterizado por uma crise de liderança a todos os níveis. Vemos como a autoridade, seja nas grandes estruturas ou nas famílias, é utilizada para perseguir interesses próprios, exactamente como o “mercenário”, mencionado por Jesus, que não está tão interessado no bem-estar das ovelhas, mas apenas no seu próprio. Jesus, pelo contrário, sabe exactamente do que as ovelhas precisam porque, paradoxalmente, é simultaneamente pastor e ovelha. Ele é o “Cordeiro de Deus” oferecido na cruz para a redenção do mundo: «Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e sou conhecido por elas» (versículo 14).
Todos os baptizados são chamados a tornar-se, de uma forma ou de outra, pastores, porque todos nós partilhamos uma vocação comum: cuidar dos outros. Normalmente, tornamo-nos pastores através da nossa profissão e da nossa vida relacional, especialmente na família.
Dirijo uma aula semanal de partilha da Bíblia com alguns professores. Fico muitas vezes surpreendido com a forma como o Evangelho está intimamente relacionado com a profissão de professor e com a educação em geral. De certa forma, Jesus formou os Apóstolos para se tornarem verdadeiros educadores e, por conseguinte, pastores amorosos.
Jesus, por medo, não ensinou os Apóstolos a ficarem num lugar seguro, longe do perigo. Em vez disso, enviou-os para os quatro cantos do mundo, um lugar que Ele sabia que lhes seria hostil. Enviou-os para interagir com as ovelhas que ainda não pertenciam ao Seu rebanho (versículo 16). É exactamente isto que os bons professores e outros educadores costumam fazer: para além de alertarem os alunos para os perigos a evitar e, eventualmente, de os protegerem do que lhes pode fazer mal, devem também dotar os alunos da sabedoria e das competências necessárias para tomarem boas decisões com espírito de iniciativa, o que pode incluir correr riscos. A palavra “Educação” deriva da palavra latina “e-ducere”, que significa “conduzir para fora”. Um bom educador deve encorajar os seus alunos a saírem das suas zonas de conforto e a serem capazes de correr riscos.
O mesmo se pode dizer dos pais. Embora seja natural querer proteger os filhos da dor, do fracasso e do perigo, também é importante compreender que essas experiências são cruciais para o seu crescimento. Os pais são bons pastores não só quando protegem e orientam os filhos, mas também quando permitem que os filhos corram riscos e assumam a responsabilidade pelos seus actos, o que significa expô-los a algum grau de sofrimento.
Mas a disponibilidade para dar a vida pelos outros é algo que os jovens deveriam ver em primeiro lugar nos seus educadores, na paixão e no empenhamento que colocam na sua profissão e na sua vida. Só então os jovens se tornarão mais sensíveis para compreender a que vocação o Cristo Ressuscitado, o Bom Pastor, os chama.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ