O que podemos aprender com a oração de Abraão?
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC) indica que encontramos modelos de oração na Sagrada Escritura. Um deles é Abraão. “Abraão é um modelo de oração porque caminha na presença de Deus, O escuta e Lhe obedece” (CCIC nº 536).
NA PRESENÇA DE DEUS –A oração requer caminhar na presença de Deus, lembrando-se constantemente de que Deus está connosco. Ele mesmo Se aproxima e caminha connosco (cf. Lc., 24, 15). Onde quer que estejamos, o que quer que estejamos a fazer, é nesse ambiente que ouviremos a voz de Deus.
OUVIR E OBEDECER –Orar requer ouvir e obedecer porque Deus fala primeiro. É Ele quem inicia a conversa. “Ele antecipa-Se a procurar-nos” (Catecismo da Igreja Católica nº 2560) – o mesmo é dizer que “É Ele quem primeiro nos procura”, mesmo quando chafurdamos no pecado.
«Mas o SENHOR Deus convocou o homem [Adão], indagando: “Onde é que estás?”» (Génesis 3, 9). «Então o SENHOR veio a Abraão e lhe ordenou: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e dirige-te à terra que te indicarei! Eis que farei de ti um grande povo: Eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; serás tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar. Por teu intermédio abençoarei todos os povos sobre a face da terra!”» (Génesis 12, 1-3). Uau! Incrível! Mas Abraão não pede nenhuma prova ou garantia de Deus. «Então partiu Abraão como o orientara o SENHOR, e Ló o acompanhou. Abraão tinha setenta e cinco anos de idade» (Génesis 12, 4). Qualquer pessoa com esta idade teria provavelmente desistido e sugerido que o Senhor encontrasse um candidato mais jovem. Mas Abraão “ouviu e obedeceu” (cf. CCIC nº 536). Ele apenas fez o que o Senhor lhe disse.
FÉ –“A sua oração é um combate da fé, porque ele continua a crer na fidelidade de Deus mesmo nos momentos de provação” (CCIC nº 536). Ele “continuava a acreditar” que Deus lhe enviaria o filho que havia prometido. Abraão esperou 25 anos e já tinha cem anos quando Isaque nasceu (cf. Génesis 17, 17)! No entanto, este não foi o último teste de fé.
«Passados esses acontecimentos, Deus submeteu Abraão a uma prova, convocando-o: “Abraão! Abraão!” Ao que ele redarguiu: “Eis-me aqui, Senhor!” Então Deus lhe ordenou: “Toma Isaque, teu filho, teu único filho, a quem tu muito amas, e vai-te à terra de Moriá. Sacrifica-o ali como holocausto, sobre um dos montes, que Eu te indicarei!”. Abraão levantou-se bem cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de seus servos e seu amado filho Isaque. Ele ainda rachou a lenha para o holocausto e se pôs a caminho rumo ao lugar que Deus havia mostrado» (Génesis 22, 1-3). Sabemos como a história termina, mas Abraão deve ter sofrido muita angústia no seu coração enquanto lutava para cumprir as instruções de Deus e “continuava a acreditar” que algo de bom disso resultaria.
INTERCESSÃO –“Além disso, depois de receber na sua tenda a visita do Senhor, que lhe confia os seus desígnios, Abraão ousa interceder pelos pecadores, com audaciosa confiança” (CCIC nº 536).
«Abraão chegou um pouco mais perto e indagou: “Destruirás o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Destruirás e não perdoarás a cidade por amor aos cinquenta justos que estão em seu seio?” Então lhe assegurou o SENHOR: “Se Eu encontrar cinquenta justos em Sodoma, perdoarei toda a cidade por amor a eles!” Argumentou Abraão: “Eu me atrevo a falar ao meu Senhor, eu que sou poeira e cinza. Contudo é possível que faltem cinco para completarem os cinquenta justos; por causa de cinco pessoas destruirás toda a cidade?” Ele replicou: “Não, se Eu encontrar quarenta e cinco justos”» (Génesis 18, 23-24; 26-28). Então Abraão implorou por quarenta, depois trinta, até dez, e Deus prometeu que pouparia a cidade por causa de dez (Génesis 18, 32). Infelizmente, Ele não encontrou dez homens justos.
Pe. José Mario Mandía