DOMINGO DE PENTECOSTES – Ano A – 28 de Maio

DOMINGO DE PENTECOSTES – Ano A – 28 de Maio

Vem, Espírito Santo, e conduz-nos para fora dos nossos esconderijos!

Por todo o Japão, estima-se que quase 1,5 milhões de pessoas se tenham auto-excluído da sociedade, levando uma vida reclusa, isto é, em grande medida confinada às paredes das suas casas. O termo japonês para identificar estas pessoas é “hikikomori”, ou reclusos. Infelizmente, este fenómeno está a alargar-se à escala global. Especialistas dizem que as causas rastreadas estão relacionadas com problemas psicológicos, depressão e ansiedade, embora factores sociais também desempenhem um papel preponderante, tais como a exigente cultura do trabalho e os efeitos colaterais das restrições impostas durante a pandemia de Covid-19. Os media sociais também têm vindo a aumentar a nossa percepção do mundo como sendo um lugar perigoso a evitar, o que favorece a concepção mental de realidades virtuais, que não sendo reais são mais controláveis, aparentemente.

O Evangelho de hoje da Solenidade de Pentecostes (Jo., 20, 19-23) descreve os Apóstolos em total isolamento após a traumática crucificação de Jesus. Eles estão assustados e confusos. Sentiram o perigo em todos os lugares. O Cristo Ressuscitado não apenas penetrou nas paredes da sala em que eles estavam abrigados, mas mais importante: Ele soprou o Espírito Santo sobre eles e os expulsou do seu esconderijo. Não sabemos se todos os seus medos desapareceram instantaneamente: provavelmente não, porque não foram transformados magicamente em super-heróis invencíveis. Todos permaneceram humanos e frágeis, necessitando sempre da Graça. Mas o que sabemos é que depois de receberem o Espírito Santo, tiveram a coragem suficiente para aceitar a missão de Cristo de levar o Evangelho à Humanidade, de saírem das suas zonas de conforto e de enfrentarem o mundo nos seus aspectos positivos e negativos. Estes primeiros passos acabaram por os transportar aos cantos mais distantes do mundo.

Sempre que há uma efusão do Espírito Santo, há uma “abertura” e uma “saída”. O Novo Testamento está cheio de exemplos: ao receber o Espírito Santo, a Virgem Maria, grávida de Jesus, vai imediatamente visitar Isabel. Após a descida do Espírito Santo sobre Jesus durante o Seu baptismo, ali começou o Seu ministério público. Após o derramamento do Espírito Santo durante o Pentecostes, os discípulos foram enviados ao mundo inteiro para anunciar o Evangelho a toda criatura. Podemos ver facilmente como todos os eventos principais que celebramos durante este Tempo Pascal, nomeadamente a Ressurreição de Cristo, a Sua Ascensão, o envio dos discípulos ao mundo e a efusão do Espírito Santo no Pentecostes estão tão interligados que, quando um deles é negligenciado, facilmente a fé se torna superficial e frágil.

Nos primeiros meses do ano, o Papa Francisco deu uma série de catequeses intituladas “A Paixão pela Evangelização”. Na primeira, a 11 de Janeiro de 2023, explicou que o Espírito Santo molda a Igreja exteriormente, fazendo-a ser uma “Igreja que sai, que sai”. Quando a Igreja não evangeliza, adoece: fecha-se em si mesma, auto-exclui-se e atrofia. Naquele dia, o Papa usou um termo que lembra o “hikikomori” de que falamos no início do artigo: uma Igreja de cristãos “fechados” que não pensam nos outros.

O Espírito Santo é o que precisamos para curar esta maneira doentia de viver a nossa fé. Às vezes pensamos no Espírito Santo apenas como uma energia especial que traz alívio para as nossas dores e dificuldades pessoais, mas Ele é muito mais do que isso. O Espírito Santo é o próprio Deus que se torna tão íntimo de nós que a vida de Deus se torna a nossa própria vida, e a visão de Deus para o mundo se torna a nossa visão do mundo. Através do Espírito Santo, somos inseridos no fluxo de amor que vai de Deus para o mundo inteiro. O Espírito Santo nos une a todos em Deus, mas também uns aos outros como irmãos e irmãs em Cristo. O resultado é que quanto mais profunda for a nossa relação com Deus, mais livres nos tornamos para nos abrirmos aos outros.

Todos nós – inclusivamente eu – muitas vezes corremos o risco de reduzir a nossa vida de fé a um assunto pessoal “entre mim e Deus” e de nutrirmos uma espiritualidade individualista que só se preocupa com o bem-estar pessoal, seja corporal ou espiritual. Embora o bem-estar seja, sem dúvida, importante, já que cada pessoa é a união do corpo com o espírito, não podemos considerar egoisticamente apenas os nossos próprios interesses, pois estamos todos interligados. Somente quando nos deixamos inserir no movimento de amor ao mundo, inaugurado pelo Espírito Santo no Pentecostes, é que também nos sentiremos melhor connosco e viveremos com mais propósito e significado.

O bispo de Macau, D. Stephen Lee, inaugurou recentemente o Ano das Vocações para encorajar os jovens a responder generosamente ao chamamento de Deus. O Papa Francisco lembra-nos, frequentemente, que a vocação é “um chamado ao serviço missionário aos outros. O Senhor chama-nos a participar na sua obra criadora e a contribuir para o bem comum com os dons que recebemos. […] Porque a nossa vida terrena atinge a plenitude quando se torna oferenda”. (Christus Vivit, 253-254). Que o Espírito Santo inspire cada um de nós, e não apenas os jovens, a viver assim!

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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