Qual a diferença entre virtudes cardeais e morais?
As virtudes cardeais são virtudes morais fundamentais. “Cardeal” vem do Latim “cardo”, que significa “dobradiça”. Diz o Catecismo da Igreja Católica: “Há quatro virtudes que desempenham um papel de charneira. Por isso, se chamam ‘cardeais’; todas as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. «Se alguém ama a justiça, o fruto dos seus trabalhos são as virtudes, porque ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza» (Sb., 8, 7). Com estes ou outros nomes, estas virtudes são louvadas em numerosas passagens da Sagrada Escritura” (CIC nº 1805).
Sigamos, pois, o Catecismo da Igreja Católica (de 1806 a 1809) para compreendermos o que são cada uma das referidas virtudes cardeais e o que elas fazem:
“A prudênciaéa virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir. «O homem prudente vigia os seus passos» (Pr., 14, 15). «Sede ponderados e comedidos, para poderdes orar»(1 Pe., 4, 7). A prudência é a ‘recta norma da acção’, escreve São Tomás, seguindo Aristóteles. Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada‘auriga virtutum – condutor das virtudes’, porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida. É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar” (CIC nº 1806).
“A justiçaé a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se ‘virtude da religião’. Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum. O homem justo, tantas vezes evocado nos livros santos, distingue-se pela rectidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo. «Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não favorecerás o pobre, nem serás complacente para com os poderosos. Julgarás o teu próximo com imparcialidade» (Lv., 19, 15). «Senhores, dai aos vossos escravos o que é justo e equitativo, considerando que também vós tendes um Senhor no céu»(Cl., 4, 1)” (CIC nº 1807).
“A fortalezaé a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições. Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa. «O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória»(Sl., 118, 14). «No mundo haveis de sofrer tribulações: mas tende coragem! Eu venci o mundo!»(Jo., 16, 33)” (CIC nº 1808).
“A temperançaé a virtude moral que modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração. A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: «Não te deixes levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites»(Sir., 18, 30). No Novo Testamento, é chamada ‘moderação’, ou ‘sobriedade’. Devemos «viver com moderação, justiça e piedade no mundo presente»(Tt., 2, 12)” (CIC nº 1809).
“Viver bem é amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o proceder […], de tal modo que se lhe dedica um amor incorrupto e íntegro (pela temperança), que mal algum poderá abalar (fortaleza), que a ninguém mais serve (justiça), que cuida de discernir todas as coisas para não se deixar surpreender pela astúcia e pela mentira (prudência)” (Santo Agostinho, De moribus Ecclesiae catholicaee outros).
UM HOMEM NATURALMENTE VIRTUOSO PRECISA DE GRAÇA?
A vida sobrenatural precisa de virtude sobrenatural. A virtude natural não é suficiente. Mas um homem naturalmente virtuoso está em melhor posição para receber a virtude sobrenatural. Dois pontos do Catecismo da Igreja Católica explicam-no:
“As virtudes humanas, adquiridas pela educação, por actos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o carácter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz ao praticá-las” (CIC nº 1810).
“Não é fácil, ao homem ferido pelo pecado, manter o equilíbrio moral. O dom da salvação, que nos veio por Cristo, dá-nos a graça necessária para perseverar na busca das virtudes. Cada qual deve pedir constantemente esta graça de luz e de força, recorrer aos sacramentos, cooperar com o Espírito Santo e seguir os seus apelos a amar o bem e acautelar-se do mal” (CIC nº 1811).
Pe. José Mario Mandía