«É importante que as pessoas vivam mais tempo, mas sobretudo que sejam mais saudáveis e mais felizes»
Uma colaboração entre a Indústria e a Academia, em matéria de I&D, foi oficializada no passado sábado, dia 19 de Outubro. O complexo hoteleiro Wynn Palace foi palco da cerimónia de assinatura de um memorando de entendimento, que contou com a presença de representantes da “Universidade de São José – KongHon Academy of I&D em Nutrição Celular e Saúde”, do “Grupo de Desenvolvimento de Tecnologia Biomédica Macau KongHon” e da “Huajian Pharmaceutical”. O professor Paulo Quaresma, vice-reitor da Universidade de Évora, em Portugal, foi convidado para testemunhar a assinatura do memorando de entendimento. Em declarações a’O CLARIM, manifestou a sua admiração pelo projecto de Nutrientes Celulares KB-120, e revelou a possibilidade de, no futuro, este projecto inovador poder entrar na Europa.
No início deste ano, foi inaugurada a “Academia USJ-KongHon”, que apresentou oficialmente o modo como a investigação e o desenvolvimento dos Nutrientes Celulares KB-120 podem ser aplicados à Biomedicina. De acordo com Jacky Ho, vice-director da “Academia USJ-KongHon”, existem duas vertentes do significado da sigla “KB”, nomeadamente, “Biotecnologia de Kong” ou “Manter o equilíbrio” (na Saúde). Quanto ao número “120”, baseia-se na investigação realizada por Leonard Hayflick, na década de 1960, segundo a qual as células humanas podem dividir-se cerca de cinquenta vezes. Por outras palavras, os seres humanos podem, eventualmente, vir a viver cerca de 120 anos. Espera-se que os produtos desenvolvidos com a tecnologia “KB-120” possam trazer melhorias transformadoras para a saúde humana.
O CLARIM – Por que razão a Universidade de Évora e a Universidade de São José decidiram colaborar no projecto KB-120?
PAULO QUARESMA – Já temos esta colaboração com a USJ há alguns anos, mas principalmente colaborações ditas comuns, em áreas como a mobilidade de estudantes e professores, e alguns projectos conjuntos. Contudo, quisemos reforçar esta colaboração, porque acreditamos que este tipo de parceria tem um papel importante no aumento da ligação entre Macau, a China continental e outros países de língua portuguesa. Em conversa com o professor Zhang Shuguang, vice-reitor para os Assuntos Externos e Desenvolvimento Institucional da USJ, fiquei a conhecer o KB-120, que é mais do que um produto de saúde, é um projecto. Estudei os dados científicos que foram publicados e considero-o muito promissor e interessante. Um dos resultados do KB-120, de facto, lida com uma situação aqui em Macau e na China continental, que é já um desafio: o envelhecimento da população. Em Portugal e na minha região, o Alentejo, este é também um grande desafio. É importante que as pessoas vivam mais tempo, mas sobretudo que sejam mais saudáveis e mais felizes. Este tem sido o principal desafio, até porque – pelo que tenho visto e ouvido – nem todas as pessoas com uma vida mais longa têm essa capacidade. No entanto, depois de ter ouvido as explicações dos especialistas, penso que o KB-120 é muito promissor. E foi assim que começámos a discutir a colaboração entre as duas Universidades, uma vez que isto é muito importante para Portugal e para toda a Europa. O professor Zhang efectuou uma série de contactos e preparativos com o objectivo de irmos a Xangai, onde visitámos o laboratório de pesquisa, o qual me deixou muito impressionado. Depois de avaliar os resultados científicos que me disponibilizaram, conclui que este projecto está sustentado em provas científicas, o que é muito importante. Actualmente, o projecto ainda está em fase de desenvolvimento, pelo que ainda não está concluído, embora já haja alguns resultados pré-clínicos, muito promissores e impressionantes. Espero que este projecto possa ser expandido para Portugal. Talvez se consiga obter algum tipo de certificação, para que não seja apenas classificado como suplemento, mas como um produto da Biomedicina. Ou seja, vai exigir tempo, esforço e custos, pois há ensaios clínicos a realizar no contexto da Biomedicina. Veremos que possibilidades nos oferece esta colaboração.
CL – Há Faculdade de Medicina na Universidade de Évora?
P.Q. – Sim, há! Mas com o nome de Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano, onde são leccionados os cursos de Medicina e Ciências da Saúde. A Escola é muito recente, foi criada há poucos anos. A Universidade em si é antiga – a Universidade de Évora é a segunda Universidade mais antiga de Portugal – e continuamos a fomentar o seu crescimento, dentro das possibilidades que vamos tendo. O Governo [de Portugal] está a construir um novo e grande hospital central em Évora, logo é importante que a nossa Universidade tenha Medicina e outros cursos relacionados com a Saúde. Com este enquadramento, há potencial para o KB-120 agregar tecnologias de Saúde, empresas de Saúde, farmacêuticas e outras empresas de investigação. Apesar de Portugal e Macau estarem muito longe, acredito que ainda podemos trabalhar neste domínio em estreita colaboração com a USJ.
CL – Qual a importância da Universidade de Évora para a cidade de Évora?
P.Q. – Eu diria que sem a Universidade, a cidade seria completamente diferente. Na Universidade de Évora circulam cerca de dez mil pessoas, entre estudantes, professores e funcionários. Toda a cidade de Évora tem uma população de quarenta mil pessoas, pelo que a Universidade em si já representa quase um quarto da população total da cidade.
CL – Macau e Évora têm em comum serem Património Mundial da UNESCO. Que vantagens esta classificação deu a Évora em termos sociais, académicos, urbanísticos e turísticos?
P.Q. – Entre outros aspectos, penso que a classificação “Património Mundial da UNESCO” também liga Évora e Macau. Temos recebido muitos turistas de Macau e, claro, de outras partes da China continental. A pandemia provocou uma diminuição drástica no número de turistas, mas os números estão a aumentar. Espera-se que haja mais, porque Évora foi seleccionada para Capital Europeia da Cultura em 2027. Daí que dentro de dois anos vá atrair e acolher muitos eventos culturais. A Capital Europeia da Cultura é um grande evento, e vai durar um ano inteiro. Acredito que a colaboração com a USJ também pode ajudar na ligação com Macau.
CL – A diocese de Macau e a arquidiocese de Évora têm uma larga tradição na História da Igreja Católica em Portugal. É sabido que do Alentejo partiram muitos navegadores e missionários para a Ásia. Este espólio histórico material e imaterial tem sido aproveitado por Portugal?
P.Q. – Acabo de saber que temos alguns professores que se dedicam ao estudo da presença dos portugueses em Macau. Sei que alguns dos jesuítas do Século XVI vieram para Macau. Originalmente eram de todo o lado, mas temos os nomes e descobrimos que estudaram na Universidade de Évora e depois vieram para Macau. Seria interessante reconstituir o percurso desses jesuítas e compreender o papel que tiveram em Macau.
CL – A Universidade de Évora é uma das mais antigas de Portugal. Que mais-valias podem ter os jovens de Macau se preferirem estudar em Évora (uma cidade muito ligada ao mundo rural), ao invés de Lisboa, Porto ou mesmo Coimbra?
P.Q. – Começando pela cidade, Évora é uma cidade pequena, com cerca de quarenta a cinquenta mil habitantes, o que é uma das razões – creio eu – muito boas para os jovens estudantes. Estão numa espécie de ambiente “não controlado”, mas ao mesmo tempo num ambiente pequeno, restrito e acolhedor; e é comparativamente mais segura, num certo sentido. Mais: numa cidade tão pequena, os estudantes e os professores podem encontrar-se facilmente, e este tipo de relação afectiva é muito diferente, quando comparado com outras realidades. Évora é também um centro histórico, o que torna a cidade um local muito agradável; a Universidade, por exemplo, está rodeada pelas muralhas do castelo. É como se os estudantes, assim que chegassem, já estivessem a visitar locais históricos.
Jasmin Yiu