SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ (EDITH STEIN):

SANTA TERESA BENEDITA DA CRUZ (EDITH STEIN): FILÓSOFA, FREIRA CARMELITA, CRISTÃ

Fé e Razão: asas para a Verdade

Nascida em Breslau, na Alemanha (hoje Wrocław, Polónia), numa família judaica praticante em 1891, Edith Stein abandonou a sua fé no Judaísmo quando adolescente. Mais tarde, tornou-se aluna directa de Edmund Husserl, o fundador da Fenomenologia. Em 1921, foi atraída pelo Catolicismo depois de ler a autobiografia de Santa Teresa de Ávila em casa da sua amiga Hedwig Conrad-Martius. Esta mulher havia recebido permissão para ser a madrinha de Stein em 1922, apesar de ser luterana. Stein tornou-se finalmente freira carmelita em 1934, passando a ser conhecida como Irmã Teresa Benedita da Cruz. Foi gaseada em Auschwitz, em 1942.

Edith Stein foi canonizada em Outubro de 1998 pelo Santo Padre João Paulo II, sendo esta santa um dos seis patronos da Europa. Em Setembro do mesmo ano foi promulgada a carta encíclica Fides et Ratio(Fé e Razão). Logo na abertura, refere o documento: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”. Stein seria pessoa que encarnava perfeitamente as referidas “duas asas” na vida real. Assim, apresentamos-vos os três papéis diferentes assumidos por Edith Stein, como, aliás, diz o antetítulo do artigo. Ela ascende à “contemplação da verdade” por meio das “duas asas”. Esta reflexão induz-nos a questionar: De que forma Fé e Razão se integram na nossa vida cristã?

Stein nunca deixa para trás a sua formação filosófica. Embora não seja fácil explicar o seu trabalho filosófico em poucas palavras, podemos afirmar o seguinte: cada pessoa é única! Ou seja, não somos apenas um espécime da Humanidade ou definidos como seres racionais. Se o fossemos, dizer “eu” não faria sentido, pois outros “eu”(s) poderiam substituir o meu “eu”. A filosofia de Stein quer enfatizar que cada pessoa é irrepetível. Neste caso, em termos morais, a verdade sobre o bem deve ser recebida de dentro da pessoa, não de modo coercivo ou imposto de fora. Uma boa regra não é como descarregar uma aplicação (App) da nuvem (Cloud) para o telemóvel. Cada pessoa é universalmente uma espécie no mundo e tem a sua própria dignidade individual. Este ponto não conduz ao individualismo ou relativismo. Antes pelo contrário, faz com que uma pessoa experimente o bem em vez dele duvidar. Nos seus escritos, Stein restaurou o valor da pessoa enquanto construção social: um instrumento para construir aquilo que é o bem socialmente aprovado. Resumindo: uma pessoa humana pode experimentar o que é bom a partir de dentro de si mesma.

Sendo uma filósofa activa tornou-se mais tarde freira carmelita enclausurada, tendo a relação com Deus desempenhado um papel fundamental na sua conversão. A Filosofia pode provar que Deus existe, mas só através de uma vida de oração se pode estabelecer uma relação pessoal com Deus. À época, o elemento contemplativo pôde ter influenciado largamente a vida carmelita de Stein. Mas não pense, o leitor, que uma tal vida está longe de ser alcançada por qualquer um de nós. Um breve momento de oração ou de diálogo com Deus, ajoelhados num banco, pode o início de uma vida contemplativa. Alguns conduzem ou determinam a sua vida pelo constante prolongar deste tipo de momento – são os chamados contemplativos. Mas alguns podem encará-lo como uma aplicação (App), usando-a como bem entenderem. Como cristãos leigos, podemos estar ocupados a tomar conta da família e embrenhados no trabalho. Pensamos muitas vezes que viver uma vida monástica é irrealista. Mas tal não é verdade. A vida cristã e a vida quotidiana não devem ser separadas em duas partes. Não há ninguém que possa passar de um cristão “desarmado” aos Domingos para um cristão “armado” aos dias de semana. A fonte da nossa vida cristã é a oração. A conversão de Stein a carmelita revela como a relação com Deus deve ser construída na oração. A contemplação deve tornar-se – nas palavras de Teresa – a água da chuva que floresce a relação com Deus.

As vidas contemplativa e activa não devem ser colocadas em oposição uma da outra; o mesmo acontece com a Fé e a Razão. Não rezamos àquele “deus” que é somente uma ideia ou uma imagem criada na minha mente. Mas sim ao verdadeiro Deus que connosco gosta de ter uma relação pessoal. Quando duas pessoas estão numa relação, particularmente numa relação de amor, tendem a ser semelhantes uma à outra. No caso em concreto, para a tal relação com Deus, precisamos de levar uma vida de oração. Porque a Fé é o único canal para lá entrar. São João da Cruz, frade carmelita, sugeriu certo dia que o calor é a única forma de transformar o carvão vegetal em fogo. Partindo desta analogia, a Fé é o calor que nos transforma em algo semelhante com Deus. Só pela Razão podemos saber que Deus existe. Ninguém fica satisfeito só por saber que há várias coisas que existem numa relação. É preciso conhecer, sentir, tocar. Daí que a nossa vida cristã deva permitir que a Fé e a Razão sejam as duas asas que nos elevam ao mistério da Verdade.

Joshua Un

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