PAIS DA IGREJA (51)

PAIS DA IGREJA (51)

Máximo, o Confessor: sofrer por Cristo

Voltamos a nossa atenção para um dos grandes (Pais) Padres da Igreja Oriental, São Máximo, o Confessor. Um confessor é aquele que dá testemunho da sua fé não através da morte, mas através do sofrimento, como a prisão, a tortura, o exílio ou o trabalho forçado.

Máximo nasceu na Palestina, por volta do ano 580, no seio de uma família nobre. Durante a juventude, foi iniciado na vida monástica. Aprendeu as Escrituras através das obras de Orígenes (cf. PAIS DA IGREJA, 15 e 16). A certa altura, tornou-se primeiro secretário do Imperador Heráclio, que valorizava os seus serviços. Mas a vida monástica atraía-o mais e por isso foi para um mosteiro em Crisópolis.

Mudou-se de Jerusalém para Constantinopla, mas devido às invasões bárbaras fugiu para África. Demonstrou grande ousadia na defesa da Ortodoxia, especialmente contra o Monotelitismo, que defendia que Cristo tinha apenas uma vontade (a vontade divina) e não duas (humana e divina). Parecia razoável dizer que Cristo tinha apenas uma vontade, mas São Máximo sabia que, se Jesus era verdadeiro Homem, devia ter um intelecto humano e vontade humana. Sem uma vontade humana, não seria humano, e se não fosse humano (e apenas divino), não poderia sofrer e morrer por nós. Mas não, insistiu ele, Cristo não só é totalmente divino como também totalmente homem. Mas como é que Cristo alcança a unidade? Unindo a sua vontade humana à divina.

A agonia no jardim mostra-nos, por um lado, as duas vontades em Jesus e, por outro, a sua unidade: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (cf. Mateus 26, 40; Marcos 14, 36; Lucas 22, 42).

O Papa Bento XVI disse: “São Máximo demonstra que o homem encontra a sua unidade, a integração de si próprio, a sua totalidade não em si mesmo, mas superando-se a si próprio saindo de si mesmo. Assim, também em Cristo, saindo de si próprio, o homem encontra em Deus, no Filho de Deus a si mesmo. (…) O máximo da liberdade é o ‘sim’, a conformidade com a vontade de Deus. Só no ‘sim’ o homem se torna realmente ele mesmo; só na grande abertura do ‘sim’, na unificação da sua vontade com a vontade divina, o homem se torna imensamente aberto, ‘divino’. O desejo de Adão era ser como Deus, isto é, ser completamente livre. Mas não é divino, não é inteiramente livre o homem que se fecha em si mesmo; é-o quando sai de si próprio, é no ‘sim’ que ele se torna livre; e este é o drama do Getsémani: não a minha vontade, mas a tua” (Audiência Geral de 25 de Junho de 2008).

A heresia monotelita não era apenas uma questão religiosa, mas também política. O Imperador queria que todos aderissem a esta falsa doutrina para forjar a unidade. O Imperador já havia condenado à morte o Papa Martinho I, por defender as duas vontades de Cristo. Acabou por comutar a pena em exílio permanente na Crimeia, onde o Papa morreu a 16 de Setembro de 655.

“Pouco tempo mais tarde, em 662, foi a vez de Máximo que opondo-se também ele ao imperador continuava a repetir: ‘É impossível afirmar em Cristo uma só vontade!’ (cf. PG 91, cc. 268-269). Assim, juntamente com dois dos seus discípulos, ambos chamados Anastácio, Máximo foi submetido a um processo extenuante, embora já tivesse mais de oitenta anos de idade. O tribunal do imperador condenou-o, com a acusação de heresia, à cruel mutilação da língua e da mão direita, os dois órgãos mediante os quais, através das palavras e dos escritos, Máximo combatera a doutrina errónea da única vontade de Cristo. Enfim o santo monge, assim mutilado, foi exilado na Colchide, no Mar Negro, onde faleceu prostrado pelos sofrimentos padecidos, com 82 anos de idade, no dia 13 de Agosto desse mesmo ano de 662” (Idem).

São Máximo não se limitou a escrever obras teológicas. Tendo experimentado o sofrimento em primeira mão, escreveu sobre a luta ascética. Eis dois exemplos de passagens das suas obras.

“Sempre que estiveres a sofrer intensamente por causa de um insulto ou de uma desgraça, percebe que isso pode ser muito benéfico para ti, pois a desgraça é a maneira de Deus expulsar de ti a vanglória” (Maximus Confessor: “Escritos Seleccionados. Clássicos da Espiritualidade Ocidental”. Paulist Press, 1985, pág. 38).

“Há certas coisas que detêm as paixões no seu movimento e não as deixam avançar e aumentar, e há outras que as diminuem e as fazem diminuir. Por exemplo, o jejum, o trabalho pesado e as vigílias não permitem que a concupiscência cresça, enquanto a solidão, a contemplação, a oração e o desejo de Deus a diminuem e a fazem desaparecer. O mesmo se passa com a ira: por exemplo, a longanimidade, o esquecimento das ofensas e a mansidão controlam-na e não a deixam crescer, enquanto o amor, a esmola, a bondade e a benevolência a fazem diminuir” (ibid., pág. 53).

Pe. José Mario Mandía

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