Como a virtude está ligada à felicidade
Vimos anteriormente que Deus chama cada um de nós a sermos santos e oferece-nos a Sua ajuda para tal, «pois sem mim não podeis realizar obra alguma (João 15:5)». Cabe a cada um de nós fazer uso da ajuda que Ele nos estende. Respondemos à Sua graça através da nossa luta ascética. Desta forma, cultivamos bons e santos hábitos. Estes bons hábitos são denominados de “virtudes”. Simplificando, uma virtude é uma boa qualidade que gostaríamos de ver noutra pessoa. No ponto 1803, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) cita São Paulo e refere: “Tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento (FI., 4, 8)”. E, de seguida, explica: “a virtude é uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar actos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em actos concretos. ‘O fim duma vida virtuosa consiste em tornar-se semelhante a Deus’ (São Gregório de Nissa, De beatitudinibus, 1)”. Além disso, as virtudes ajudam-nos a realizar boas acções, não apenas de forma fácil, mas também com alegria.
“Para quê ser-se virtuoso?”, pergunta Scotty Hendricks. E responde: “Em Ética a Nicómaco, Aristóteles propunha que os humanos são animais sociais e racionais que procuram ‘viver bem’. A Eudaimonia é alcançada vivendo-se com virtude e construindo-se traços de carácter a ponto de nem precisarmos de pensar nas nossas escolhas antes de fazermos o que é correcto. Tal pessoa será feliz, mas não da mesma forma do que uma pessoa hedonista. Irá, pois, esforçar-se em se auto-aperfeiçoar e viverá a sua vida ao máximo. Será o tipo de pessoa que os outros querem ser. Acima de tudo, florescerá” (“Como ser feliz: as 11 directrizes de Aristóteles para uma boa vida”).
TIPOS DE VIRTUDES
(1) Virtudes humanas – As virtudes morais são humanamente adquiridas. São os frutos e a origem dos actos moralmente bons e atribuem ao Ser Humano a capacidade de comungar do amor divino. “As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem” (CIC nº 1804). O bem é adquirido pela constante repetição dos actos. Por “adquirido”, queremos dizer que mesmo uma pessoa não baptizada pode cultivá-lo através da prática. Segundo a classificação de São Tomás de Aquino, são elas:
(1.1) virtudes intelectuais – como o nome indica, são virtudes que aperfeiçoam o nosso intelecto. Estas estão subdivididas em virtudes especulativas e virtudes práticas.
(1.2) virtudes morais – são virtudes que aperfeiçoam a vontade. Giram em torno de quatro virtudes fundamentais ou cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança.
(2) Virtudes sobrenaturais – Só podem provir de Deus, que as infunde na alma pela Graça santificante. Também se subdividem:
(2.1) em virtudes teologais – a sua origem, razão e objectivo são o próprio Deus. São a fé, a esperança e a caridade.
(2.2) em virtudes morais sobrenaturais – são infundidas pela Graça santificante e são a contrapartida sobrenatural das virtudes morais humanas. As virtudes morais sobrenaturais tornam possível o exercício heróico da virtude.
Pe. José Mario Mandía