Orgulho, o grande pecado

REFLEXÃO

Orgulho, o grande pecado

No nosso mundo materialista e competitivo parece que o que importa é ser melhor do que os outros: estar no centro da fotografia ou “selfie”, ser o primeiro, ser o número um. Para muitos de nós, o que conta é o “Eu” e o “Meu”. De facto, no nosso mundo, o orgulho reina!

A palavra grega para orgulho (“huperephania”) significa, literalmente, “mostrar-se acima”. Na perspectiva cristã, o orgulho é um dos sete pecados capitais, que são a cabeça (“caput”, cabeça) dos outros pecados. Segundo São Gregório Magno, São Tomás de Aquino considera-os não apenas pecados, mas vícios, ou inclinações habituais para más acções. Tradicionalmente e popularmente, os pecados capitais são sete. Um texto evangélico básico: Tudo o que há no mundo é a concupiscência da carne, e a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida (cf. 1 Jo., 2, 15). Concupiscência da carne: gula e luxúria. Concupiscência dos olhos: avareza ou ganância. Estilo de vida orgulhoso: vanglória, preguiça espiritual, inveja e raiva. Buda fala de cinco venenos da vida: ganância, raiva, ignorância, arrogância e dúvida.

Os pecados capitais ajudam-se a crescer mutuamente. Os principais aliados do orgulho são o ódio, a inveja e a raiva – e a irmãzinha do orgulho, a vanglória! A arrogância também está ligada à presunção e ambição, hipocrisia e desobediência. Na tradição cristã, o orgulho é o pecado que está acima dos outros pecados capitais e, portanto, é descrito como a rainha, a mãe e o princípio de todos os outros vícios e pecados.

Propriamente falando, o orgulho significa um desejo desordenado pela própria excelência, um desejo obstinado e fervoroso, anseio ou fome de glória e grandeza pessoais. Uma pessoa orgulhosa é “inflamada com o desejo de louvor” (João Cassiano, “Conferências”). É um desejo desordenado porque quer – aberta ou ocultamente – não se sujeitar a Deus, a quem toda a glória é devida. Em vez de dar o devido incenso a Deus, a pessoa orgulhosa dá incenso a si mesma. São Paulo diz: Apesar de tudo, “quem se gloriar, glorie-se no Senhor” (2 Cor., 10, 17).

No seu “Diálogo”, Santa Catarina repete que a fonte de todos os pecados é o amor-próprio, do qual vem em primeiro lugar o orgulho. E acrescenta: “Corte os chifres do orgulho e também cortará e extinguirá o ódio”. O pior tipo de orgulho (na tradição católica, o orgulho completo) é desprezar Deus e os Seus mandamentos, em oposição à excelência pessoal. Um menos grave (o orgulho incompleto) é aquele que, respeitando Deus e os superiores, se exalta demais e se coloca acima dos outros. É uma espécie de síndrome número um. Escreve o Papa Francisco: “é a lógica do domínio e da competição” em que querer ser “mais santa e mais sábia do que tu” torna as pessoas arrogantes, querendo dominar os outros (1 Cor., 4, 18-19).

Os Salmos falam muitas vezes contra o orgulho: “Assim como outros altivos de coração e arrogantes não suportarei” (Sl., 101, 5); “A soberba é abominável ao Senhor e aos homens” (Sir., 10, 7); “Porque se ensoberbece quem é terra e cinza?” (Sir., 10, 9).

Jesus afirmou: “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus” (Mt., 5, 3), isto é, os humildes. O orgulho é a causa da oração pecaminosa do Fariseu: “Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens…, nem como este cobrador de impostos” que estava então curvado diante de Deus, clamando: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador” (Lc., 18, 11-13; cf. Lc., 18, 9-14). São Pedro diz-nos: “Deus se opõe aos orgulhosos” (1 Pe., 5, 5).

O orgulho, ou arrogância, foi a causa da queda do Homem e da queda e pecado do diabo. Foi o pecado dos construtores da Torre de Babel. É o pecado de alguns cientistas modernos e transumanistas que pensam que o Homem um dia será Deus: vamos – dizem-nos com orgulho – do homo sapiens ao homo deus. Até o vírus letal Covid-19 está a provar que estão errados: a nossa natureza humana é essencialmente frágil e tudo o que fazemos é finito, imperfeito. A natureza é criada, como todos nós, por Deus, e os humanos não podem controlá-la. Certamente, Deus está no comando, e “o ódio a Deus nasce do orgulho” (CIC nº 2094). É provérbio chinês: “Quando vires a água, lembra-te da fonte”.

O egoísmo é o nosso mal número um – “o ego gordo”. De facto, “olhar para o número um” inspira a vivermos de forma egoísta” (Steve Wilkens, “Beyond Bumper Sticker Ethics”). Lembro-me do texto de um cartaz fixado à porta de um adorável franciscano, em Calbayog (Filipinas): “Da próxima vez que se sentir perfeito, tente andar sobre a água”. Palavras fortes de Santo Agostinho: “Em relação ao ministro orgulhoso, ele deve ser classificado com o diabo”.

Para os padres do deserto, combater o orgulho significa erradicar a vanglória, ou seja, a jactância (João Cassiano, “Conferências”). Não se compare com os outros: “Se se comparar com os outros, poder-se-á tornar vaidoso ou amargo, pois sempre haverá pessoas maiores e menores do que vós” (“Desiderata”, Catedral de Baltimore, 1692).

Como combater então o grande pecado do orgulho? Adquirindo a virtude contrária correspondente. Qual o principal remédio para diminuir o orgulho em vida? Por meio da virtude fundamental que contribui para todas as virtudes: a humildade. Os vícios são combatidos ao adquirirmos as virtudes correspondentes: os sete pecados capitais combatem-se através das sete virtudes fundamentais que fazem um bom cristão: as três virtudes teologais e as quatro virtudes cardeais. Somente uma vida virtuosa pode fazer-nos felizes, mais felizes.

Verdadeiramente, “todo o orgulho é orgulho de mendigo (M. Scheler); “somos mendigos de Deus” (Santo Agostinho). Somos fracos, logo inclinamo-nos a sermos orgulhos. Pedimos ao Senhor que nos ajude a não sermos orgulhosos ou arrogantes, a não querermos ser mais santos e sábios do que o outro, mas humildes, respeitosos com todos e compassivos.

Palavras para ponderar: “Se em todas as coisas buscares Jesus, certamente encontrarás Jesus. Mas se procurares a ti mesmo, também te encontrarás, mas para a tua própria ruína” (“Imitação de Cristo”).

Pe. Fausto Gomez, OP

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