TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (182)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (182)

Somente a graça de Deus nos salva?

Podemos pedir uma recompensa por cada uma boa acção? Podemos merecer alguma coisa com as nossas obras? Ou é somente a graça e a misericórdia de Deus que nos salva?

Jesus fala-nos sobre recompensas por fazermos o bem em Mateus 5:12,46; 6:1,2,4-6,16,17;10:41-42; em Marcos 9:41; e em Lucas 6:23,35.

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ensina, no ponto 426: “O mérito é o que dá direito à recompensa por uma acção boa”. A rigor, pode-se pedir uma justa recompensa entre “valores” iguais. Por exemplo, um trabalhador exige ao patrão que lhe pague o salário mensal, após ter cumprido a sua parte do contrato. Mas Deus não é igual a nós, ou melhor, nós não somos iguais a Deus. “Em relação a Deus, não há, da parte do homem, mérito no sentido dum direito estrito. Entre Ele e nós, a desigualdade é sem medida, pois nós tudo recebemos d’Ele, nosso Criador” (Catecismo da Igreja Católica nº 2007). “Todavia, Deus dá-lhe a possibilidade de adquirir méritos pela união à caridade de Cristo, fonte dos nossos méritos diante de Deus. Os méritos das obras boas devem por isso ser atribuídos antes de mais à graça de Deus e depois à vontade livre do homem” (CCIC nº 426).

Os teólogos costumam distinguir entre dois tipos de mérito: (1) mérito condigno(meritum de condigno) e (2) mérito congruo(meritum de congruo).

(1) Mérito condigno –É Deus quem se obriga e promete a recompensar as obras daqueles que foram incorporados ao Seu Filho Amado Jesus Cristo através do baptismo e estão em estado de graça. É um pouco como quando nossos pais nos prometem pagar por alguma tarefa que eles querem que façamos. Podemos para isto encontrar uma explicação na parábola da vinha, em Mateus 20.

(2) Mérito congruo –Deus, por sua misericórdia e liberalidade, concede o seu mérito àqueles que o buscam com fé.

O QUE PODEMOS MERECER COM MÉRITO CONDIGNO –“Sob a moção do Espírito Santo e da caridade, podemos, depois, merecer para nós mesmos e para outros, (1.1) as graças úteis para a santificação e para o aumento da graça e da caridade, bem como para a obtenção da vida eterna (1.2). Os próprios bens temporais, tais como a saúde e a amizade, podem ser merecidos segundo a sabedoria de Deus. Estas graças e estes bens são objecto da oração cristã. Esta provê à nossa necessidade da graça para as acções meritórias” (CIC nº 2010).

O QUE NÃO PODEMOS MERECER COM MÉRITO CONDIGNO –(2.1) A graça inicial da justificação (a primeira graça) – “A justificação é a acção misericordiosa e gratuita de Deus, que perdoa os nossos pecados e nos torna justos e santos em todo o nosso ser. Isto tem lugar por meio da graça do Espírito Santo, que nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Baptismo. A justificação inicia a resposta livre do homem, ou seja, a fé em Cristo e a colaboração com a graça do Espírito Santo” (CCIC nº 422).

“Uma vez que a iniciativa pertence a Deus,ninguém pode merecer a graça primeira, que está na origem da conversão, do perdão e da justificação” (CIC nº 2010).

São Tomás de Aquino aponta: “por mérito condigno, ninguém, salvo Cristo, pode merecer para outrem a primeira graça…. Por mérito côngruo, porém, podemos merecer para outrem a primeira graça. Pois, o homem, constituído em graça, cumprindo a vontade de Deus, é congruente que Deus, por uma amizade proporcional, cumpra a vontade de um relativa à salvação de outro. Embora, às vezes, possa advir impedimento por parte daquele a quem esse justo desejava a justificação” (Suma Teológica).

(2.2) A graça da perseverança final – São Tomás refere ainda: “Mas a perseverança, nesta vida, não pode ser merecida, por depender somente da moção divina, princípio de todo mérito. Mas aqueles a quem Deus concede o benefício dessa perseverança a recebem gratuitamente” (Suma Teológica). No entanto, o CIC observa no ponto 2016: “Os filhos da santa Igreja, nossa Mãe, esperam justamente a graça da perseverança final e a recompensa de Deus seu Pai pelas boas obras realizadas com a sua graça, em comunhão com Jesus (Concílio de Trento, Decretum de iustificatione, cânone 26: DS 1576)”.

OS MÉRITOS PODEM SER PERDIDOS? –Sim. Todo o mérito é perdido quando cometemos pecado mortal. É opinião comum dos teólogos que esses méritos são restaurados quando nos arrependemos e somos perdoados na confissão. Eles inferem-no da passagem bíblica: «Porquanto Deus não é injusto para se esquecer do vosso trabalho e do amor que revelastes para com o seu Nome» (Hebreus 6:10).

Pe. José Mario Mandía

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