A igreja de São Miguel em Colmar-Berg

LOCAL DE CULTO DOS GRÃO-DUQUES DO LUXEMBURGO

A igreja de São Miguel em Colmar-Berg

Sem estarmos à espera, acabámos por escolher o dia mais quente do ano para uma visita à residência dos Grão-duques do Luxemburgo. Ao contrário do que a maioria pensa, o grão-duque Henri e a sua mulher não vivem na capital, Cidade do Luxemburgo. Vivem, pois, a umas dezenas de quilómetros, na província, na vila de Colmar-berg (“berg” significa floresta) – outrora um paraíso rodeado de bosques e florestas que lhe emprestavam uma atmosfera mais temperada durante o Verão e um Inverno menos severo. Daí que tenha sido o local escolhido para albergar a residência oficial da família grão-ducal desde 1845, ano em que o grão-duque William III comprou o Castelo de Berg. Três anos mais tarde, foi registado como residência oficial na nova Constituição do País.

Entre 1850 e 1879, o castelo, sob o reinado do grão-duque Guilherme III, recebeu mais uma remodelação, desta vez em estilo neogótico. Durante o mesmo período, o castelo foi habitado pelo príncipe Henrique dos Países Baixos, irmão de Guilherme III e governador do Luxemburgo. Nessa altura o Luxemburgo estava sob domínio holandês. 
Quando Guilherme III morreu sem deixar herdeiro masculino em 1890, a Casa de Orange-Nassau foi extinta na linha masculina e o trono do Grão-Ducado passou para o ramo da Casa de Nassau, a Nassau-Weilburg. 
O novo grão-duque Adolfo comprou todas as propriedades privadas holandesas da coroa holandesa em 1891, entre elas o castelo de Berg. No mesmo ano, o seu filho e herdeiro, que viria a ser o grão-duque Guilherme, mudou-se para o castelo e dois anos depois casou-se com a infanta Maria Ana de Portugal. Cinco das seis filhas do casal, entre elas as grã-duquesas Marie-Adelaide e Charlotte, nasceram neste castelo que continua ainda hoje a ser a residência oficial.

Depois de subir ao trono, o grão-duque demoliu o antigo castelo para substituí-lo por um edifício mais adequado às necessidades da época. A principal característica do novo castelo é uma masmorra com 65 metros de altura.

Entre 1921 e 1929, todos os seis filhos da grã-duquesa Charlotte e do príncipe Felix, que sucederam ao grão-duque Guilherme, nasceram no local.

Em 1934 a grã-duquesa Charlotte vendeu o imóvel ao Estado, embora tivesse continuado como residência oficial da família grão-ducal, passando assim a cobrir o Estado todos os custos a ele inerentes. A “nacionalização” incluiu, claro está, o edifício principal, bem como uma área envolvente de oito hectares, com grandes telheiros, cavalariças, estufas e várias dependências como, por exemplo, catorze casas para funcionários.

Na propriedade está também a igreja de São Miguel, que passou a estar fora dos domínios do castelo para que fosse acessível aos fiéis.

Em 1964, o grão-duque Jean e a sua família mudaram-se para o Castelo de Berg quando este subiu ao trono, tendo ali vivido ate ao Verão de 2002. Nesse ano, foi a vez do seu filho, o actual grão-duque, Henri, e a família, se estabelecerem no Castelo de Berg depois de ter assumido o trono do Grão-Ducado.

A igreja de São Miguel, em Colmar-Berg, foi construída em 1744 e pertence à paróquia de Ettelbruck, estando localizada mesmo ao lado dos terrenos do Castelo de Berg. Como o próprio nome indica, é dedicada a São Miguel, cuja festa é celebrada a 29 de Setembro. Seguindo uma tradição das antigas igrejas católicas, mesmo ao lado encontra-se um cemitério.

No interior há uma varanda com janelas envidraçadas, para uso exclusivo da família grão-ducal. Tem cerca de três metros de altura. O acesso à varanda faz-se através de um pequeno edifício de dois pisos, anexo à igreja, por uma ligação directa aos terrenos privados do castelo.

Apesar de ostentar algumas características dignas de uma visita ao seu interior – detalhes que reflectem, de alguma forma, o patronato das famílias que foram reinando nesta zona da Europa ao longo dos séculos –, a igreja não se destaca pelo aspecto exterior. A fachada não destoa da arquitectura típica das restantes igrejas. Tem uma torre sineira, as suas cores são sóbrias e o telhado é em tons cinzento-escuro, ou seja, aparentemente trata-se de uma igreja igual a tantas outras. No entanto, um dia que possam visitar este castelo, não deixem de entrar na igreja de São Miguel, pois não deixa de revelar muito da história de quem a frequenta: o grão-duque e a sua família.

João Santos Gomes

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