A Doença tem alguma utilidade para os cristãos?
A doença e o sofrimento são parte da nossa existência na Terra. As duas “estiveram sempre entre os problemas mais graves que afligem a vida humana. Na doença, o homem experimenta a sua incapacidade, os seus limites, a sua finitude. Qualquer enfermidade pode fazer-nos entrever a morte” (Catecismo da Igreja Católica nº 1500).
O CIC diz ainda, no ponto 1501: “A doença pode levar à angústia, ao fechar-se em si mesmo e até, por vezes, ao desespero e à revolta contra Deus”.
Mas tal é apenas um dos lados da moeda. O mesmo ponto do CIC sublinha que a doença “também pode tornar uma pessoa mais amadurecida, ajudá-la a discernir, na sua vida, o que não é essencial para se voltar para o que o é. Muitas vezes, a doença leva à busca de Deus, a um regresso a Ele”.
Quando Jesus assumiu um corpo humano, Ele transformou cada coisa humana em algo sagrado. Tal inclui a dor e a doença. A doença pode fazer de nós santos.
Na homilia intitulada “É Cristo que passa”, São Josemaría Escrivá refere: “A cena do Calvário proclama a todos que as aflições devem ser santificadas, que nós devemos viver unidos na cruz”.
A mesma ideia é confirmada no documento Lumen gentium, que nos lembra: “Mesmo as adversidades da vida, se suportadas pacientemente, «tornam-se sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus» (I Pedro 2:5)”. “Os sacrifícios são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo”, aponta o mesmo documento.
No entanto, tudo isto não significa que Jesus Cristo não fez (ou faça) algo ao ver alguém sofrer. Encontramos muitos exemplos nos Evangelhos, em que Ele curou pessoas enfermas.
O Catecismo da Igreja Católica explica, no ponto 314: “A compaixão de Jesus pelos doentes e as numerosas curas de enfermos são um claro sinal de que, com Ele, chegou o Reino de Deus e a vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte”. E acrescenta que Cristo elevou o sofrimento a um nível superior: “Com a sua paixão e morte, Ele dá um novo sentido ao sofrimento, o qual, se unido ao seu, pode ser meio de purificação e de salvação para nós e para os outros”.
A Igreja, o Corpo Místico de Cristo, segue fielmente o seu Mestre no Seu cuidado por aqueles que sofrem e estão doentes. “A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pô-la em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui sobretudo um sacramento específico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: «Quem está doente, chame a si os presbíteros da Igreja e rezem por ele, depois de o ter ungido com óleo no nome do Senhor» (Tg., 5,14-15)” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 315).
Mais: A Igreja cuida de nós em todas as fases da nossa vida na Terra. Daí acreditar que “entre os sete sacramentos, há um, especialmente destinado a reconfortar os que se encontram sob a provação da doença: a Unção dos enfermos” (CIC nº 1511). Este ponto é citado no Concílio de Trento: “Esta sagrada Unção dos enfermos foi instituída por Cristo Nosso Senhor como um sacramento verdadeiro e próprio do Novo Testamento. É referido de facto por Marcos, mas é recomendado aos fiéis e promulgado por Tiago, o apóstolo e irmão do Senhor” (Concílio de Trent 1551; Marcos 6:13; Tiago 5:14-15).
Portanto, a finalidade deste sacramento (de acordo com o CIC nº 1527) “é conferir uma graça especial ao cristão que enfrenta as dificuldades inerentes ao estado de doença grave ou de velhice”.
Não há nenhuma menção directa da instituição por Jesus Cristo, mas, como mencionado acima, São Marcos (6,13) a ela alude no seu Evangelho: «E expulsavam muitos demônios; ungiam com óleo a inúmeros doentes e os curavam».
Em jeito de conclusão: “Na tradição litúrgica, tanto no Oriente como no Ocidente, temos, desde os tempos antigos, testemunhos de unções de doentes praticadas com óleo benzido. No decorrer dos séculos, a Unção dos enfermos começou a ser conferida cada vez mais exclusivamente aos que estavam prestes a morrer. Por causa disso, fora-lhe dado o nome de ‘Extrema-Unção’. Porém, apesar dessa evolução, a liturgia nunca deixou de pedir ao Senhor pelo doente, para que recuperasse a saúde, se tal fosse conveniente para a sua salvação” (Concílio de Trento, 1551, CIC nº 1512).
Pe. José Mario Mandía