Jesus profetizou sobre a Eucaristia?
Vimos antes que o milagre dos pães e dos peixes é uma figura por meio da qual Jesus preparou os Seus seguidores com uma promessa ou profecia. Lemos como mais tarde, no mesmo capítulo 6 de São João, a multidão segue Jesus; e Jesus lhes disse que O procuravam «não porque vistes os sinais, mas porque comestes os pães e vos fartastes(Jo., 6:26)».
E então Ele os avisou: «Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pela comida que permanece para a vida eterna, alimento que o Filho do homem vos dará(Jo., 6:27)».
Quem serão os que não estão interessados na «comida que permanece para a vida eterna»? A verdade é que os que haviam testemunhado pediram ao Senhor: «Senhor, dá-nos sempre desse pão(Jo., 6:34)».
Tendo aumentado o seu “apetite”, Jesus declarou-lhes: «Eu sou o Pão da Vida; aquele que vem a mim jamais terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede (Jo., 6:35)».
Mas diz a Bíblia que eles não acreditaram: «Então, os judeus começaram a se queixar dele, porque dissera: “Eu sou o pão que desceu do céu”(Jo., 6:41)».
Jesus disse-lhes que deixassem de murmurar e repetiu as mesmas palavras: «Eu sou o Pão da Vida(Jo., 6:48)». E ainda reforçou: «Eu sou o Pão Vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que deverei dar pela vida do mundo é a minha carne(Jo., 6:51)».
Ora, os judeus não só murmuravam como discutiam entre eles, interrogando como seria possível aquele homem dar a sua carne para os alimentar. Começava a ficar claro que Jesus estava a falar por parábolas. Em ocasiões em que as parábolas não eram fáceis de entender, os próprios apóstolos pediam a Jesus para as explicar. Exemplo: «Então, pediu-lhe Pedro: “Explica-nos a outra parábola?”(Mateus 15:15)».
Para esclarecer quaisquer dúvidas, Jesus foi ainda mais longe: «Em verdade, em verdade vos afirmo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida dentro de vós. Todo aquele que comer a minha carne e beber o meu sangue tem vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida. Aquele que come a minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e Eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa. Este é o pão que desceu do céu. De modo algum comparável ao maná comido por vossos pais, que agora estão mortos. Aquele que comer deste Pão viverá para sempre(Jo., 6:53-58)».
Jesus afirma, repetidamente, “comer a minha carne”. Nojento, não!? Claro que não! Passamos a explicar: no original, em Grego, era usada a palavra τρώγων (Trógon), do verbo τρώγω (trógó) que significa roer, mastigar ou triturar, e é usado no sentido de comer ou participar de uma refeição.
«Portanto, muitos dos seus discípulos, ao ouvirem isso, disseram: “Dura é essa declaração [palavra]. Quem poderá compreendê-la?”(Jo., 6:60)».
Ou era um louco ou estava a falar verdade. As palavras de Jesus dividiram os ouvintes em crentes e não-crentes. «Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o iria trair(Jo., 6:64 – identificado mais tarde, no versículo 71, como Judas Iscariotes: «Falava de Judas, o filho de Simão Iscariotes. Este, ainda que fosse um dos doze, mais tarde o haveria de trair»)». De facto, João recorda que «daquele momento em diante, muitos dos seus discípulos recuaram e não mais andaram com Ele(Jo., 6:66)».
Mais uma vez, ou era um louco ou estava a falar verdade. Jesus perguntou-lhes: «Então Jesus interpelou os doze: “Vós também desejais ir embora?” (Jo., 6:67)». Pedro respondeu: «Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Sendo assim, nós temos crido e reconhecido que Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo(Jo., 6:68-69)».
Na montanha, o milagre dos pães e dos peixes prefigurava a Eucaristia. Na sinagoga de Cafarnaum, Jesus profetizou-o, prometendo-o. Na Última Ceia, a figura tornou-se realidade e Jesus cumpriu a profecia: «Enquanto comiam, Jesus pegou um pão, deu graças, quebrou-o, e o deu aos seus discípulos, recomendando: “Tomai, comei; isto é o meu corpo”(Mateus 26:26; Marcos 14:22-25; Lucas 22:15-20; I Coríntios 11:23-38)».
Pe. José Mario Mandía