SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – Ano B – 24 de Novembro

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – Ano B – 24 de Novembro

Pertencer à verdade (João 18, 33-37)

Há um velho conto chinês sobre um imperador que desejava preparar uma criança para ser o seu sucessor. Concebeu um teste e convidou todas as crianças do reino para o palácio. Deu a cada criança um vaso de barro cheio de terra e uma única semente. Disse-lhes: «– Esta semente determinará o vosso futuro. Devem levá-la para casa e plantá-la, regá-la e cuidar dela. Passado um ano, tragam o vosso vaso para me mostrarem os frutos do vosso trabalho». Entre as crianças que vieram nesse dia estava um rapaz chamado Ling. Levou o seu vaso para casa e plantou a semente. Regou-a cuidadosamente e colocou-a onde pudesse ser alimentada pelo Sol. Passados alguns dias e semanas, nada aconteceu à semente. Mesmo depois de meses de cuidados, o seu vaso continuava estéril. Por isso, quando chegou a altura de regressar ao palácio, Ling não queria ir. Mas a sua mãe disse: «– Ling, não tens nada de que te envergonhar, fizeste exactamente o que te mandaram; vai mostrar o teu vaso ao Imperador». Então, Ling foi.

Quando chegou ao palácio, ficou espantado com as belas flores e plantas que enchiam os vasos de todas as outras crianças. Quando o Imperador entrou, examinou todos os resultados do seu teste e o olhar pousou no vaso estéril de Ling. «– Como te chamas, meu jovem?», perguntou o Imperador. «– Ling, senhor». E o Imperador fez uma vénia a Ling. «– Há um ano, dei a cada um de vós um vaso e uma semente que já cozida para que nunca crescesse. No entanto, quando hoje aqui cheguei, vi vasos cheios com todas as plantas do meu reino. O mestre Ling foi o único que teve a integridade e a honestidade de trazer de volta o vaso estéril, mesmo correndo o risco de ser ridicularizado e rejeitado. Viver com honestidade e verdade é difícil; mas é também um sinal de grandeza. Por isso, vamos agora todos fazer uma vénia ao mestre Ling, o próximo Imperador do nosso reino».

Viver na verdade não é fácil. Requer coragem para enfrentar o que é real nas nossas vidas e para responder a essa realidade com sabedoria. Mais importante ainda, viver na verdade não se trata principalmente de recusar mentir aos outros. Trata-se, sobretudo, de recusar mentir a nós próprios. Aqueles que vivem na verdade recusam-se a viver uma mentira. Porque viver uma mentira não só nos pode magoar, como também nos pode destruir. Todos nós queremos viver em famílias pacíficas e felizes, com boas relações com toda a gente. Por isso, por vezes, optamos por ignorar os verdadeiros problemas que estão presentes nas nossas famílias e nas nossas relações. Se sofremos abusos, sejam eles verbais ou físicos, se há alguém que nos manipula com vergonha ou medo, se há ressentimentos nas nossas relações que nos afastam, podemos optar por ignorar esses problemas, damos desculpas: “As coisas são assim mesmo. Não há nada de errado. Não há nada que eu precise de enfrentar”. Mas, ao fazermos essa escolha, estamos a deixar que os problemas da nossa vida nos sufoquem. Não estamos a viver na verdade. Talvez a razão pela qual é tão tentador viver uma mentira é porque não conseguimos imaginar enfrentar a verdade. Talvez nos cerquemos de tantas falsas ilusões, porque não conseguimos ver como poderíamos ter a coragem de enfrentar a realidade que está presente nas nossas vidas. Se for esse o caso, então a Festa de hoje é uma boa notícia para nós.

Celebramos este Domingo a Festa de Cristo Rei. Esta diz-nos que a autoridade de Cristo é suprema, que o poder de Cristo é real e activo no meio de nós. A Igreja opta conscientemente por colocar esta Festa no final do Ano Litúrgico, para fazer ver que, se a nossa fé significa alguma coisa, ela significa que, sejam quais forem as forças que nos controlam, sejam quais forem os problemas que nos atacam, seja qual for a verdade que tenhamos de enfrentar, o poder de Cristo é maior. Se nos voltarmos para Cristo como nosso Rei, podemos encontrar a coragem para enfrentar a verdade e depois avançar para uma vida melhor.

No Evangelho de hoje, Jesus diz a Pilatos: «Todos os que pertencem à verdade, ouçam a minha voz». Hoje somos chamados a pertencer à verdade, a reivindicar o que é real nas nossas vidas e a seguir os ensinamentos de Cristo. Se a tua planta é estéril, admite-o. Se há problemas na vossa família, assumam-nos. Se há vícios que te controlam, admite que és impotente perante eles. Esse passo para a verdade conduzirá a outros passos que levarão à vida. Mas o primeiro passo é reivindicar o que é real e viver no que é verdadeiro. Cristo é o nosso Rei. Cristo é a nossa Verdade.

Domingo, reclamemos a sua realeza. Pertençamos à Verdade e ouçamos a Sua voz.

Pe. Leonard Dollentas

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