SOLENIDADE DE CRISTO REI É CELEBRADA A 24 DE NOVEMBRO

SOLENIDADE DE CRISTO REI É CELEBRADA A 24 DE NOVEMBRO

O Pastor do Reino de Deus

Encerrada a Primeira Guerra Mundial, e por ocasião dos 1600 anos do Concílio de Niceia (celebrado em 325), o Papa Pio XI (Papa entre 1922 e 1939) instituiu a Festa de Cristo Rei em 11 de Dezembro de 1925, com a Encíclica Quas Primas. Neste texto fundamental, o Pontífice sublinhou a necessidade de a sociedade civil obter “justa liberdade, tranquilidade e disciplina, paz e concórdia”. Esta Festa, como a justificação na Encíclica destaca, é além da devoção em si uma resposta ao então crescente secularismo e ao ultranacionalismo secular que se disseminava na sociedade, além de se inserir no contexto da chamada Questão Romana, que não estava ainda resolvida.

Esta polémica foi uma disputa sobre o poder temporal dos Papas enquanto governantes de um território civil (Estado do Vaticano) no contexto do “Risorgimento” italiano (iniciado em 1861 e completado pela unificação italiana em 1871, com Roma como capital do País). Terminou com os Pactos de Latrão entre o Rei Vitor Emanuel III de Itália e o referido Papa Pio XI em 1929. Com a instituição da Festa, o Papa quis motivar os católicos a reconhecerem publicamente que o líder da Igreja é Cristo Rei, incitando os fiéis, e não só, a reconhecerem a realeza de Jesus. A Festa surge como uma inspiração para um antídoto ao Secularismo, um modo de vida em crescendo que deixa Deus fora do pensamento e da vida do homem, no qual este organiza a sua vida como se Deus não existisse. A Festa pretende proclamar de forma marcante e eficaz a realeza de Cristo sobre os indivíduos, as famílias, a sociedade, os governos e as nações.

Assim, desde então que a Solenidade de Cristo Rei faz parte do Calendário Litúrgico da Igreja Católica. No Calendário Litúrgico de 2024, no próximo Domingo, dia 24 de Novembro, será celebrada a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, ou mais popularmente, Festa de Cristo Rei. Esta é celebrada no último Domingo do Ano Litúrgico e recorda que Cristo é o verdadeiro Rei que deve reinar nos corações de todos os que nEle acreditam e O seguem.

Mas atentemos nas origens e sentido da Festa. No ano de 325, como já dissemos, realizou-se o primeiro concílio ecuménico da Igreja nascente na cidade de Niceia, na Ásia Menor (actual Turquia, não longe de Istambul). Então, entre outras decisões teológicas, a divindade de Cristo foi definida contra as heresias de Ário: “Cristo é Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus”. No plano da Patrística, depois de Niceia não mais se deixou de fundamentar e reforçar a divindade de Cristo. Assim, segundo Cirilo de Alexandria, Cristo “tem domínio sobre todas as criaturas, um domínio não tomado pela violência nem usurpado, mas Seu por essência e por natureza. Os homens estão por isso a ele sujeitos e devem reconhecer o seu império em razão da união hipostática [referência à Encarnação para descrever a união das naturezas divina e humana de Cristo numa pessoa], Cristo tem poder sobre todas as criaturas”.

A Festa de Cristo Rei tem uma dimensão escatológica, apontando para o fim dos tempos, quando o Reino de Jesus se estabelecerá em toda a sua plenitude até aos confins da terra.

O título da Festa era “Domini Nostri Jesu Christi Regis” (Nosso Senhor Jesus Cristo Rei), e a primeira data estabelecida foi “o último Domingo do mês de Outubro – isto é, o Domingo que precede imediatamente a Festa de Todos os Santos”. No seu “motu próprio” Mysterii Paschalis, de 1969, o Papa Paulo VI alterou o título da Festa para “Domini Nostri Iesu Christi universorum Regis” [Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo]. Mudou também para a nova data do último Domingo do Ano Litúrgico, antes do Advento. O propósito desta nova data era o de ficar “mais clara a importância escatológica deste Domingo”, pois Jesus Cristo, o Rei, é a meta da nossa peregrinação terrena.

A Festa recebeu também o mais alto nível de Solenidade. As vestes litúrgicas do dia são brancas.

Do ponto de vista litúrgico e teológico, a partir do Credo de Niceia, definem-se assim os títulos da realeza de Cristo sobre os homens: Cristo é Deus, o Criador do Universo e, por isso, exerce um poder supremo sobre todas as coisas. “Todas as coisas foram criadas por Ele”; Cristo é o Redentor, condição conquistada pelo sacrifício e pelo Seu precioso Sangue, que fez de nós a Sua propriedade e possessão; Cristo é o Chefe da Igreja, “tendo em todas as coisas o primado”; Deus concedeu a Cristo as nações do mundo como Sua possessão e domínio especial. O Reino de Cristo é por isso supremo, estendendo-se não só a todas as pessoas, mas também aos seus soberanos; é universal, estendendo-se a todas as nações e a todos os lugares; é eterno, pois “O Senhor assentará como Rei para sempre”; por fim, é espiritual, pois o “Reino de Cristo não é deste mundo”. Assim, Jesus Cristo é o Rei e também o Pastor do Reino de Deus, que tira das trevas quem seguir a Sua verdade, que guia e cuida de todos no caminho para a plena comunhão com o Deus de Amor.

Desde os alvores do Cristianismo que Jesus Cristo é chamado Rei, num sentido metafórico, devido ao supremo grau de excelência que possui e que o eleva entre todas as coisas criadas. A Bíblia não deixa de o referir também. No Antigo Testamento, por exemplo, atribuem o título de Rei àquele que deve nascer da linhagem de Jacob; Aquele que pelo Pai foi constituído Rei sobre o santo monte de Sião e receberá as nações como herança e possuirá os confins da terra.

Depois temos Zacarias, que prediz que “Rei manso (…) montado num jumento”, entraria em Jerusalém, como Justo e como Salvador, no meio das aclamações das multidões. No Novo Testamento, esta mesma doutrina sobre Cristo Rei está presente desde o momento da Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem, pela qual esta foi avisada de que daria à luz um filho a quem Deus daria o trono de David, e que reinaria eternamente na casa de Jacob, sem que o seu Reino tivesse alguma vez fim. Realeza temporal, mas acima de tudo espiritual, eis o mote para a reflexão em torno de Cristo Rei e da luta contra a secularização da sociedade.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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