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SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – Ano B – 7 de Janeiro

A Epifania cria “laços de unidade, projectos comuns e sonhos partilhados”

Há dias foi noticiado que Macau ficou em quinto lugar no “ranking” de 2023 dos países e territórios mais ricos do mundo. Segundo a Imprensa, a cidade recuperou significativamente da pandemia de Covid-19, sendo que a economia local poderá crescer até 21 por cento em 2024 – assumindo que não surja uma grande crise –, de acordo com estudos publicados pela Universidade de Macau.

Entretanto, um grande número de turistas visitou Macau durante as festividades de Natal, tendo contribuído grandemente para o crescimento da economia. Mais de 120 mil pessoas entraram em Macau só na véspera de Natal e são esperadas muitas mais para as celebrações do Ano Novo Chinês.

No entanto, nem tudo que reluz é ouro. A cidade também continua a ser um local de significativa desigualdade de rendimentos, com dez por cento da população mais rica a controlar sessenta por cento da riqueza da RAEM, de acordo com o Relatório Mundial da Desigualdade. A Cáritas de Macau estima que cerca de 4,6 por cento dos agregados familiares viviam na pobreza em 2022 – o último ano da pandemia, embora certamente esta situação tenha melhorado após a recuperação económica deste ano.

Penso em todos estes dados enquanto contemplo o Presépio, o que me ajuda a transportar o Natal para a realidade. Imagino as estalagens de Belém como se fossem os hotéis de Macau. Os viajantes que as ocupam são como os turistas que chegam a Macau na época do Natal. As pessoas que abrigam Maria e José são os trabalhadores não residentes, que com coração compassivo abrem espaço nos seus dormitórios para um colchão extra.

Os diferentes personagens do Presépio reflectem verdadeiramente diferentes aspectos da nossa sociedade. Os protagonistas pertenciam, na sua maioria, a uma classe menos privilegiada. A Sagrada Família deve ter viajado para Belém com um orçamento muito apertado e não conseguiu encontrar lugar na pousada. Os pastores que primeiro foram visitar o recém-nascido, Jesus, foram considerados sem instrução e impuros, até mesmo ritualmente impuros porque, vivendo em campos abertos, eram incapazes de guardar a lei do sábado. Deus escolheu entrar na humanidade entre os mais pobres e simples do povo de Israel.

No entanto, a presença dos Reis Magos no Presépio sublinha a verdade de que Cristo veio para oferecer salvação e graça a todos, independentemente da sua etnia, cultura ou estatuto social. Os Magos, essas figuras misteriosas descritas no Evangelho de Mateus como “sábios do Oriente”, eram provavelmente líderes religiosos, estudiosos, especialistas em Astrologia, homens de “status” e porte proeminentes.

A presença dos Reis Magos no Presépio é consoladora. Há um espaço em frente à manjedoura mesmo para os poucos de nós que, num mundo atormentado pela pobreza, pela instabilidade e pela violência, vivemos uma vida privilegiada num ambiente rico e pacífico, mas que não queremos viver como Herodes, que pisou em outros para manter o seu “status” e privilégio. A Solenidade da Epifania que celebramos neste Domingo recorda-nos que Cristo deseja revelar-se a cada pessoa, mesmo a nós que, em muitos aspectos, nos parecemos mais com os Reis Magos do que com os pastores.

Os Magos não são pessoas superficiais, não se orgulham dos seus conhecimentos, nem confiam apenas nas suas riquezas. Eles carregam dentro de si as questões mais profundas sobre o sentido da vida: Quem é Deus e qual é a Sua vontade para nós? Para quê – ou melhor, para Quem – vale a pena gastar a nossa vida? Existe algo mais forte que a morte? Os presentes de incenso, ouro e mirra que eles carregam consigo podem muito bem simbolizar essas questões profundas que tinham nos seus corações e às quais ninguém conseguia dar uma resposta satisfatória. Agora, diante do Menino Jesus na manjedoura, uma resposta começa a tomar forma. A Sua morte na cruz irá completá-lo. A resposta é Amor: Amor incondicional e abnegado.

Imagino os Reis Magos saindo da manjedoura renovados, com uma nova visão da vida, com esta oração no coração: “Senhor e Pai da humanidade, que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade, infundi nos nossos corações um espírito fraterno. Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, de justiça e de paz. Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno, sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras. Que o nosso coração se abra a todos os povos e nações da terra, para reconhecer o bem e a beleza que semeastes em cada um deles, para estabelecer laços de unidade, de projectos comuns, de esperanças compartilhadas. Amém”. É a “Oração ao Criador” escrita pelo Papa Francisco na sua carta encíclica Fratelli Tutti. Que esta oração se torne também nossa no início daquele que será um ano muito próspero para o povo de Macau, e inspire as nossas resoluções de Ano Novo para 2024!

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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