BEATO GONÇALO DE AMARANTE É CELEBRADO A 10 DE JANEIRO

BEATO GONÇALO DE AMARANTE É CELEBRADO A 10 DE JANEIRO

Injustiçado, casamenteiro, milagreiro, universal

Nasceu em 1187, em Arriconha, no Reino de Portugal. Morreria a 10 de Janeiro de 1262, com 75 anos de idade, em Amarante. Não é santo, como lhe chamam, tão só “beato” da Igreja Católica, desde que o Papa Júlio III concedeu que se lhe prestasse culto público, em 24 de Abril de 1551. A 16 de Setembro de 1561 deu-se a sua beatificação pelo Papa Pio IV. Tem Festa Litúrgica a 10 de Janeiro, mas é festejado também no primeiro fim de semana de Junho, quando se faz uma grande romagem ao seu túmulo, na igreja do antigo convento dominicano onde morreu.

Gonçalo morreu como frade dominicano. A sua fama de santidade foi sempre grande, suscitando grande devoção popular. O povo trata-o como São Gonçalo de Amarante, adjudicando-lhe o patrocínio dos casamentos. Em Portugal há outro santo com o mesmo pelouro, Santo António de Lisboa (ou de Pádua), franciscano e coevo do santo amarantino. Mas há uma diferença entre ambos: António zela pelo matrimónio das moças, jovens; Gonçalo encarrega-se das chamadas “encalhadas”, ou “velhas”, como também o povo lhes chama… Além desse mecenato, Gonçalo é também convocado para obras de assistência à virilidade masculina, merecendo do povo também grande atenção nesse particular.

De origem nobre, o jovem Gonçalo cedo sentiu a vocação sacerdotal, talvez fruto da educação que recebeu na infância de um preceptor que era, claro, sacerdote, como era uso na nobreza. Depois estudou na escola catedralícia da Sé de Braga, onde fez a preparação nas matérias eclesiásticas, nos moldes da época (não havia seminários, recorde-se), para a ordenação presbiterial. Após esta, recebeu o múnus paroquial da freguesia de São Paio de Vizela. Mais tarde, foi como romeiro aos túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo, em Roma (daí “romeiro”), tendo depois sido palmeiro em Jerusalém (os “peregrinos” dos Lugares Santos são os “palmeiros”).

Despendeu em viagens catorze anos, deixando, reza a lenda, um seu sobrinho padre a curar a sua paróquia. O sobrinho não o aceitou, tudo fez para o afastar da generosa paróquia e urdiu falsidades sobre o tio, que acusou de ter morrido e que aquele que ora surgia era um embusteiro, a fazer-se passar pelo padre Gonçalo. O sobrinho ficou com a paróquia e o padre Gonçalo, resignado, foi para as margens do Tâmega. Onde está hoje o seu convento e igreja homónimos, terá erguido uma ermida, com o orago de Nossa Senhora da Assunção. Ali viveu como eremita, em vida contemplativa e ascética, pregando por vezes e sobrevivendo com as esmolas dos que ali passavam. Um dia, na sua ânsia de procura da santidade, em especial fervor de oração e súplicas ter-lhe-á aparecido a Virgem Maria, de que era especial devoto. A Senhora terá exortado o eremita a procurar a Ordem religiosa onde começam o Ofício divino com a Avé Maria, a chamada saudação angélica. Ou seja, a Virgem indicara-lhe o caminho para a Ordem dos Pregadores, mais conhecidos como Dominicanos (em honra do seu fundador, São Domingos de Gusmão).

Rumou a Guimarães, ao convento dominicano fundado por São Pedro Gonçalves Telmo (1190-1246), frade castelhano que viria a ser beatificado em 1254 e canonizado em 1741, sendo padroeiro dos marinheiros. Em Guimarães recebeu o hábito das mãos do fundador, noviciando e vindo a professar religiosamente na Ordem. Mais tarde recebeu permissão para ir viver no seu eremitério em Amarante, com um outro frade.

Conversões e devoção, o labor evangélico e caritativo de Gonçalo frutificou nas margens do Tâmega, onde tudo fez para se construir uma ponte, que está na origem da que hoje ali existe. Morreria no eremitério, onde foi sepultado, atraindo muitas gentes pelo rosário de milagres que fazia a quem visitasse a sepultura. Fez-se depois uma igreja sobre a ermida e, em 1540, edificou-se a que hoje lá existe, sob a égide do rei D. João III. O seu culto universalizou-se, chegando à Índia e depois ao Brasil, merecendo um sermão do Padre António Vieira sobre a sua santidade. Discute-se a sua existência histórica, mas é mais difícil negar o seu culto, porém.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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