Novamente: Rezar Sempre!
Parece que muitas vezes a nossa oração não parece ser tão útil e não nos torna melhores discípulos de Jesus. Porquê? Talvez não sigamos a receita! Jesus diz-nos para não rezarmos como os hipócritas, que rezam para serem vistos e aplaudidos (cf. Mt., 6, 5); para não rezarmos como aqueles que são demasiado faladores diante de Deus, que multiplicam as palavras para serem ouvidos (cf. Mt., 6, 7). Rezamos como Jesus nos ensinou: «Pai Nosso, que estais nos Céus…» (Mt., 6, 9-15).
Os Padres da Igreja (do Século I ao VIII), representantes preeminentes da Tradição Cristã, falam poderosamente das três expressões clássicas de penitência: oração, jejum e actos de caridade. São Pedro Crisólogo escreve: “A oração, a misericórdia e o jejum constituem apenas uma coisa, e fertilizam reciprocamente. O jejum é a alma da oração, a misericórdia é o sangue vital do jejum… Eles não podem ser separados. Portanto, se rezarem, jejuem; se jejuarem, tenham misericórdia; se quiserem que as vossas petições sejam ouvidas, oiçam as petições dos outros”. E acrescenta que a oração, o jejum e os actos de caridade são “oração tríplice”. Recordamos que acto de caridade integral inclui acto de caridade espiritual, ou seja, perdoar os outros – sempre!
Não tem tempo para rezar? Há sempre a tentação de usar este “argumento” como uma desculpa para não rezar. O que importa não é a quantidade – estar muito tempo a rezar –, mas sim a qualidade, tempo de qualidade com o Senhor. O tempo de oração é tempo de descanso. Todos temos de levar a sério as palavras de Jesus aos Apóstolos: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco» (Mc., 6, 31). Não esquecemos que Deus “precisa” de descansar: «Deus repousou, ao sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado» (Gén., 2, 2).
Nunca deixamos a oração. Apenas no caso duma emergência de amor! Afirmou o cardeal D. Joseph Bernardin: “O trabalho de Jesus, por vezes, interferia com o seu sono, mas nunca com a sua oração” (“O Presente da Paz”). Santa Teresa de Ávila aconselha-nos: “Nunca deixe de rezar; há sempre remédio para aqueles que rezam; a oração é o caminho real para o céu; uma vida sem oração é uma vida ‘perdida’, enquanto uma vida de oração perseverante é ‘perdida’ para o diabo. Poderíamos dizer que a oração move a alma entre os céus (vida eterna: para todo o sempre e sempre) e a terra (tudo é nada, a vida terrena é vaidade, a vida humana é breve, como uma má noite numa má pousada). A oração é o caminho que conduz ao amor de Deus: a pessoa que reza é o servo do amor”.
Rezamos sempre. Somos pessoas teológicas: a fé reza, a esperança reza e a caridade reza. Somos pecadores: pedimos perdão a Deus. A oração leva à penitência; e a virtude da penitência ao Sacramento da Penitência. A oração é a melhor forma de purificação, mudança, renovação e de fidelidade à própria vocação. Por conseguinte, nós perseveramos na oração, mesmo – e especialmente – quando atravessamos o deserto da vida.
A oração leva a uma mudança pessoal e comunitária. Muitas coisas estão erradas na sociedade; e também, talvez, na nossa própria vida pessoal e comunitária. Podemos pedir aos outros que mudem; mas, ao menos que mudemos, não podemos esperar verdadeiramente a mudança nos outros. Eis a história de um grande místico sufista: Quando jovem que rezava todas as noites: “Deus faz de mim um revolucionário para mudar o mundo”, mas nenhuma mudança ocorreu! Como adulto: “Ajuda-me a mudar a minha família e aqueles à sua volta”, mas mais uma vez não houve uma mudança perceptível! Como uma pessoa madura: “Deus, ajuda-me a mudar-me a mim próprio”. Só então, começou a mudar a si próprio, a sua família e os outros, e o Mundo.
É desta forma que o Papa emérito Bento XVI descreve a sua vida de oração: “Naturalmente que rezo sempre, antes de mais nada, a nosso Senhor, com quem estou unido simplesmente como um velho conhecido, por assim dizer. Mas também invoco os santos. Sou amigo de Agostinho, de Boaventura, de Tomás de Aquino. Depois digo também a tais santos: Ajudem-me! E a Mãe de Deus é, em qualquer caso, sempre um ponto de referência importante. Neste sentido, recomendo-me à comunhão dos santos. Com eles, fortalecido por eles, falo então também com o querido Senhor, suplicando, na maior parte das vezes, mas também em acção de Graças – ou simplesmente sendo alegre” (Luz do Mundo).
O Papa Francisco, que está mais ocupado do que qualquer um de nós, resume a sua vida de oração preferida: “Rezo o breviário todas as manhãs. Gosto de rezar com os Salmos. Depois, mais tarde, celebro a Missa. Rezo o Terço. O que realmente prefiro é a adoração à noite, mesmo quando me distraio e penso noutras coisas, ou até adormeço a rezar. À noite, então, entre as sete e as oito horas, fico em frente ao Santíssimo Sacramento durante uma hora em adoração. Mas rezo mentalmente mesmo quando estou à espera no dentista ou noutras alturas do dia”. (Entrevista a Antonio Spadaro, SJ. Roma, Agosto de 2013).
Uma receita simples para a oração diária: Comece o dia na presença de Deus: “‘Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’. Colocar o dia nas mãos de Deus: ‘Nas tuas mãos, Senhor, eu louvo o meu espírito’. Pedir a ajuda de Deus: ‘Dá-nos neste dia o nosso pão do dia’. Sinta a presença de Deus nas suas tarefas diárias e no seu trabalho, nas suas dores e sofrimentos; apercebam-se que Cristo está presente em vós de uma forma muito especial: «Lembrai-vos, eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt., 28, 20). Façam uma oração silenciosa aqui e ali – pela vossa família, pelos vossos amigos, vossos colegas, vossos ‘inimigos’: Pai Nosso, Avé Maria, Glória… Diga ‘Olá’ ao Santíssimo Sacramento quando o puder visitar. Ao final do dia, dizei ao Senhor: ‘Obrigado, Senhor’, ‘Perdão, Senhor’, ‘Eu perdoo tudo’, ‘Te amo, Senhor’. E pedir a Deus: ‘Dá-nos uma noite tranquila e um bom fim’. ‘Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’”.
Pe. Fausto Gomez, OP