TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (193)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (193)

O que é o Pecado?

Falámos do mal físico e do mal moral (TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ n.os53-56). Agora, falemos mais um pouco sobre o mal moral: o pecado.

No livro de Jeremias (2, 12-13), o Senhor diz: «Espantai-vos disso, todo o universo! Ó céus, horrorizai-vos e abismai-vos profundamente com tal atitude!, declara Yahweh. O meu povo cometeu dois crimes: Eles me abandonaram, a mim, a própria Fonte de Água Viva; e tentaram cavar as suas próprias cisternas, poços rachados que não conseguem reter a água». Estas palavras ilustram claramente o que é o pecado. É afastarmo-nos daquele que pode satisfazer os nossos anseios mais íntimos e consolar-nos com soluções temporárias para as nossas tristezas e ansiedades.

Como vimos em TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ nº 54, o pecado dos nossos primeiros pais infligiu uma ferida na nossa natureza e tornou-nos vulneráveis ao pecado (cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica nº 77). São Paulo diz na sua Carta aos Romanos (5, 19): «Sendo assim, como por meio da desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também, por intermédio da obediência de um único homem, muitos serão feitos justos».

Ao quererem ser como Deus, Adão e Eva perderam os próprios dons que os tornaram à imagem e semelhança de Deus, particularmente o dom sobrenatural da graça santificante que os tornou participantes da natureza divina. No entanto, Jesus Cristo restaurou a possibilidade de nos tornarmos semelhantes a Deus. Através da Sua vida, Ele deu um exemplo visível para nós seguirmos. Por meio do Seu sofrimento, morte e ressurreição, Ele comprou para nós a luz e a força – a graça – de que precisamos para podermos ganhar o Céu. Ele ajuda-nos a recuperar um privilégio que não deveríamos ter merecido em primeiro instância.

A Igreja lembra-nos constantemente que temos de reconhecer a nossa pecaminosidade e tendência para o mal. Cada vez que assistimos ao Santo Sacrifício da Missa, o celebrante convida-nos logo no início da liturgia: “Irmãos e irmãs, reconheçamos os nossos pecados e assim nos preparemos para celebrar os sagrados mistérios. Admitamos que pecámos!”.

Na sua Primeira Carta (1, 8-10), São João explica: «Se declaramos que não temos pecado algum enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar todos os pecados e nos purificar de qualquer injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, nós o fazemos mentiroso, e sua Palavra não está em nós».

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica resume o ensinamento da Igreja sobre o pecado, no ponto 392: “É ‘uma palavra, um acto ou um desejo contrários à Lei eterna’ (Santo Agostinho). É uma ofensa a Deus, na desobediência ao seu amor. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Cristo, na sua Paixão, revela plenamente a gravidade do pecado e vence-o com a sua misericórdia”.

O Catecismo indica que qualquer ofensa a Deus é também uma ofensa à natureza humana e à solidariedade humana. Por outras palavras, qualquer pecado pessoal é também um pecado social. Esta definição aplica-se aos pecados que podem não parecer ter qualquer repercussão externa.

É por isso que São João Paulo II destacou na Exortação Apostólica Reconciliatio et paenitentia(2 de Dezembro de 1984) que vivemos num “mundo despedaçado” onde sofremos divisões de todos os tipos “disparidade entre grupos, classes sociais e países, aos antagonismos ideológicos, nem por sombras extintos; desde a contraposição dos interesses económicos às polarizações políticas; desde as divergências tribais às discriminações por motivos sócio-religiosos” (n.º 2). No mesmo ponto, o Santo Padre acrescenta: “Só observando-as em profundidade se consegue individuar a sua raiz: esta encontra-se numa ferida no íntimo do homem. À luz da fé chamamos-lhe pecado, começando pelo pecado original, que cada um traz consigo desde o nascimento, como uma herança recebida dos primeiros pais, até aos pecados que cada um comete, abusando da própria liberdade” (n.º 2).

Pe. José Mario Mandía

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *