PRESERVAR A BIODIVERSIDADE DA ILHA FILIPINA DE MINDORO

PRESERVAR A BIODIVERSIDADE DA ILHA FILIPINA DE MINDORO

Em nome da nossa “casa comum”

O padre Edwin Gariguez, ex-director da Cáritas nas Filipinas, um dos religiosos daquele arquipélago mais empenhado na promoção e implementação da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, é agora o porta-voz de um grupo de associações e comunidades que – na ilha de Mindoro, em particular, e em todo o País, em geral – querem preservar a biodiversidade de um peculiar trecho de mar conhecido como Verde Island Passage (VIP), tendo em vista o benefício da população piscatória local.

Na verdade, a progressiva expansão de indústrias poluentes ao largo da costa de Mindoro constitui uma ameaça ecológica e tem de ser travada. Toda essa área, de acordo com a lei dos sistemas nacionais de reservas naturais, é considerada “paisagem marinha protegida”. Só que entre a teoria e a prática há um imenso espaço indefinido.

A Verde Island Passage – que muitos consideram a “Amazónia dos Oceanos” – pelas piores razões fez as manchetes há pouco mais de um ano, quando, a 28 de Fevereiro de 2023, o petroleiro “MT Princess Empress”, com novecentos mil litros de petróleo industrial a bordo, afundou nesse troço de mar, causando um grave desastre ambiental. Desde então, e apesar dos esforços das sucessivas operações de limpeza, os níveis de crude nas áreas afectadas excedem ainda as directrizes de qualidade da água, de acordo com um novo estudo do Centro de Energia, Ecologia e Desenvolvimento (CEED).

«Infelizmente, a qualidade da água no corredor não cumpre os padrões para águas protegidas. As consequências do derrame de petróleo ainda se fazem sentir e esta situação está a ter um impacto negativo na pesca e na indústria, com riscos para a saúde e também para a economia das comunidades locais», diz o padre Edwin Gariguez ao repórter da agência noticiosa FIDES, apelando à «protecção legal oficial da Verde Island Passage», de forma a salvaguardar a biodiversidade e também o futuro das cada vez mais vulneráveis comunidades piscatórias, que no mar têm o seu sustento. «Queremos que a população do Leste de Mindoro supere esta tragédia com a certeza de que algo do género não voltará a acontecer», acrescenta.

Aproveitando o primeiro aniversário do “desastre de Mindoro”, a Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas (CBCP, na sigla inglesa), através de um comunicado, clama justiça para as vítimas, já que milhares de pescadores foram privados dos seus meios de subsistência. “A extensão do impacto ainda não pode ser totalmente avaliada e só se conhecerá a fundo nos próximos anos”, afirma o comunicado, que foi assinado, entre outros, pelo principal coordenador da Laudato Si’, D. Gerardo Alminaza. Ele e os restantes bispos da CBCP lamentam que as empresas e autoridades responsáveis pelo derrame de petróleo continuem a fugir às suas responsabilidades, e apelam a “uma compensação adequada e oportuna que tenha realmente em conta os danos que as comunidades piscatórias continuam a sofrer”. Há, porém, um aspecto positivo que não se esquecem de destacar: a tragédia catapultou inúmeros gestos de compaixão entre a gente de Mindoro e entre tantos outros que, fora da ilha, “se comprometeram com a solidariedade”. Uns e outros pugnam para que a Verde Island Passage seja, de facto e não apenas em teoria, “área marítima protegida”, impedindo assim a navegação de navios cargueiros nessa parte do oceano.

Entretanto, as comunidades locais queixam-se de que o Governo planeia desenvolver actividades mineiras na área e construir instalações de armazenamento de gás natural e outros complexos industriais. Informada do facto, o programa nacional Laudato Si’ da Conferência Episcopal das Filipinas apelou já a Manila para que reconsidere tal planeamento, tendo em conta os “critérios de conservação da natureza e de protecção dos povos indígenas”. Este programa, de resto, segue a carta pastoral publicada há quarenta anos pela Conferência Episcopal sobre o tema da ecologia integral com o título “O que está a acontecer à nossa bela Terra?”, e promove uma visão que inclui o respeito e a protecção da “casa comum”, especialmente em benefício das novas gerações.

A postura ecologista da Igreja católica nas Filipinas, aqui encarnada pelo padre Edwin Gariguez, surge na sequência de um apelo oficial de cinco bispos (que têm ao seu cuidado a pastoral das dioceses da região costeira do Mar das Filipinas Ocidental, onde os pescadores constituem a maioria da população católica), dirigido aos governantes do arquipélago, pedindo-lhes que utilizem todos os meios legais para defender as justas reivindicações dos pescadores. Uma carta pastoral conjunta intitulada «Filhos, tendes aí alguma coisa para comer?» (Jo., 21, 5) foi co-assinada pelo arcebispo de Lingayen-Dagupan, D. Socrates Villegas, e pelo seu bispo auxiliar, D. Fidelis Layog; e ainda pelos bispos de Iba, D. Bartolome Santos Jr.; de San Fernando de La Union, D. Socrates Mesiona; e de Taytay, D. Broderick Pabillo. O texto – que confia o destino dos pescadores à Mãe de Deus, neste caso com o título de “Virgen del Mar” – diz o seguinte: “Os pescadores recebem apoio insuficiente do Governo. Pedimos aos nossos irmãos e irmãs na fé que defendam os seus direitos e os ajudem a garantir os seus meios de subsistência e a construir o futuro das suas famílias”.

Joaquim Magalhães de Castro

LEGENDA: Padre Edwin Gariguez

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