PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS NO MUNDO

PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS NO MUNDO

Papa recorda «novos mártires»

O Papa recorda os «novos mártires», alertando para cristãos perseguidos no mundo actual, numa mensagem em vídeo, divulgada terça-feira pela Rede Mundial de Oração.

«Rezemos para que aqueles que, em várias partes do mundo, arriscam a vida pelo Evangelho, contagiem a Igreja com a sua coragem e o seu impulso missionário. Eles estão abertos à graça do martírio», pede Francisco, na sua intenção de oração para o mês de Março.

O vídeo apresenta «uma história que é um reflexo da Igreja de hoje», que o Papa recorda como a «história de um testemunho de fé pouco conhecido». «Ao visitar um campo de refugiados em Lesbos, um homem disse-me: “Padre, sou muçulmano. A minha mulher era cristã. Os terroristas chegaram ao nosso país, olharam-nos e perguntaram qual era a nossa religião. Viram a minha mulher com o crucifixo e disseram-lhe para o atirar ao chão. Ela não o fez e degolaram-na à minha frente. Foi assim”».

Francisco sublinha que este homem vivia sem «rancor», mas «centrava-se no exemplo de amor da sua esposa, um amor a Cristo que a levou a aceitar e ser leal até à morte».

«Irmãos, irmãs, sempre haverá mártires entre nós. É o sinal de que estamos no caminho certo. Uma pessoa que sabe dizia-me que há mais mártires hoje do que no início do Cristianismo. A coragem dos mártires, o testemunho dos mártires, é uma bênção para todos», acrescenta.

A história desta mulher é reconstituída em “O Vídeo do Papa” do mês de Março, no qual surgem ainda imagens de comunidades cristãs em perigo e se referem exemplos de coragem, como o do primeiro servo de Deus do Paquistão, Akash Bashir, que morreu com vinte anos, em 2015, para evitar um atentado terrorista contra uma igreja cheia de fiéis, em Lahore.

A intenção de oração é divulgada, mensalmente, nas redes sociais e plataformas digitais, numa iniciativa da Rede Mundial de Oração do Papa, confiada aos jesuítas.

O vídeo de Março tem a colaboração da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que em 2023 recebeu denúncias em quarenta países de pessoas assassinadas ou sequestradas por causa da sua fé.

“A Nigéria tornou-se o país com o maior número de assassinatos; no Paquistão, na diocese de Faisalabad, as igrejas e as casas dos cristãos de Jaranwala foram atacadas; e no Burquina Faso, os católicos de Débé foram expulsos da sua aldeia apenas por causa da sua fé”, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA pela Rede Mundial de Oração do Papa.

A presidente executiva da fundação pontifícia AIS, Regina Lynch, afirma que «a liberdade religiosa, reconhecida na Declaração Universal dos Direitos do Homem, é um direito inalienável e nenhum cristão deve perder a vida por a exercer».

«É fundamental garantir o direito de praticar a sua fé como parte da dignidade de todos os seres humanos», acrescenta.

A responsável considera que a intenção de Francisco neste mês é «muito importante para encorajar a oração pelas vítimas de perseguição, bem como para defender aqueles que sofrem discriminação por causa da sua fé».

Em Julho de 2023, Francisco anunciou a criação de uma “Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé”, no Dicastério para as Causas dos Santos, no contexto da celebração do próximo Jubileu, no Ano Santo de 2025.

O novo organismo vai «elaborar um catálogo de todos os que derramaram o seu sangue para confessar Cristo e testemunhar o seu Evangelho».

A iniciativa vai prosseguir a dinâmica iniciada no Ano Santo de 2000, no pontificado de São João Paulo II.

«A investigação vai dizer respeito não só à Igreja Católica, mas vai estender-se a todas as confissões cristãs. Também no nosso tempo, no qual se assiste a uma mudança de época, os cristãos continuam a mostrar, em contextos de grande risco, a vitalidade do Baptismo comum», precisava o Papa.

Em Maio de 2023, Francisco anunciou a decisão de inserir os 21 cristãos coptas mortos pelo Estado Islâmico na Líbia, em 2015, no elenco do Martirológio Romano.

Segundo a Agência FIDES, do Vaticano, entre 1990 e 2000 houve registo de 604 missionários mortos, incluindo as vítimas do genocídio do Ruanda (1994), que causou pelo menos 248 vítimas entre o pessoal eclesiástico.

Já nos anos de 2001 a 2023, o número total de agentes pastorais mortos foi de 564.

O Papa tem repetido a convicção de que os mártires «são mais numerosos» na actualidade do que nos primeiros séculos do Cristianismo, falando num «ecumenismo de sangue».

A 7 de Maio de 2000, durante o Grande Jubileu, estas pessoas foram lembradas numa celebração ecuménica, que reuniu no Coliseu de Roma representantes das Igrejas e comunidades eclesiais de todo o mundo.

A Igreja Católica assinala a 24 de Março uma jornada anual de oração e jejum pelos missionários mártires, promovida pelo movimento juvenil das Obras Missionárias Pontifícias, no aniversário da morte de D. Óscar Romero, assassinado em 1980; o arcebispo de San Salvador foi canonizado pelo Papa Francisco, em 2018.

Já em 2019, no arranque do Sínodo especial para a Amazónia, foram recordados os mártires da região.

In ECCLESIA

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