O encontro com o Deus verdadeiro
O termo deriva do Latim, “conversio”, que significa “voltar-se”. Trata-se de uma mudança de conduta moral ou religiosa. Pode ser súbita, como a de São Paulo na estrada de Damasco, ou como a de Santo Inácio de Loiola (1522), ou até como a de Charles de Foucauld (1886). A maior parte das vezes é algo que resulta, ou surge como conclusão, de uma longa evolução espiritual.
Na mudança para algo completamente oposto, muitos referem que a conversão pode ser radical. Pode também entender-se como a prática religiosa de alguém que adopta como suas as crenças da comunidade de crentes a que passa a pertencer. Para a comunidade que abandona, passa a ser apóstata ou renegado, se a crença que deixa é diferente da nova.
A conversão não é um rito de passagem ou de iniciação. As pessoas convertem-se a uma religião diferente por vários motivos, incluindo conversão activa por livre escolha devido a uma mudança de crenças, conversão secundária, conversão no leito da morte, conversão por conveniência, conversão conjugal e conversão forçada. Advém aqui o conceito de proselitismo, como o processo de tentar converter outra pessoa de uma religião ou sistema de crenças diferente através da persuasão.
No Cristianismo, fenomenologicamente, a conversão tem três “modos”: alguém que se converte ao Cristianismo, mas sem ser anteriormente cristão; um cristão que passa de uma confissão cristã a outra; ou um desenvolvimento espiritual particular, às vezes chamado de “segunda conversão” ou “conversão dos baptizados”. A conversão ao Cristianismo é a conversão religiosa de um indivíduo anteriormente não-cristão a alguma forma de Cristianismo. A admissão ao Cristianismo é tradicionalmente feita através do baptismo, que é considerado um sacramento de admissão. O baptismo é o sacramento pelo qual se entra num processo de conversão inicial. A conversão do coração envolve penitência, pelo que a conversão pode assim fazer parte, na Igreja Católica, do sacramento da penitência e da reconciliação.
“Ide e ensinai” foi um dos mandamentos de Jesus aos Apóstolos, instados por isso a fazerem “discípulos de todas as nações”. Esta partilha da Boa Nova (Evangelhos) é uma expectativa dos cristãos, a de suscitar a conversão.
No Novo Testamento, usa-se o termo grego ἐπιστρεφω (epistrepho), que significa “voltar-se para”, conceito esse que está relacionado com Jesus, ou Deus. A conversão de São Paulo, ocorrida na estrada de Damasco, é a mais famosa das conversões narradas no Novo Testamento (Actos dos Apóstolos 9, 1-18). Na Vulgata Latina (Actos 15, 3), na Patrística (Santo Agostinho, Civitas Dei, XXIV), bem como no Latim eclesiástico mais tardio, o termo “conversio” alude a uma mudança moral, a um retorno, ou mesmo o retorno a Deus e à verdadeira religião, tendo sido este significado que passou para a modernidade. Pode-se dar como exemplo as “conversões” de São Paulo, do imperador romano Constantino, o Grande, ou a de Santo Agostinho.
Na Idade Média, a palavra “conversão” era frequentemente usada no sentido de se deixar o mundo e entrar no estado religioso, ou seja, na vida monástica ou conventual, de acordo com uma regra de vida. São Bernardo de Claraval é nesse sentido que refere a sua conversão. Entendia-se também por conversão o retorno do pecador a uma vida virtuosa. Também aparece a conversão de um infiel à verdadeira religião ou a conversão de um cismático ou herege à Igreja Católica. Assim, porque todos devem, pela lei natural, procurar a verdadeira religião, o Concílio Vaticano I definiu como um dogma da Igreja que o homem pode, com a luz natural da razão, chegar a um certo conhecimento da existência do único Deus verdadeiro.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa