PAIS DA IGREJA (34)

PAIS DA IGREJA (34)

Máximo de Turim: pai espiritual e líder civil

O próximo Pai da Igreja que vamos estudar é um discípulo dos Santos Eusébio de Vercelli e Ambrósio de Milão, os quais abordámos na última edição. Este discípulo, de nome Máximo, tornou-se o primeiro Bispo de Turim. Alguns autores estabelecem o seu nascimento por volta de 380. O que temos a certeza é que se tornou bispo de Turim em 398. Pouco se sabe sobre a sua vida, mas deixou uma colecção de mais de cem sermões e seis tratados. Morreu em 465.

As incursões bárbaras ameaçavam Turim à época em que Máximo foi bispo. Havia muitos soldados e refugiados na cidade. Os ricos, porém, não estavam dispostos a ajudá-los. Por isso, São Máximo falou abertamente contra a sua atitude. O Papa Bento XVI comenta: “As intervenções de Máximo, perante esta situação, testemunham o compromisso de reagir à degradação civil e à desagregação. Mesmo se permanece difícil determinar a composição social dos destinatários dos Sermões, parece que a pregação de Máximo para superar o risco da generalidade se dirigisse de modo específico a um núcleo seleccionado da comunidade cristã de Turim, constituído por ricos proprietários de terras, que tinham as suas posses no campo em volta de Turim e a casa na cidade. Foi uma lúcida escolha pastoral do Bispo, que entreviu neste tipo de pregação o caminho mais eficaz para manter e fortalecer o próprio vínculo com o povo” (Audiência Geral de 31 de Outubro de 2007).

Bento XVI cita, especificamente, o Sermão 17, em que Máximo lamenta: “Ninguém pensa nas necessidades dos outros. (…) De facto, muitos cristãos não só não distribuem os próprios bens, mas subtraem também os dos outros” (Sermão 17, 2-3).

O Santo Padre comenta: “Sem o evidenciar demasiado, Máximo chega assim a pregar uma relação profunda entre os deveres do cristão e os do cidadão. Aos seus olhos, viver a vida cristã significa também assumir os compromissos civis. Ao contrário, cada cristão que, ‘mesmo podendo viver com o seu trabalho, captura a vítima do próximo com a fúria das feras’; quem ‘insidia o seu vizinho, que todos os dias procura corroer os confins do outro, apoderar-se dos produtos’, não é sequer semelhante à raposa que degola as galinhas, mas ao lobo que se lança contra os porcos (Sermão 41, 4)” (Audiência Geral de 31 de Outubro de 2007).

As incursões bárbaras levaram ao colapso da autoridade civil do Império Romano e deixaram Máximo como a única pessoa com autoridade para exercer um verdadeiro controlo sobre a cidade. Este facto levou-o a encorajar os fiéis a cumprirem não só os seus deveres religiosos, mas também as suas obrigações civis, como o pagamento de impostos. Ensinou-lhes que para serem bons cristãos, também deviam ser bons cidadãos.

Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, no ponto 2239, “é dever dos cidadãos colaborar com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade. O amor e o serviço da pátria derivam do dever da gratidão e da ordem da caridade. A submissão às autoridades legítimas e o serviço do bem comum exigem dos cidadãos que cumpram o seu papel na vida da comunidade política”.

O Papa Bento XVI conclui sublinhando a necessidade de os cristãos viverem a unidade de vida: “Gostaria de recordar quanto diz a Constituição pastoral Gaudium et spes para iluminar um dos aspectos mais importantes da unidade de vida do cristão: a coerência entre fé e comportamento, entre Evangelho e cultura. O Concílio exorta os fiéis a ‘cumprir fielmente os próprios deveres terrenos, fazendo-se guiar pelo espírito do Evangelho. Erram aqueles que, sabendo que nós não temos neste mundo uma cidadania estável, mas que procuramos a futura, pensam poder por isso descuidar os próprios deveres terrenos, e não reflectem sobre o facto de que, ao contrário, precisamente a fé os obriga ainda mais a realizá-los, segundo a vocação de cada um’ (Gn., 4, 10). Seguindo o magistério de São Máximo e de muitos outros Padres, façamos nossos os votos do Concílio, que os fiéis se sintam cada vez mais desejosos de ‘desempenhar todas as suas actividades terrenas, unindo os esforços humanos, domésticos, profissionais, científicos e técnicos numa única síntese vital juntamente com os bens religiosos, sob cuja altíssima direcção tudo é coordenado para glória de Deus’ (ibid.), e assim para o bem da humanidade” (Audiência Geral de 31 de Outubro de 2007).

Pe. José Mario Mandía

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *