PÁTRIA “regressa” a Macau cem anos depois
O documentário com que o realizador Diogo Vilhena pretende assinalar o centésimo aniversário do Raid Aéreo Vila Nova de Milfontes-Macau deverá estrear em simultâneo, na sua versão final, em Macau e Portugal a 10 de Junho de 2025, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Essa é pelo menos a intenção do documentarista, que se encontra no território a filmar o projecto.
A vinda a Macau, assume Diogo Vilhena, tem por objectivo localizar eventuais vestígios da extraordinária travessia protagonizada por Brito Pais e Sarmento de Beires, e procurar perceber que ecos teve a gesta no território. Um século depois da longa epopeia aérea, recriar os passos dos dois aviadores é um trabalho quase detectivesco, mas a deslocação a Macau ajudou a completar a produção do documentário. «As dificuldades têm sido os nossos melhores aliados. Na verdade, a cada esquina há uma informação que completa aquilo que já se sabia e, de repente, conseguimos montar as peças do puzzle e perceber como é que tudo aconteceu há cem anos. Permite-nos perceber como foram recebidos. Por exemplo, os alunos do Seminário escreveram um poema em Cantonense para agradecer este feito dos aviadores. O próprio Brito Pais participou numa conferência que foi feita no teatro D. Pedro V. Houve, portanto, uma série de ecos que agora se começam a materializar em Macau», explicou Diogo Vilhena.
No entanto, nem tudo é indelével na memória do Raid Aéreo Portugal-Macau. As marcas tangíveis da epopeia protagonizada pelos dois aviadores e pelo mecânico Manuel Gouveia são escassas, mas ainda existem tanto em Macau, como em Hong Kong. «Cem anos é muito tempo. Contudo, existem coisas fantásticas, como uma placa que está no Leal Senado, dentro do próprio Leal Senado, na porta de saída, do lado esquerdo, que dá conta dessa presença. Existe a memória nos arquivos dos jornais da altura, que estavam mais ligados com a questão das notícias de Portugal, mas que descrevem os eventos que aconteceram. E existe um arquivo fotográfico de 1924 e de 1925, que representa Macau como os pilotos a conheceram», elencou o documentarista. «Em Hong Kong, no Club Lusitano, está o que resta da hélice do avião PÁTRIA II, aquele que conseguiu, mais uma vez, ter apoio do povo português para dar continuidade à viagem, depois do acidente que houve na Índia, em Carachi. Estamos a juntar as várias peças, os vários elementos de que dispomos para contar a história, para depois montar um documentário que possa ser um documento único, que possa divulgar esta missão que aconteceu há cem anos», acrescentou Diogo Vilhena, em declarações a’O CLARIM.
Negligenciada pelo poder político, ou não tivesse Sarmento de Beires se posicionado como opositor ao Estado Novo, a travessia Vila Nova de Mil Fontes-Macau foi abençoada pela Igreja Católica – Brito Pais era, pois, «um homem devoto e profundamente religioso». «O PÁTRIA, o Breguet XVI que foi utilizado na primeira parte da viagem, foi baptizado em Vila Nova de Mil Fontes no dia 5 de Abril de 1924 pelo então bispo de Beja, que foi companheiro dos dois pilotos no Corpo Expedicionário Português, durante a Primeira Guerra Mundial. Houve apoio da Igreja, tanto que depois a família até atribuiu alguns terrenos à Santa Casa da Misericórdia, para que se fizesse obra social. Ou seja, não existia nada contra a Igreja ou contra a mensagem de Deus, mas sim contra a mensagem que alguns homens queriam impôr aos outros», notou Diogo Vilhena.
Ainda em fase de produção, uma primeira versão do documentário deverá ser projectada já a 21 de Setembro, no encerramento das celebrações do centenário da expedição.
M.C.