Pragas e perseguições duradoiras
Cecílio Cipriano Táscio foi o segundo teólogo africano depois de Tertuliano, muito influenciado por este último (Cipriano chamou Tertuliano de “o mestre”, diz São Jerónimo no seu “De viris illustribus” [Sobre homens ilustres]). Cipriano foi o primeiro bispo africano a sofrer o martírio (258 d.C.).
O seu carácter, porém, contrastava com o rigorismo de Tertuliano. Ele possuía “aquelas nobres qualidades de coração que atraem caridade e gentileza, prudência e espírito de união” (Quasten, II, pág. 340).
Cipriano nasceu, provavelmente, em Cartago, entre 200 e 210 d.C., no seio de uma família pagã rica e educada. Era um homem eloquente. A insatisfação com a imoralidade na vida pública aproximou-o da fé. Converteu aos 35 anos de idade.
Na sua obra “Ad Donatum”, narra o seu caminho espiritual: “Quando eu ainda estava deitado nas trevas e na noite sombria, costumava considerar extremamente difícil e exigente fazer o que a misericórdia de Deus me sugeria. Eu próprio estava preso pelos inúmeros erros da minha vida anterior, dos quais não acreditava que pudesse ser libertado, por isso estava disposto a aquiescer aos meus vícios apegados e a condescender com os meus pecados…”.
“Mas depois disso, com a ajuda da água do novo nascimento, a mancha da minha vida anterior foi lavada, e uma luz do alto, serena e pura, foi infundida no meu coração reconciliado (…) um segundo nascimento restaurou-me e fez-me novo homem. Então, de uma maneira maravilhosa, todas as dúvidas começaram a desaparecer (…). Compreendi, claramente, que o que primeiro vivia dentro de mim, escravizado pelos vícios da carne, era terreno; e que, em vez disso, o Espírito Santo operou dentro de mim algo divino e celestial”, escreve.
Logo depois de se converter, “foi elevado ao Sacerdócio e em 248 d.C., ou início de 249 d.C., foi eleito bispo de Cartago ‘pela voz do povo’, mas contra a oposição de alguns presbíteros idosos (Quasten, II, pág. 341). Durante o seu tempo de bispo houve duas perseguições: a de Décio (250) e a de Valeriano (257-258)” (cf. Bento XVI, Audiência Geral de 6 de Junho de 2007.
A perseguição trouxe um novo problema: os Lapsi. Eram cristãos, não fiéis à sua crença durante a perseguição, mas queriam voltar a juntar-se à comunidade, o que causou nova divisão na comunidade, entre laxistas e rigoristas. Depois de um sínodo, em Maio de 251, foi decidido que todos os lapsi receberiam perdão. Um período de penitência foi prescrito dependendo da gravidade da ofensa.
Outro desafio que enfrentou foi a praga atribuída aos cristãos e que, portanto, provocou nova perseguição. Mesmo assim, Cipriano procurou atender todos os enfermos, fossem cristãos ou não. E exortou todos os fiéis a fazerem o mesmo. Também lembrou aos crentes que embora alguém possa perder a vida e os bens terrenos, o que realmente importa é o que eles armazenam no céu.
Cipriano ensinou que “extra Ecclesiam nulla salus” (“fora da Igreja não há salvação” – Epístola 72, nº 21). O Catecismo da Igreja Católica refere que este ensinamento “significa que toda a salvação vem de Cristo […] a Igreja é o seu Corpo” (CIC nº 846; cf. nos 847-848). Afirmou que “ninguém pode ter Deus como Pai, se não tiver a Igreja como mãe” (“De ecclesiae unitate” – “Sobre a unidade da Igreja”). No mesmo documento ensina que a unidade da Igreja se funda em Pedro. Pergunta: “se um homem abandona a Cátedra de Pedro, sobre a qual a Igreja foi construída, ele pensa que está na Igreja?” (nº 4).
Um dos preciosos legados de São Cipriano é o seu ensinamento sobre a oração, em particular, o seu “Tratado sobre o Pai Nosso”: “Antes de todas as coisas, o Mestre da paz e o Mestre da unidade não gostaria que a oração fosse feita individual e individualmente como para quem ora. Quem o faz, que o faça para si mesmo, que ore apenas por si mesmo. Pois não dizemos ‘Meu Pai, que estais nos céus’, nem ‘O pão meu de cada dia dá-me hoje’; nem cada um pede que apenas a sua própria dívida lhe seja perdoada; nem pede apenas para si mesmo que não seja levado à tentação e libertado do mal. A nossa oração é pública e comum; e quando rezamos, não rezamos por um, mas por todo o povo, porque nós, todo o povo, somos um” (Tratado 4, nº 8).
Além disso, Cipriano ensina que devemos orar não só com os lábios, mas também com o coração – “porque Deus é quem ouve, não da voz, mas do coração” (nº 4).
Pe. José Mario Mandía