PAIS DA IGREJA (10)

PAIS DA IGREJA (10)

A Razão encontra a Fé

Estamos agora na Era Sub-apostólica (Século II), onde encontramos os Apologistas Gregos. Os primeiros, entre eles, são Quadrato, Aristides de Atenas e Aristo de Pela (cf. Johannes Quasten, I, págs. 190-195).

Quadrato é o mais antigo apologista do Cristianismo, mas o que sabemos sobre ele vem através de Eusébio de Cesareia, que escreveu a “História da Igreja” (ou “História Eclesiástica”), no Século IV. É por isso que Eusébio é chamado de “Pai da História da Igreja”.

Assim como Quadrato, Aristides – um filósofo de Atenas – escreveu um pedido de desculpas dirigido ao Imperador Adriano. Vimos da última vez que uma das preocupações dos Apologistas era mostrar que o Cristianismo não era rival do Estado.

Aristo de Pela, por seu lado, fez uma defesa da Fé, dirigida aos judeus. A sua obra é a primeira apologia conhecida dirigida ao Judaísmo, mas só sabemos disso através de Eusébio.

Veio, então, Justino, o Mártir – o mais importante entre os apologistas do Século II. Nasceu de pais pagãos por volta de 100 d.C., mas tinha uma qualidade notável: a sede pela verdade. Como afirmou o Papa Bento XVI, Justino “procurou por muito tempo a verdade, peregrinando nas várias escolas da tradição filosófica grega” (Audiência Geral de 21 de Março de 2007). Justino “é o primeiro escritor eclesiástico que tenta construir uma ponte entre o cristianismo e a filosofia pagã” (Quasten, I, pág. 198).

Justino construiu uma ponte entre a Fé e a Razão, recorrendo a um termo que provém dos filósofos gregos: “Logos” (“palavra”, “razão” ou “plano”). Nas obras de Justino que sobrevivem até aos nossos dias (duas Apologias e o “Diálogo de Justino com Trifão”), “Justino pretende ilustrar antes de tudo o projecto divino da criação e da salvação que se realiza em Jesus Cristo, o Logos, isto é o Verbo eterno, a Razão eterna, a Razão criadora” (Bento XVI, Audiência Geral de 21 de Março de 2007).

Na mesma Audiência Geral, Bento XVI continua: “Cada homem, como criatura racional, é partícipe do Logos, leva em si uma ‘semente’, e pode colher os indícios da verdade. Assim o mesmo Logos, que se revelou como figura profética aos Judeus na Lei antiga, manifestou-se parcialmente, como que em ‘sementes de verdade’, também na filosofia grega”. Estas sementes da verdade, diz Justino, pertencem, portanto, ao Cristianismo (cf. Segunda Apologia 13, 4).

Quando Justino “defende a fé contra os incrédulos, ele enfatiza antes o seu apelo à razão. Esforça-se para indicar as semelhanças existentes entre o ensino da Igreja e o dos pensadores e poetas gregos, a fim de demonstrar que o cristianismo é a única filosofia segura e proveitosa” (Quasten, I, pág. 207).

Justino argumentou que o Antigo Testamento e a Filosofia Grega são dois caminhos que convergem em Cristo. O Antigo Testamento é um símbolo de algo que se torna real no Novo Testamento. A Filosofia Grega, por outro lado, conduz a Cristo, da mesma forma que uma parte nos dá um vislumbre do todo.

A religião pagã aderiu a mitos irracionais, mas o Cristianismo, por outro lado, é uma crença que envolve a Razão. Sem Razão, a religião pagã foi “reduzida a um conjunto artificial de cerimónias, convenções e hábitos da verdade do ser” (Bento XVI, Audiência Geral de 21 de Março de 2007).

Tal lembra-nos, cristãos, que devemos usar a Razão para explorar e aprofundar a nossa Fé. A nossa é uma “fides quaerens intellectum” (“fé que busca a compreensão” – Santo Anselmo de Cantuária). Se um católico não fosse formado intelectualmente na sua Fé, a sua religião seria apenas reduzida a “cerimónias, convenções e costumes” sem sentido. Este é um desafio para todos nós, especialmente para os pais que precisam criar os filhos na Fé, ensinada pelo Logos. Precisamos «estar sempre preparados para defender qualquer um que os chame para prestar contas da esperança que há em vós, mas façam isso com gentileza e reverência» (1 Pedro 3, 15).

São Justino foi decapitado por volta do ano 165 “sob o reinado de Marco Aurélio, o imperador filósofo ao qual o próprio Justino tinha dirigido a sua Apologia” (Bento XVI, Audiência Geral de 21 de Março de 2007).

Pe. José Mario Mandía

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