A incrível Graça do Natal
Um grupo de turistas visitou uma pequena cidade na Velha Castela, em Espanha. A cidade rural estava quase abandonada, morando lá apenas algumas pessoas. Os turistas encontraram um agricultor e perguntaram-lhe: «– Provavelmente nascem aqui poucas crianças todos os anos, não é?». O agricultor respondeu: «– Só uma criança por ano: aquela que colocamos no Presépio de Natal». No Natal, o Menino divino renasce na nossa liturgia, nos nossos corações – se estivermos preparados para recebê-lo.
Isaías profetizou: «Um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido…» (Is., 9, 6). São Paulo: «A graça de Deus se manifestou salvadora para todas as pessoas» (Tito 2, 11). O Anjo aos pastores: «Eis que vos trago boas notícias de grande alegria, e que são para todas as pessoas: Hoje, na cidade de David, vos nasceu o Salvador, que é o Messias, o Senhor! Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em panos e deitado sobre uma manjedoura» (Lc., 2, 10-12).
Através do Natal, celebramos a Natividade do Senhor. Durante o lindo tempo do Natal, contemplamos o mistério da Encarnação do Filho Unigénito de Deus, Jesus Cristo, no ventre de Maria, sua Mãe. Graça surpreendente: «Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigénito» (Jo., 3, 16). Por que uma Graça tão incrível? O motivo principal da encarnação de Cristo é a redenção da humanidade (São Tomás de Aquino).
Deixe-me compartilhar com o leitor algumas histórias – e citações significativas – que podem ser úteis tanto para vós como para mim.
1– Uma canção de Natal da Bélgica conta-nos algo verdadeiramente comovente: Os pastores vão oferecer presentes ao Menino Jesus: queijo, mel, um cordeiro… Um pastor vai de mãos vazias. Por que razão adora o Menino sem nenhum presente? O pastor explica: «– Trago apenas a minha surpresa!». Cada Natal traz para nós, crentes, uma surpresa inimaginável: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós (cf. Jo., 1, 14). Que surpresa sublime! Que beleza incomparável! São João de Deus adorou: “Se queres ver e contemplar a beleza da terra, pede ao Senhor que te dê: olhos para ver uma jovem com uma criança nos braços num pórtico de Belém. Não há nada mais bonito”.
Como respondemos à surpresa única do mistério do nascimento de Jesus? Esforçando-me – sugiro – por celebrar o Natal com a atitude correcta: uma atitude orante, humilde, esperançosa e alegre.
2– Uma grande família de uma cidade rural vai à Missa do Galo, à meia-noite do Dia de Natal, excepto um jovem que fica em casa. Porquê? Porque não quer acreditar que Deus se tornou homem. Isto é – segundo ele – impossível! Houve naquela noite uma forte tempestade de neve. Estava vento e tudo congelado. Da janela do seu quarto, avista um bando de pássaros no quintal: os pássaros procuram abrigo. Ele tenta ajudá-los, abrindo-lhes a porta do celeiro, mas os pássaros ficam com medo e não o seguem. Então coloca migalhas de pão no caminho que os levará até ao celeiro. Sem resultado! Tenta, pois, conquistar-lhes a amizade: anda ao mesmo tempo que levanta os braços, como se também ele voasse. Mais uma vez, sem resultado! E logo o jovem entende algo: “Se eu pudesse ser um pássaro por um instante, talvez pudesse salvá-los”. Nesse exacto momento – conta a história –, ele ouve os sinos da igreja tocando a Glória do Natal e toma consciência do mistério da Encarnação: “Agora – diz ele – vejo porque Deus se tornou um de nós: para nos salvar” (Louis Cassels).
Jesus tornou-se o que somos para que nos tornemos o que Ele é (Santo Atanásio).
3– Uma Peça da Natividade é encenada por crianças pequenas. Os seus pais e professores estão presentes. Entraram os anjos, depois os pastores, e depois Maria e José. Eles procuram (em Belém) um lugar para ficar e onde Maria possa dar à luz o nascituro Menino Jesus. Maria e José bateram à porta da estalagem e uma criança de seis anos abriu a porta. José perguntou-lhe: «– Por favor, podemos arranjar um quarto para passar a noite?». O proprietário da estalagem respondeu: «– Desculpe, não há lugar na estalagem». Imediatamente, o menino disse (esta parte é inventada pelo autor da história): «– Espere aí! Não vá embora. Vós podeis ficar com o meu quarto» (Margaret Silf).
Que Jesus tenha o meu quarto, ou seja, o meu coração! E o do leitor, Ele pode? “Cada um de nós é um estalajadeiro que decide se há lugar para Jesus” (Max Maxwell). Ele novamente virá este Natal. Não haverá, mais uma vez, lugar para Jesus em corações orgulhosos, egoístas, implacáveis e insensíveis. Porém, com a Graça disponível de Deus, haverá sempre a possibilidade de arrependimento: hoje, porque o amanhã nunca chega!
Ter hoje um lugar para Jesus significa, sobretudo, ser verdadeiramente sensível para com os necessitados que habitam entre nós. Palavras para reflectir: “Cristo está sempre connosco e sempre pede espaço nos nossos corações… Tenho a certeza de que os pastores não O adoraram e depois foram embora, deixando Maria e o seu Menino no estábulo. Antes pelo contrário, arranjaram espaço para ali ficar, embora tudo em seu redor fosse bastante primitivo. Se não soubéssemos sobre as próprias palavras de Cristo, pareceria uma loucura delirante acreditar que ao oferecer uma cama, comida e hospitalidade no Natal – ou em qualquer outro momento, aliás – o meu convidado é Cristo…” (Dorothy Dia). Sim, no fundo da verdadeira manjedoura podemos ler estas palavras invisíveis de Jesus, o pregador: «O que fizestes para algum destes meus irmãos, mesmo que ao menor deles, a mim o fizestes» (Mt., 25, 40).
O Nascimento de Jesus está intimamente ligado à Eucaristia: “Maria foi o primeiro sacrário que carregou Cristo dentro de si e deu à luz Aquele que diria: ‘Eu sou o pão vivo que desceu do céu’” (Fulton Sheen). Durante o tempo do Natal, celebremos a Sagrada Eucaristia com fé esperançosa, gratidão alegre e, acima de tudo, com uma atitude de adoração humilde e amorosa.
Maravilhoso: a Graça incrível e impressionante do Natal, a celebração do nascimento de Jesus. Maria e José, roguem por nós!
Fausto Gomes, OP