Os “velhos” e os “novos”

5 de Outubro de 2016: a República de Portugal festeja 106 anos de existência. Mais de um século de altos e baixos (mais baixos do que altos…) com muitos dos portugueses a definharem-se por dias melhores e a envelhecerem com a dignidade que lhes é permitida por crises económicas que não criaram e pelos achaques próprios da sua idade. Uma população idosa deste país com uma pensão mínima de velhice com mais três euros do que há quarenta anos atrás, em que noventa por cento das pessoas com 65 ou mais anos seriam pobres sem as transferências sociais e que, mesmo com elas, a sua taxa de risco de pobreza é de 17 por cento.

Na expectativa de que a centenária República Portuguesa não envelheça nestas condições, muitos dos actuais “velhos” continuam a exercitar a imaginação e o espírito crítico, para renovar os ideais republicanos, opondo-se a que alguns dos “novos”, impreparados para as dificuldades da vida e encharcados em conceitos individualistas e de elevado relativismo moral, os “arrumem” na prateleira das inutilidades, conduzindo a República a seu belo prazer.

E, porque a propósito, na semana passada foi o Dia Internacional do Idoso, convém continuar a lembrar alguns dos recentes resultados estatísticos obtidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), organismo que prezo pela sua fiabilidade e sentido de utilidade pública.

Diz-nos a FFMS que, há trinta anos, os pensionistas e reformados em Portugal eram uma em cada quatro pessoas activas. Actualmente são, praticamente, uma em cada duas pessoas activas! Situação dramática em vários aspectos, entre os quais o facto de o País estar com uma enorme população envelhecida, com consequências inevitáveis na produção económica, nos regimes sociais, na desertificação populacional de certas regiões do País, enfim, na inversão da marcha demográfica essencial à sobrevivência de qualquer nação.

As razões apontadas para tudo isto podem ser especulativas, senão enganosas, se forem adoptadas num sentido único.

Alguns dizem que este fenómeno se deve à acentuada crise económica que nos tem atingido, conduzindo os casais a diminuírem o número de filhos, ou mesmo a se absterem de os ter. Na mesma linha, apontam o desemprego ou o emprego precário, como elemento que afecta a estruturação da família e a sua constituição tardia e, ao mesmo tempo, a base económica familiar suficiente para suprir os gastos com a educação das crianças.

Não estando em desacordo com estas justificações, sem conjecturar sobre os reais motivos dos casais para tomarem esta decisão, acho que existem outras motivações societárias que se lhe associam, até porque e ao inverso os países onde se verificam maior número de nascimentos são países em que as famílias vivem com muito mais dificuldades do que as nossas.

Esta nova geração portuguesa em idade de procriar, na sua maioria dos casos, é muito diferente da geração de sexagenários a que satisfatoriamente pertenço.

Se bem que os seus “rituais de acasalamento” (com efeitos práticos…) comecem mais cedo, o ideal de constituição familiar só chega muito mais tarde e, após a sua conclusão (quando acontece), as prioridades do casal, sujeitas ao ideário social em vigor, estão submetidas a outros parâmetros. A utilização da sua liberdade individual, ou do casal, na procura de experiências que os distingam, na utilização do seu tempo, nos estilos de vida, na aquisição de bens, tal como as suas contrariedades em assumirem responsabilidades por eventuais descendentes ou, pura e simplesmente, os considerarem um aborrecimento e um estorvo para a sua vida expectável comum, estão na base do seu comportamento. A acrescentar a tudo isto, a futilidade dos motivos que conduzem à actual facilidade dos divórcios e o número crescente de “uniões de facto”, suscitam-lhes dúvidas sobre a duração dos compromissos e, consequentemente, atrasam ou anulam a decisão de conceberem descendentes.

Naturalmente que existem ainda outras razões que, na origem, podem ser aduzidas a este inventário de motivos. Por benefícios sociais, dependência parental (opcional ou obrigatória) ou por “filosofia” de vida, os jovens prolongam o seu estatuto etário até muito mais tarde do que as gerações anteriores, atrasando a sua entrada na vida adulta, cujo efeito retardador se faz sentir na constituição familiar.

Prolongar as nossas gerações torna-se assim, além de um imperativo nacional, a atitude necessária à manutenção da família como a unidade básica da nossa sociedade e indispensável ao estreitamento dos laços afectivos que nos unem.

Que, neste caso concreto, os jovens adultos façam as suas “obrigações” que nós, os “velhos”, já as fizemos!

LUIS BARREIRA

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