Malásia aprovada. Japão, como será?
Todos nos habituámos, nos últimos anos, a corridas enfadonhas, a autênticas procissões, a ponto de alguns comentadores terem avançado com a excêntrica ideia de não se fazer a corrida em si – bastava os treinos e as qualificações, visto que ficava tudo na mesma no final da cada corrida. Atribuíam-se os prémios de acordo com os tempos efectuados e esqueciam-se as eventuais falhas mecânicas, os acidentes, etc. Como se quer reduzir os custos sempre crescentes da Fórmula 1, este seria um meio de alcançar tal objectivo. Nunca ninguém entendeu se isto era uma anedota, uma brincadeira, ou se estavam a falar a sério.
O domínio absoluto da Ferrari no início deste século, com o alemão Michael Schumacher a amealhar cinco títulos consecutivos, logo seguido do espanhol Fernando Alonso (em Renault) com dois títulos, e de outro alemão, Sebastian Vettel (em Red Bull), com quatro troféus seguidos, levou a que as regras mudassem todos os anos desde esse período. Este ano não foi excepção, o que não impediu que a Mercedes e os seus dois pilotos, o britânico Lewis Hamilton e o “alemão” Nico Rosberg, continuem a passear a classe dos carros alemães. Só por um grande azar, em que ambos se vejam incapacitados de completar as cinco corridas que faltam, é que não irão terminar nos dois primeiros lugares do campeonato de pilotos. Já na próxima corrida, no Japão, a Mercedes deverá voltar a conquistar o título de construtores, pelo terceiro ano consecutivo.
Tudo isto tem contribuído para a “desertificação” das bancadas nos autódromos e a redução de audiências e venda de revistas e jornais especializados. Mas… e há sempre um “mas”.
No passado Domingo, na Malásia, tudo saiu certo: emoção aos molhos, duelos roda com roda, mesmo entre companheiros de equipa e entre carros que rodavam no fim do pelotão. Os dois Red Bull, do australiano Daniel Ricciardo e do holandês Max Verstappen, deram um espectáculo de condução, como há muito não se via.
Nas ultimas quinze voltas Ricciardo confirmou a sua qualidade e o porquê de ser o primeiro piloto da equipa das bebidas energéticas, relegando o “menino maravilha” da Fórmula 1 para um muito desmerecido segundo lugar. Mas só pode ganhar um e Ricciardo averbou a quarta vitória na categoria. Toda esta emoção só foi possível com a desistência de Hamilton, que viu o motor do Mercedes desfazer-se em fumo, quando liderava confortavelmente. Talvez venha a ser penalizado com trinta lugares na grelha de largada por ter que instalar um novo conjunto de motor para o Japão. O seu companheiro de equipa, e maior rival na luta pelo título, Nico Rosberg, foi vítima de uma manobra mal calculada de Sebastian Vettel.
O piloto da Ferrari partiu a suspensão ao bater no Mercedes de Rosberg, tendo este ficado na última posição no final da primeira volta. Tudo parecia acabado para o número dois equipa de Estugarda. No entanto, nunca se vira Rosberg a pilotar como no passado fim de semana. Ultrapassou quem quis, menos os dois Red Bull que estavam já fora de alcance, e acabou em terceiro, não sem antes ter sofrido uma penalização de dez segundos por ter dado um “chega para lá” mais vitaminado a Kimi Raikkonen, que acabou em quarto. Foi emoção do princípio ao fim. E este Domingo, será igual?
A grande incógnita são as condições meteorológicas, sendo que a meteorologia japonesa não parece querer ajudar, prevendo-se céu muito nublado na sexta e chuva no sábado e Domingo da parte da tarde.
Os Ferrari, Mercedes e Red Bull sentem-se à vontade no Circuito de Suzuka, mas não devemos descartar os dois Force India, do alemão Nico Hulkenberg e do mexicano Sergio Pérez, que têm sofrido alguns reveses técnicos, embora até se tenham portado muito bem no passado fim de semana em Sepang, com um sexto lugar para Pérez e um oitavo para Hulkenberg. As outras equipas também saíram revigoradas com os resultados alcançados na Malásia, especialmente a Mclaren, que conseguiu colocar os dois carros nos dez primeiros lugares, com o espanhol Fernando Alonso em sétimo e o britânico Jenson Button em nono. A Renault alcançou o seu primeiro ponto este ano, que também foi o primeiro ponto de Jolyon Palmer na Fórmula 1.
Se a chuva aparecer em Suzuka, tudo poderá acontecer, até mesmo o cancelamento da prova, pois o fantasma do acidente de Jules Bianchi ainda está demasiado presente.
O nosso palpite, se Hamilton for realmente penalizado, será o de uma luta sem tréguas entre os Red Bull, os Ferrari, o Mercedes de Rosberg e os Force India, que ficarão à espera de um deslize dos seus adversários para capitalizarem mais alguns preciosos pontos.
Os treinos, a qualificação e a corrida estão assim programados: Sexta: Treinos 1, 10:30 – 11:30, Treinos 2, 14:00 – 15:30; Sábado: Treinos 3, 12:00 – 13:00, Qualificações, 15:00 – 16:00; Domingo: Corrida, 15:00 – 17:00. A diferença horária entre o Japão e Macau é de uma hora a mais para o País do Sol Nascente.
Manuel dos Santos