Os Anjos

Enviados de Deus

Anjo? O que é um anjo? Todos falam em anjos, em tanta coisa sobre os anjos, mas afinal o que são? Anjo significa “enviado” ou “mensageiro” (de Deus), quer em Grego – angelos (ἄγγελος) – quer em Latim – angelus; em Hebraico é mal´ach (מֵלְאָךְ), com mesmo significado, ou ben Elohim, que quer dizer “filho de Deus”. São seres, ou entidades, espirituais, logo intangíveis e invisíveis. Misteriosos. Perpassam toda a Bíblia, por exemplo, personagens referidas cerca de 400 vezes naquele conjunto de livros, quer no Antigo quer no Novo Testamento. Mas fazem também fazem parte da fé, das expressões litúrgicas e artísticas, em representações multisseculares do Cristianismo de todos os tempos. A sua existência, no plano da religião, é atestada pelo dogma de fé, o qual lhe atribui aos anjos o papel de intermediários, benéficos, entre o homem e o divino. Jesus foi mesmo, de certa maneira, um Christos Angelos, enquanto “enviado de Deus”, como o seu primo, João, o Baptista, era o “anjo do deserto”. Ténue no início do Cristianismo, a presença dos anjos tornou-se imperativa na Idade Média, sendo então objecto de uma sistematização que os guindou a uma forte representação artística, como posteriormente, também.

Noutros contextos religiosos os anjos têm também seres com funções similares. Numa arqueologia dos anjos, dir-se-ia, descobriríamos paralelismos nas esfinges e grifos assírio-babilonenses, no Bès egípcio, nos “fravashi” persas (“duplo transcendente da pessoa”), ou nas Vitórias gregas (Niké), como nos seus Daimon, ou na Psyché, que se revelam na grande mobilidade pré-clássica e clássica, no conceito dos mal´ach judaicos e depois dos malak muçulmanos, além de ocorrer no Budismo e no Hinduísmo, além do Zoroastrismo. Os anjos não existem, pois, por si mesmos, mas têm existência funcional, ou seja, em função de Deus.

Anjos na Arte, anjo da guarda, anjos a anunciar o Nascimento de Cristo aos pastores, na Anunciação (e a revelar o Alcorão a Maomé…), anjos também na Páscoa, depois na Ascensão, etc. etc… e depois até no Apocalipse, a soar a trombeta para chamar os mortos à vida… os anjos são de facto omnipresentes. Mas vejamos tudo de forma mais clara. A mais influente classificação de anjos foi estabelecida pelo Pseudo-Dionísio, o Areopagita, entre os séculos IV e V, em seu livro “De Coelesti Hierarchia” (“A Hierarquia Celeste”). Assim, temos nove coros de anjos (ou ordens), divididos em três hierarquias. E os anjos “caídos”, como o Demónio.

Na Primeira Hierarquia estão os que estão em contacto directo com Deus: os Serafins, os “que ardem” pelo imenso amor a Deus. Executam castigos divinos, pelo fogo, que usam também para purificar (com seis asas repletas de olhos, símbolo da sabedoria), os Querubins, que se destacam pela sua inteligência (foi Jofiel, um querubim, quem expulsou Adão e Eva do paraíso…), com quatro asas, figurando na Bíblia como esfinges aladas, mais tarde com cabeças de crianças com asas ou putti (têm normalmente cor azul, do céu); e os Tronos, anjos que estão em torno do trono de Deus, que viverão para sempre junto d’Ele, com luminosidade e sempre em direcção ao alto (ou as rodas do “carro de Deus”). Dionísio o Aeropagita dizia que serafim era o incandescente, inflamado, em fogo, a ordem mais alta da hierarquia celeste. São os anjos do Amor, da Luz e do Fogo. Sobre os querubins, o mesmo autor diz que significa o seu nome “plenitude de conhecimento e máximo de sabedoria”. Conhecem a Deus como ninguém.

Na Segunda Hierarquia temos os anjos que presidem e governam as comunidades humanas. São as Dominações, que presidem e governam aos espíritos angélicos da categoria inferior; as Virtudes, que executam ordens e têm a força própria para tal cumprir, podendo também operar milagres; e as Potestades, que desobstaculizam qualquer coisa que possa impedir as Virtudes de trabalhar, além de dominar os demónios e governar as estrelas e os elementos da Natureza.

A Terceira Hierarquia é a das missões concretas e definidas, para além de envio de mensagens. Assim surgem os Principados, que protegem determinada região, com a capacidade de se orientarem para o Princípio e, como príncipes, guiarem os outros até Ele; depois vem o grupo mais famoso, o dos Arcanjos, que protegem grupos ou colectividades de pessoas, levam mensagens de grande importância, tendo sido eles os que lutaram contra os demónios. Os arcanjos reconhecem-se individualmente e são considerados “santos”: São Miguel (“quem como Deus”), São Rafael (“Deus cura”) e São Gabriel (“a força de Deus”), este último o Arcanjo da Anunciação a Maria e mais tarde do Alcorão a Maomé. Ainda na Terceira Hierarquia temos o terceiro grupo, que dá o nome a todos estes seres, o dos Anjos, os quais custodiam pessoas em particular e levam mensagens de menos importância, pertencendo a um grau inferior, pois estão mais próximos do Homem. Estes são representados em idade infantil ou juvenil, sem barba, cabelo louro e encaracolado, de branco vestidos, ou rosa, azul, etc. (significando pureza), sendo cantores ou músicos, aparecendo ainda também como simples soldados, com túnicas simples. Às vezes levam velas ou palmas de triunfo.

Há ainda os anjos maus, caídos, derrotados por São Miguel. São numerosos e enxameiam pelo mundo. Têm nomes como Lucífer, o “filho da luz da manhã”, de origem divina; Satanás, ou Satã, “adversário”, “acusador”; Belzebu, de “Baal-Zebub” ou “Beel-Zebul” (literalmente, “príncipe da porcaria” ou “senhor das moscas”), apelativos do deus cananeo-fenício da fecundidade; Belial; Diabo, ou “o Sedutor”, sinónimo de Satanás; ou Demónio, do Grego Daimon, espírito maléfico; ou Maligno.

Anjos bons, são muitos, infinitos, mas os anjos são acima de tudo símbolos da presença de Deus, das relações misteriosas entre Ele e o mundo.

Vítor Teixeira

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