Meias verdades não bastam!

Já aqui antes tinha reflectido sobre a necessária alteração do comportamento dos partidos políticos portugueses no próximo período eleitoral. Depois de tantos desenganos e adiamentos sucessivos, na prossecução do desenvolvimento nacional e da justiça social que deve prevalecer sobre todos os objectivos partidários, em causa está agora o crescente descrédito popular sobre as suas habituais promessas não cumpridas, porque irrealizáveis ou por manifesta vontade de não as cumprir. Situação que tem conduzido, cada vez mais, a um aumento das abstenções eleitorais, à apatia das populações no processo de desenvolvimento da nossa democracia e ao aparecimento de organizações políticas que exploram esse descontentamento.

Razão pela qual apoio todas as opiniões que vão no sentido de submeter as intenções eleitorais dos partidos concorrentes à análise da sua validade económica e social, quer seja feita por comissões verdadeiramente independentes e credíveis, ou pelo debate contraditório entre as organizações políticas.

De facto e desta vez parece que os nossos partidos, nomeadamente os de maior dimensão, estão mais atentos à responsabilidade das suas propostas governativas, colocando-as à apreciação prévia dos cidadãos, quanto à sua exequibilidade e conformidade com os objectivos a que se propõem.

Cabe-lhes demonstrar que, dentro dos nossos condicionalismos internos e externos, podem proporcionar ao povo uma vida melhor ou explicar como erradicam esses mesmos condicionalismos, mantendo os mesmos objectivos.

Mas embora, no que diz respeito às eleições, a “procissão ainda vá no adro” e os projectos eleitorais estejam ainda numa fase de “aquecimento”, a actual coligação no Governo e candidata ao próximo não tem parado de salientar publicamente os seus “sucessos” actuais, como demonstração da sua eficácia governativa. E porque estas atitudes também são campanha eleitoral é bom avaliarmos se o que afirmam são verdades ou meias verdades, capazes de se transformarem em verdadeiras mentiras.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos ao último trimestre (Janeiro/ Março de 2015), deram motivos ao Governo para, na praça pública, regozijar-se de termos tido um período de crescimento económico neste trimestre. No entanto, esses mesmos dados concluem que essas “décimas” de aumento no crescimento económico escondem outra triste realidade: a de que, no mesmo trimestre, foram destruídos mais 14 mil e 500 empregos. Meias verdades não bastam!

O Governo afirmou que durante a sua legislatura criou cerca de 130 mil empregos, o que, na sua versão, é mais do que se propôs fazer o último Governo. Não sei quantos empregos criou o anterior Governo, o que eu sei é que neste, desde que está a governar, destruíram-se 400 mil empregos, o que equivale dizer que, até ao fim desta legislatura, terá de criar mais 270 mil empregos, se quiser (no mínimo) deixar o emprego como o encontrou quando começou a governar.

Meias verdades não bastam!

Com tantas alterações que tem havido nos métodos estatísticos de apuramento do desemprego, que espero não serem uma forma deliberada para confundir a opinião pública, tem-se hoje uma enorme dificuldade em conhecer os números reais do desemprego. No entanto, o INE diz-nos que o desemprego atinge hoje cerca de 713 mil cidadãos mas, segundo o mesmo Instituto, se adicionarmos os que procuram emprego mas estão indisponíveis e os que não procuram e estão disponíveis, este número sobe para 1 milhão. Se quisermos ir mais longe e somar os empregos “fantasma” – como os que são enviados temporariamente para cursos de formação (a ganhar cento e poucos euros) e que não contam para a estatística – mais os empregos precários a meio tempo (com remunerações miseráveis) e os desencorajados que já não recorrem ao sistema, este número eleva-se a mais de 1 milhão e trezentos mil.

Por isso, se considerarmos o contínuo crescimento (mais 5% neste primeiro trimestre) dos salários mensais de 310 euros (abaixo do limiar de pobreza), bem pode o presidente do PSD prometer um ciclo de prosperidade para a próxima legislatura, como não se vê “há muitos anos”, que os portugueses não lhe deixarão de perguntar: Onde está a outra meia verdade, ou seja, a prosperidade de quem?

Tal como diz o pensador Augusto Barros a propósito das meias verdades, os portugueses dir-lhe-ão “Viver pela metade é ilusão. Tire suas meias. Ponha o pé no chão”.

Luis Barreira

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