Vamos “selfando” e rindo

OPINIÃO

Vamos “selfando” e rindo

Há uns dias o Presidente de todos os portugueses, também conhecido como rei das “selfies”, efectuou uma visita rápida a Macau. E, como é normal nestas visitas presidenciais, houve um grupo de jornalistas que seguiu Sua Excelência para todo o lado. De Portugal foram alguns que aproveitaram para visitar a China – à borla – e que depois foram mandando umas opiniões sobre o que iam vendo, com a sua sapiência e conhecimento “in loco”, de anos de experiência acumulados.

Sobre Macau ainda não consegui ler nada que seja digno de referência, mas acredito que nos próximos dias deverá surgir algum artigo mais aprofundado sobre as virtudes do território e as incongruências de centenas de anos de convivência entre o Ocidente e o Oriente, que em meia-dúzia de horas os tais jornalistas idos de Lisboa parecem rapidamente entender e interpretar. É uma capacidade que os camaradas de Portugal conseguem adquirir, enquanto nós, ou melhor, os que ainda trabalham em Macau, volvidas dezenas de anos e vivência diária deste encontro de culturas, mal conseguem aflorar. Vai-se já tornando normal que jornalistas, e outros que escrevem nos Media de Portugal, depois de uma curta visita a Macau ou à China fiquem rapidamente especialistas em tudo o que se relaciona com o Oriente.

O tema mais recorrente é o facto de Portugal nunca ter aproveitado Macau para entrar no mercado chinês, ou a China apenas olhar para Portugal como porta de entrada no mercado europeu ou nos mercados lusófonos. Mas será mesmo assim? Não terá a China, há muito, descoberto que há outras formas mais eficientes de entrar nestes mercados? Afinal, como é que a China, na última década, conseguiu uma presença tão forte em África, na Europa (não nos esqueçamos que tem investimentos em quase todos os sectores da economia portuguesa) e na América Latina, sem a ajuda de Portugal?

A passagem de Marcelo Rebelo de Sousa pela RAEM serviu, pelo menos, para se ficar a saber que a Escola Portuguesa de Macau vai ter um novo edifício, embora se fale desta possibilidade há mais de dez anos… E que o Instituto Português do Oriente se irá estender a Pequim, algo que também já vem sendo equacionado há uns bons anos, desde os tempos de Ana Paula Laborinho. Mas pronto, fico feliz em saber que agora com Marcelo Rebelo de Sousa tudo se irá tornar uma realidade!(?).

Acompanhei a visita presidencial através do Facebook, uma vez que o programa oficial foi sendo transmitido em tempo real pela plataforma digital. Entre muita histeria, as famosas “selfies” estiveram em evidência, como não podia deixar de ser. E foram muitas as fotografias, com todos os que estiveram presentes e mais alguém que aparecesse, que o professor Marcelo tanto gosta. Não fosse este um exímio estratega de Comunicação Social, e até me deixava convencer que estamos perante um verdadeiro Presidente do Povo.

Num registo mais sério, considero que a visita soube a pouco. Mais não fosse por respeito à presença portuguesa em Macau, o Presidente devia ter estado mais tempo no território, para poder reunir com todas as associações de matriz portuguesa.

Esteve, é verdade, com os conselheiros das comunidades para a Ásia, reuniu com a Casa de Portugal, com a Associação dos Macaenses e com os funcionários do Consulado Geral de Portugal, mas há outras associações e personalidades que têm certamente muitas opiniões e informações importantes para a estratégia de Portugal relativamente a esta parte do mundo. Infelizmente, os nosso políticos andam sempre com muita pressa e nunca têm tempo para ouvir quem lhes pode dar contributos importantes.

As escalas em Macau são sempre muito rápidas, e mesmo quando os políticos portugueses ficaram mais de 24 horas foi com o intuito de irem às compras a Zhuhai. Ora, nos dias que correm, Zhuhai já não é o paraíso para as compras de anteriormente, com o acréscimo da passagem pela fronteira ser uma dor de cabeça. Assim, as “excursões” para a compra de relógios e malas de senhora falsificadas, ou mobília antiga com uma semana de fabrico, já não atraem os viajantes idos do cantinho mais ocidental da Europa. É que os tais relógios e malas podem-se hoje encontrar em qualquer loja na zona do Martim Moniz, em Lisboa. E até mesmo a mobília, pelo que se pagava em Zhuhai, dá para comprar uns bons armários no Ikea, com a vantagem de se passar uma tarde em família a tentar montar os contraplacados.

Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente que os portugueses escolheram. E diga-se que perante as outras opções que estiveram em cima da mesa, até escolheram bem. Olhando actualmente para o panorama político de Portugal deverá ser facilmente reeleito, pois os restantes candidatos para o substituir são ainda piores. E se é para piorar, pelo menos fiquemos como estamos. Marcelo é divertido e boa pessoa, e sabe dar ao Povo aquilo que ele quer: entretenimento e umas boas gargalhadas de tempos a tempos.

João Santos Gomes

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