O futuro ao virar da esquina
É com um misto de emoções (positivas e negativas) que me presto a escrever as derradeiras linhas para a última edição de 2015 do jornal português mais antigo de Macau, ainda em circulação.
No balanço ao ano que termina sinto grande tristeza pelas divisões criadas entre cristãos e muçulmanos, fomentadas por grupos terroristas sedeados no Médio Oriente e em África, mas com ramificações na Ásia, na Europa e no continente americano, tendo ainda em conta que algumas dessas organizações são financiadas por potências ocidentais (e não só).
A miséria semeada pela ganância, por gente desonesta e com falta de escrúpulos, entre outros atributos inarráveis às virtudes humanas, são a pior chaga do Homem, que caminha cada vez mais para o abismo da auto-destruição.
Culpam uns o “status quo” vigente no mundo ocidental, onde os valores democráticos são cada vez mais deturpados, a favor de grupos económicos, políticos corruptos e ideologias obscuras. Culpam outros o conservadorismo de algumas religiões, que não acompanham o progresso civilizacional.
Culpam ainda outros a cegueira das populações do mundo livre, que têm o real poder de mudar o planeta (pelo menos parte dele), mas escusam-se a combater os males quando estão diante das urnas de voto ou se dirimem do exercício de cidadania assente na escolha dos seus governantes. Há também quem culpe a falta de liberdade em vários países onde as ditaduras impõem as suas vontades, em detrimento do bem-comum.
Ninguém tem razão, porque o livre arbítrio permite-nos escolher o caminho a seguir, não sendo por causa desta ou daquela infeliz circunstância que impreterivelmente teremos de nos tornar maquiavélicos ou demoníacos. E não há atenuantes para justificar comportamentos lunáticos, se pensarmos que a fronteira entre o Bem e o Mal está perfeitamente delineada.
Se tivermos em conta a História da Humanidade, há exemplos de verdadeira coragem e abnegação, praticados por quem habitualmente ficou esquecido nas páginas desses anais, que descrevem o percurso de tão sublime criatura de Deus neste planeta chamado Terra.
Invariavelmente, são hoje enaltecidos os feitos de personagens que se fossem vivas, ou não fizessem parte de determinada ordem mundial, certamente seriam acusadas de “crimes de guerra”, de “genocídio” ou de “crimes contra a Humanidade”. Infelizmente, porque tais personagens também representam a grandiosidade dos seus países de origem (ou adoptados), seja na Mongólia, na República Popular da China, nos Estados Unidos, em Portugal, no Reino Unido, em Itália, na França, em Espanha, na Arábia Saudita, na Rússia, na Turquia… e por aí fora.
Caminhada
Quando assimilo o que se passa um pouco por todo o mundo, seja por experiência própria, seja pelo que constato através dos canais de televisão, das rádios ou dos jornais, chego à conclusão que o Homem vive num estado de persistente confusão, porque mais parece não saber que caminho escolher ou para onde vai.
Pura ilusão, ou talvez não – no primeiro caso, por ser isso mesmo que me fazem crer; no segundo caso, por estar certo nesta minha assunção de ideias – sei que há poderes invisíveis (chamem-lhe o que quiserem) a minar cada vez mais a sobrevivência de todos nós. Certamente, para muitos seres humanos o que interessa é o presente, porque o futuro (daqui a dez, vinte, trinta, quarenta ou mais anos) não lhes diz respeito, por não terem oportunidade de vivenciá-lo.
Acredito, porém, que a cegueira não pode prevalecer “ad eternum”, pois estamos a tempo de reverter a caminhada para o abismo, até porque o livre-arbítrio permite-nos trilhar um caminho distinto do actual. Caso esteja errado nesta minha linha de ideias, é lamentável que prevaleça o egoísmo puro, porque o Homem nada mais quer do que apagar a sua História desta imensa Via Láctea.
Cabe a cada um de nós, do poderoso ao mais “pequenino”, contribuirmos para um mundo melhor, porque todos somos importantes para o futuro deste planeta. Acima de tudo, que os erros do passado, registados nos tais anais da História, sejam lições a não esquecer, para que não se repitam ciclicamente.
Pequenez
Nos primeiros dez anos da RAEM era habitual ouvir dizer que Macau era uma terra abençoada, porque estava protegida contra todos os males. Seria quase como se me dissessem que o Pai Natal era real e não uma personagem fictícia, porque durante um curto espaço de tempo até acreditei que o território estivesse sob um manto protector.
Contudo, bastou algumas verdades virem à tona – e que a indústria do Jogo entrasse em espiral negativa – para confirmar o que já sabia há muito tempo: o embuste não dura para sempre.
No caso mais recente, é ponto assente que o corporativismo de vários deputados com assento na Assembleia Legislativa não pode fazer lei naquela casa. O Poder Central, bem atento a estas questões, certamente não vai permitir que a harmonia social saia beliscada na sua RAEM. Para tal, nem precisa de ir contra a Lei Básica. Para bom entendedor…
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com