Contra a nossa extinção
«Algumas formas de poluição são parte da experiência diária das pessoas. A exposição a poluentes atmosféricos produz um variado espectro de perigos para a saúde, especialmente para os pobres, causando milhões de mortes prematuras. As pessoas ficam doentes, por exemplo, por respirar grandes quantidades de fumos dos combustíveis usados para cozinhar ou aquecer [alimentos]», refere o Papa Francisco, na encíclica “Laudato Si”.
«Há também a poluição que afecta todos, causada pelos transportes, fumos industriais, substâncias que contribuem para a acidificação do solo e da água, fertilizantes, insecticidas, fungicidas, herbicidas e agrotóxicos em geral», acrescenta o Sumo Pontífice.
«A tecnologia, que, ligada a interesses comerciais, apresenta-se como a única forma de resolver esses problemas, na verdade tem provado ser incapaz de ver a misteriosa rede das relações entre as coisas, resolvendo por vezes um problema só para criar outros», salienta ainda.
Não é por acaso que o Papa Francisco dedicou a sua mais recente encíclica ao Meio Ambiente e à forma como tratamos o planeta Terra. De acordo com um estudo realizado por especialistas das universidades norte-americanas de Stanford, de Princeton e da Califórnia (em Berkeley), o mundo está a sofrer a sexta extinção em massa da sua História. Sublinhando que a espécie humana provavelmente ficará extinta em breve, acrescenta que, desde o fim da era dos dinossauros, há 66 milhões de anos, o planeta não perdia espécies a uma taxa tão elevada como agora (100 vezes superior).
As conclusões do estudo não me surpreendem porque o ser humano nada mais tem feito do que tentar impor as suas próprias leis e interesses sobre uma realidade onde é actor privilegiado, inclusivamente no Meio Ambiente. Assim tem acontecido na Amazónia, no ecossistema dos oceanos e nas savanas de África, onde estão em risco milhares de espécies animais e vegetais, porque há que alimentar, por exemplo, as indústrias do papel, dos artigos de luxo, do contrabando de animais ou, até mesmo, o ego pessoal de alguns indivíduos.
Embora estejam muitas espécies em risco, deparo-me com o contra-senso de se querer clonar o mamute, animal extinto há milhões de ano, facto que não se deve à acção do Homem. Mas como podemos pensar em “ressuscitar” algum animal, se não temos capacidade de proteger os que ainda existem?
A mentalidade cada vez mais capitalista e consumista das pessoas está a destruir o planeta. O Homem, cego pela ambição, pelo poder, pelo protagonismo e pelo egoísmo inveterado, está a cavar a sua própria sepultura. Mas tal não significa que sejamos todos cúmplices deste holocausto.
Paradigmas
A poluição atmosférica é um sério problema que tem vindo a afectar muitas metrópoles mundiais, com irremediáveis danos para a saúde dos respectivos cidadãos. Embora Macau ainda não tenha conquistado por direito próprio a designação de “metrópole mundial”, constato que muito pouco tem sido feito para combater o flagelo da poluição que se torna cada vez mais séria na sua Península.
Em termos comparativos, embora haja maior número de veículos automóveis a circular na capital tailandesa, que também tem uma área territorial bastante maior, assim como muitos mais habitantes, é ponto assente que sofro menos com a poluição atmosférica nesta cidade do que, por exemplo, quando caminho na Avenida Horta e Costa, na Rua do Campo ou na Avenida Almeida Ribeiro. Por que será?
Encontro três explicações: 1 – Em termos do rácio da área territorial urbana e de zonas verdes, há mais jardins e árvores em Banguecoque. 2 – É também menor a densidade de arranha-céus por quilómetro quadrado e as ruas são mais largas do que em Macau, o que permite uma melhor circulação do ar. 3 – Muitos veículos automóveis na capital tailandesa são movidos a gás de petróleo liquefeito (GPL), solução que contribui para diminuir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera.
Fumo negro
O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, faz bem em manter-se firme quanto à proibição total do tabagismo nos casinos, caso contrário estaria a ser cúmplice da morte (lenta) de seres humanos.
Se até há duas ou três décadas eram praticamente desconhecidos os malefícios do tabagismo, sendo até chique fumar – que o digam Humphrey Bogart, Gary Cooper, Robert Taylor, Cantiflas, Steve McQueen, etc. – a ciência mostra-nos agora o quanto perniciosa tem sido a poderosa indústria tabaqueira, não sendo por isso descabido se houver jurisdições a adoptar medidas ainda mais severas no futuro.
Cingindo-me a Macau, espero, por agora, que vários deputados da Assembleia Legislativa sejam pessoas de bem e deixem de lado os interesses corporativos de maneira a votarem favoravelmente a intenção legislativa do Governo sobre a proibição total do tabagismo nos casinos.
Por outro lado, também espero que o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, encontre boas soluções para implementar (e massificar) o uso de veículos mais amigos do ambiente, não só no seio da Administração, como nos particulares e nas empresas privadas.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA