NIGÉRIA: ESPÍRITO DE RESISTÊNCIA ENTRE OS CRISTÃOS

NIGÉRIA: ESPÍRITO DE RESISTÊNCIA ENTRE OS CRISTÃOS

“Não tenham medo, pois estou convosco”

Na sequência da crónica insegurança que os cidadãos nigerianos enfrentam no seu país – em particular quem se dedica ao labor missionário – o tema do Congresso Nacional Missionário deste ano (que já vai na quinta edição) foi buscar a sua inspiração ao lema: “Não tenham medo, pois estou convosco”, num claro apelo a que os fiéis permaneçam firmes, mesmo que venham a sofrer ameaças à sua vida. Este evento quadrienal – o último ocorreu na cidade nigeriana de Benin (Estado de Edo – não confundir com o país Benin), em 2019 – é organizado conjuntamente pelas sucursais nigerianas das Pontifícias Obras Missionárias e do Departamento de Missão e Diálogo do Secretariado Católico, e contou na edição deste ano com a participação de mais de trezentos crentes – entre bispos, sacerdotes, religiosos e leigos – das nove Províncias Eclesiásticas da Igreja Católica na Nigéria.

No âmbito do Congresso, o bispo de Yola, D. Stephen Dami Mamza, apelou a que todos continuassem a difundir e a testemunhar o Evangelho, apesar das dificuldades, «pois não há nada a temer, já que o Senhor está connosco até ao fim dos tempos».

Na resolução redigida no final da Conferência, composta por seis pontos, foi lembrada “a responsabilidade missionária” de cada cristão, que sempre que seja necessário não deve hesitar em recorrer à legítima defesa consagrada na Constituição da República Federal da Nigéria. Evocou-se o sangue dos mártires – como “semente fecunda da Igreja”, pois o martírio, pela graça divina, gera “uma vida plena de Fé” – e a importância de dar início ao processo de canonização de todos aqueles que, por serem cristãos e pregarem os ensinamentos de Jesus Cristo, têm vindo a ser assassinados pelos militantes do Boko Haram e de outros grupos armados. Em particular, foi pedido à Igreja Católica que reconsiderasse a sua estratégia no que concerne a protecção dos seus fiéis, até agora sistematicamente perseguidos. Nada que não tivesse sido já lembrado, e ainda recentemente, pelo bispo auxiliar de Minna, D. Luka Sylvester Gopep.

A galopante escalada de violência, crime e corrupção na Nigéria é fruto de um ecossistema político saturado de litígios. A remoção dos subsídios aos combustíveis e a queda da naira (moeda da Nigéria) em relação ao dólar só veio complicar a situação, trazendo dificuldades incalculáveis às pequenas e médias empresas. «Os nossos paroquianos enfrentam tempos difíceis e o Governo não se parece importar. E tudo isso é agravado pelas actividades de bandos armados, ladrões, sequestradores, o que leva ao aumento do medo e da suspeita. Os tempos são difíceis, mas continuamos fortes na oração», afirmou o prelado de Minna.

Esperar-se-iam mudanças através da ida às urnas, mas, infelizmente, as últimas eleições gerais foram marcadas pela compra de votos, pela intimidação dos eleitores e por um órgão eleitoral comprometido que impediu resultados concretos.

«Na minha opinião, os conflitos contínuos são um sintoma de uma doença maior que leva à apatia. O povo não tem um exército para afastar insurgentes, bandidos ou sequestradores; o aparelho de segurança está nas mãos dos políticos, mas se estes falsificam as eleições que mais podem fazer as pessoas senão enveredarem pela rebelião?», argumentou D. Luka Gopep.

A Igreja local, como portadora de esperança, continua a fazer o melhor que pode para acalmar as pessoas, persuadindo-as nas homilias diárias. «Atrevo-me a dizer», continuou o prelado, «que se não fossem as nossas intervenções talvez o povo teria tomado medidas com consequências negativas para os detentores de cargos públicos, todos eles corruptos. Ninguém deseja uma revolução sangrenta. Isto significa que os políticos devem corresponder às expectativas com base no contrato social que mantêm com o povo. Por exemplo, os golpes de Estado no Níger, no Mali, no Chade, no Burkina Faso e na Guiné são provas de má liderança em África. Quando a gerontocracia, o autoritarismo e a impunidade se tornam normalidade, às pessoas só lhes resta recorrer aos seus próprios meios. No Zimbabué, por exemplo, ninguém sabia que um dia Robert Mugabe seria removido de forma pacífica, sem que ninguém disparasse uma arma ou perdesse a vida».

Em relação à diocese de Minna, o prelado nigeriano confirmou que a Comissão Diocesana para a Justiça, Desenvolvimento e Paz planeia ajudar os mais necessitados, especialmente as pessoas que foram desalojadas das suas casas por grupos de bandidos armados. É prioridade proporcionar-lhes meios de subsistência e educação para os seus filhos. Está em construção um centro pastoral que servirá de «ponto de encontro para o povo de Deus», onde também encontrará alojamento quem mais necessitar.

A contínua insegurança geral com ataques, assassinatos ou sequestros de sacerdotes e religiosos é alarmante. Casos recentes incluem o bárbaro assassinato de um jovem seminarista na diocese de Kafanchan, o rapto de sacerdotes e seminaristas na diocese de Minna (ambos em Setembro passado) e a morte de três frades em Enugu, no mês de Outubro.

Joaquim Magalhães de Castro

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