Na capital, Fort-de-France

Esta semana já vos escrevo de Fort-de-France, actual capital de Martinica e centro urbano por excelência. A capital da ilha era Sainte Pierre, mas devido à erupção do vulcão ficou destruída e os franceses viram-se obrigados a mudar o centro administrativo para Fort-de-France, hoje a maior e mais dinâmica cidade das ilhas das Caraíbas. Uma urbe com tudo o que se pode esperar, muito organizada e muito voltada para o mar.

Estamos ancorados junto do Forte São Luís, o grande símbolo do poder gaulês durante centenas de anos nestas paragens, uma edificação militar que remonta ao século XVII e que ainda hoje é usado, em parte, como guarnição militar pela marinha francesa. Estamos a um minuto de bote do centro da cidade em águas que fazem inveja a qualquer porto. A primeira comparação que fizemos foi com o Porto Interior. Só que aqui a água é límpida e dá vontade de nadar, até porque as autoridades actuam para que a poluição não seja um problema. Em Macau ainda há um longo caminho a percorrer e muitas mentalidades para mudar!

Sobre Fort-de-France haveremos de ter mais oportunidades para falar, visto que aqui iremos ficar até resolvermos alguns pequenos problemas na embarcação, nomeadamente mandar rebobinar os alternadores – o de serviço e o de reserva – e o motor de arranque de reserva que teve de ser substituído em St. Lucia. Tudo isto deverá levar uma ou mais semanas para ficar resolvido.

Antes de aqui chegarmos estivemos em Grand Anse, uma das muitas enseadas que existem no percurso entre Sainte Anne e Fort-de-France. Decidimos ali parar para não fazermos a viagem de seguida e não nos arrependemos. Grand Anse é uma vila piscatória que vive da praia e dos turistas, e que tenta chamar barcos de cruzeiro oferecendo bóias de amarração gratuitas a quem ali quiser passar uns dias. Fez lembrar muitas das nossas pequenas vilas algarvias e do litoral alentejano.

Chegámos à hora de almoço. Como não sabíamos que as bóias eram gratuitas, decidimos ancorar. Sem saber muito bem porquê, nunca conseguimos que a âncora agarrasse ao fundo em perfeitas condições. Depois de cinco tentativas decidimos perguntar a um dos barcos amarrados às bóias onde teríamos de ir para alugarmos uma bóia. Foi então que nos informaram serem gratuitas. Sem demora levantámos âncora e amarrámos a uma bóia. Ali ficámos alguns dias, aproveitando a praia e os restaurantes que a bordejam. O clima estava perfeito: Sol, calor e pouco vento. O único senão foi não estarmos em sintonia com o ritmo de vida de tão pacata vila e, ao fim de alguns dias, ficámos com receio de não termos comida a bordo. É que o supermercado – bem recheado como havíamos de descobrir três dias antes de virmos embora – estava fechado entre as 2 e as 5 da tarde. Exactamente o período em que, normalmente, temos tempo para irmos às compras.

Grand Anse deve ser, sem grandes dúvidas, das melhores praias e ancoradouros onde estivemos até agora. A claridade das águas é tal que até de noite se consegue ver o fundo do mar. Outro senão para mim é o facto de não conseguir mergulhar muito fundo em apneia, pelo que não pude desfrutar das profundezas. As zonas de ancoragem, onde havia áreas de areia (tudo o resto era fundo de erva e algas, o que torna a ancoragem mais difícil), rondavam entre vinte e trinta metros. Tal impossibilitava-me de mergulhar para verificar a âncora. Daí termos aproveitado as bóias gratuitas. As areias, nomeadamente junto dos hotéis espalhados ao longo da praia, são brancas e bem limpas. Até junto do pontão no centro da vila a praia era muito atraente e sempre cheia de pessoas.

Ficou prometido que iremos voltar, possivelmente com os nossos amigos que virão de Portugal em Maio, para ali passarmos mais uns dias antes de rumarmos às ilhas holandesas de Bonaire, Curacao e Aruba.

Entretanto, temos a salientar que, após mais de um ano a navegar, fomos finalmente abordados pelos Serviços de Alfândega. Aconteceu em Grand Anse, tendo três agentes da polícia francesa vindo a bordo para nos inspeccionar. Profissionais, corteses e muito bem dispostos, fizeram o seu trabalho, não causaram nenhuma bagunça e ainda brincaram com a Maria e com o Noel. Ainda me desejaram rápidas melhoras para o meu pé direito. Há dias mandei um pontapé na escada. O dedo mindinho encolheu e ficou todo negro. Quanto a ilegalidades? Não encontraram nenhumas!

João Santos Gomes

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