Jardim da Flora acolhe Via Sacra

LUÍS LEONG, FRANCISCO VIZEU PINHEIRO E DANILO PEREZ NGO FALAM SOBRE A PÁSCOA

Jardim da Flora acolhe Via Sacra

Como viver o Mistério Pascal em toda a sua plenitude? Uma forma é abraçar com convicção o sofrimento de Cristo, responderam a’O CLARIM três católicos de diferentes comunidades de Macau. No seu entender, viver a Páscoa é caminharmos juntos como Humanidade e ter consciência do sofrimento dos outros, mas também aceitar que a verdadeira alegria tem origem em Cristo ressuscitado.

O Jardim da Flora e a Colina da Guia acolhem amanhã, a partir das 10:00 horas, uma recriação da Via Sacra – o percurso que Jesus cumpriu desde o Palácio de Pilatos até ao Monte Calvário, local onde foi crucificado. Organizada desde há mais de vinte anos pela Associação de Leigos Católicos de Macau, a iniciativa deverá atrair entre duzentos a trezentos participantes, entre os quais Luís Leong.

Funcionário da Universidade de Macau e antigo colaborador da Associação, Leong diz que a preparação para o mistério da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo não fica completa sem a revisitação dos Passos da Paixão e sem a memória do sofrimento a que o Messias se submeteu em prol da redenção e da salvação da Humanidade. «Costumo participar nas cerimónias da Sexta-feira Santa na capela de São Francisco Xavier, em Coloane. Mas, antes disso, na sexta-feira de manhã vou participar na Via Sacra, no Jardim da Flora. Há cinco Estações da Cruz entre o Jardim da Flora e a Colina da Guia», explica o jovem leigo. «Esta Via Sacra é organizada há mais de vinte anos, sendo muito popular entre os católicos chineses. Às vezes o bispo também participa. É um evento relativamente grande. Diria que só fica atrás das Procissões de Nossa Senhora de Fátima e de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos. A Via Sacra foi cancelada em 2020, mas voltou a realizar-se no ano passado, tendo atraído mais de trezentas pessoas», acrescenta.

Para Luís Leong, a preparação para a Páscoa e Semana Santa convidam à oração e à reflexão, mas também a um menor alheamento face ao sofrimento dos outros. O conflito que há mais de um mês arrasa cidades e ceifa vidas na Ucrânia, confessa Luís, tornou o período da Quaresma muito mais penoso e muito mais sofrido. «Durante a Quaresma, devo dizer, senti-me muito desconfortável com a invasão de que foi alvo a Ucrânia. Rezar pela paz é algo que faço todos os dias e procuro exercer autocontrolo em relação ao que bebo», admite. «É bom que os católicos participem nas cerimónias e nos rituais da Páscoa, mas sem amor, sem esta preocupação com a paz no mundo, essas celebrações parecem-me um pouco vazias. A fé pode ser uma coisa pessoal. Pode ser a relação que mantenho com Deus, mas é também a relação entre Deus e o mundo», sustenta Luís Leong, que se mostra confiante na acção do Imaculado Coração de Maria, a quem o Papa Francisco recentemente consagrou a Ucrânia e a Rússia.

PARTICIPAÇÃO ACTIVA

NOS MISTÉRIOS DA FÉ

A participação nas celebrações litúrgicas que dão corpo ao Tríduo Pascal são, para Francisco Vizeu Pinheiro, um dos aspectos centrais da caminhada de preparação para a Ressurreição de Jesus Cristo. O arquitecto defende que não é possível abraçar na plenitude a Mensagem Pascal sem viver a liturgia. «Para mim, o fundamental é seguir a liturgia que está preparada para este tempo. É tentar viver a liturgia não só como um espectador, mas também como um participante. É participar nestes momentos da vida da Igreja como um personagem mais. A ideia não é a de estar a ver apenas, como se tratasse de um filme, mas procurar estar envolvido no que está a acontecer», sublinha o docente da Universidade de São José. «Na minha perspectiva, é fundamental que nos relembremos. E a palavra relembrar, em toda a sua abrangência, é também reviver. Portanto, é tentar reviver a Paixão de Cristo. É acompanhar a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo também», complementa.

O arquitecto e professor universitário considera que uma participação «activa, atenta e devota» na vida da Igreja local permite um olhar mais profundo e mais abrangente sobre o poder do Espírito Santo. Segundo ele, uma manifestação incontestável desse poder materializa-se na noite de sábado, com o Baptismo e a Confirmação de novos membros da Igreja. «Eu por acaso tenho dois amigos que vão ser baptizados, um agora e outro mais tarde. E isso é algo que me dá uma grande alegria, porque mostra realmente que a Igreja está viva. Haver essa nova incorporação de novos elementos à Igreja tem muito a ver com a Páscoa, com a Paixão e a morte de Cristo», defende. «Quando as pessoas são reunidas através do sacramento do Baptismo, revivem a Paixão, são incorporadas através do sacramento do Baptismo. O Baptismo para mim é uma parte importante das cerimónias de sábado à noite, da Vigília Pascal», concluiu Vizeu Pinheiro.

Danilo Perez Ngo, engenheiro civil nascido nas Filipinas, encara a Semana Santa e o Tríduo Pascal, em grande medida, como sinónimo de reflexão; como um tempo que convida a auto-exame espiritual. A participação nas cerimónias e nos rituais da Semana Santa ajudam a fortalecer a fé, mas apenas uma conversão verdadeira, alinhada com o sofrimento de Jesus Cristo abre portas a uma vivência plena do Mistério Pascal. «A Semana Santa e a Páscoa são muito importantes para mim e para a minha família. Habitualmente fazemos jejum na Quarta-feira de Cinzas, na Quinta-feira Santa, na Sexta-feira Santa e no Sábado de Aleluia», explica o engenheiro civil, que trabalha desde 2012 para uma das principais empresas locais do sector. «A participação nas cerimónias, na Santa Missa e outras obrigações do género, não são suficientes se o nosso coração não estiver alinhado com a ideia de conversão e se não nos unirmos com o sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador. O processo de conversão é um processo contínuo. No meu caso, assumi o compromisso de assistir à Missa todos os dias, de me confessar todas as semanas, de ler os Evangelhos e conduzir outras leituras espirituais», esclarece Danilo Perez Ngo.

M.C.

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