PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO AS VISÕES DA BEATA ANNA CATHARINA EMMERICH

PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO AS VISÕES DA BEATA ANNA CATHARINA EMMERICH

A bárbara crucificação do Senhor

A Igreja universal acaba de entrar no Tríduo Pascal. Os dias mais dramáticos da vida de Jesus Cristo e dos Seus seguidores. A Paixão do Senhor perdura pelos séculos e nestes dias os fiéis unem-se ao sofrimento do Salvador, com os olhos postos na Sua Gloriosa Ressurreição. Vários místicos e Santos tiveram revelações da Paixão de Cristo. A beata alemã Anna Catharina Emmerich, mística católica, teve visões da Paixão que estão publicadas no livro “Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus”, com aprovação eclesiástica. Destas revelações privadas, fomos ao encontro do relato da crucificação do Senhor.

Nas visões de Anna Catharina Emmerich (1774-1824), religiosa agostiniana e mística, temos uma narrativa detalhada da Paixão do Senhor, desde a Última Ceia à Gloriosa Ressurreição. As suas descrições foram fonte de inspiração para o cineasta Mel Gibson produzir o filme “A Paixão de Cristo”.

De todo o percurso da “Via Crucis”, o momento mais dramático e bárbaro é a crucificação. Catharina viu Jesus, imagem viva da dor, ser estendido pelos carrascos sobre a cruz. Ele próprio se sentou sobre ela e brutalmente O deitaram de costas. Observou que Lhe colocaram a mão direita sobre o orifício do prego, no braço direito da cruz e aí amarraram-Lhe o braço. Na visão, um dos carrascos ajoelhou-se sobre o santo peito do Senhor, enquanto outro segurava-Lhe a mão, que se contraia, e um terceiro colocou um cravo grosso e comprido, com a ponta limada, sobre a mão. “Cheia de bênção e cravou-o nela, com violentas pancadas de um martelo de ferro. Doces e claros gemidos ouviram-se da boca do Senhor; o sangue sagrado salpicou os braços dos carrascos; rasgaram-Lhe os tendões da mão, os quais foram arrastados, com o prego triangular, para dentro do estreito orifício. Contei as marteladas, mas esqueci, na minha dor, esse número. A Santíssima Virgem gemia baixinho e parecia estar sem sentidos exteriormente; Madalena estava desnorteada”, descreve Catharina.

Depois de terem pregado a mão direita, os carrascos aperceberam-se que a mão esquerda, já amarrada ao braço da cruz, não chegava até ao orifício do cravo, que haviam perfurado a pouco mais de dois centímetros de distância das pontas dos dedos. Então estes, na sua brutalidade, ataram uma corda ao braço esquerdo do Salvador e, apoiando os pés sobre a cruz, puxaram-na com toda a força, até que a mão chegou ao orifício do cravo. “Jesus dava gemidos tocantes; pois deslocaram-Lhe inteiramente os braços das articulações; os ombros, violentamente distendidos, formavam grandes cavidades axilares e nos cotovelos viam-se as junturas dos ossos. O peito levantou-se-Lhe e as pernas encolheram-se sobre o corpo”. De novo, Catharina viu os carrascos ajoelharam-se sobre os braços e o peito, voltando a cravar-Lhe cruelmente o segundo prego na mão esquerda. “Jorrou alto o sangue e ouviram-se os agudos gemidos de Jesus, por entre as pancadas do pesado martelo. Os braços do Senhor estavam tão distendidos, que formavam uma linha recta”.

Aos pés da cruz, Emmerich via a Santíssima Virgem, a qual sentiu todas as torturas infligidas a Jesus, numa palidez cadavérica, e fracos gemidos saiam-lhe da boca. Catharina olhou também para Madalena: “Estava como louca; feria o rosto de modo que tinha as faces e os olhos cheios de sangue”.

Segundo o relato de vidente, havia na cruz, em baixo, talvez a um terço da respectiva altura, uma peça de madeira, fixa por um prego muito grande, destinada a suportar os pés de Jesus. Nessa peça de madeira perfuraram o orifício para o cravo e feito uma cavidade para os calcanhares. Catharina apercebeu-se que havia outras cavidades, em vários pontos da cruz, para que o Mártir pudesse ficar suspenso mais tempo e o peso do corpo não Lhe rasgasse as mãos, fazendo-O cair.

Esta a visão completa do Senhor prostrado na cruz: “Todo o corpo de Nosso Salvador tinha-se contraído para o alto da cruz, pela violenta extensão dos braços, e os joelhos tinham-se-Lhe dobrado. Pela posição errada dos orifícios dos cravos, os pés ficaram longe da peça de madeira que os devia suportar… Fizeram horrível troça de Jesus: ‘Ele não quer estender-se, disseram, mas nós O ajudaremos’. Atando cordas à perna direita, puxaram-na com horrível violência, até o pé tocar no suporte e amarraram-na à cruz. Foi uma deslocação tão horrível, que se ouvira estalar o peito de Jesus, que gemia alto: ‘Ó meu Deus! Meu Deus!’ Tinham-Lhe amarrado também o peito e os braços para os pregos não rasgarem as mãos; o ventre encolheu-se-Lhe inteiramente, as costelas pareciam a ponto de se destacarem do esterno. Foi uma tortura horrorosa”.

Mais: amarraram-Lhe o pé esquerdo com a mesma violência brutal, colocando-o sobre o pé direito; e como os pés não repousavam com bastante firmeza sobre o suporte, por forma a serem pregados juntos, perfuraram primeiro o peito do pé esquerdo com um prego mais fino e de cabeça mais chata do que a dos cravos. Tomaram depois um cravo mais comprido que os das mãos – o mais horrível de todos, realça Catharina –, passando-o brutalmente pelo furo feito no pé esquerdo, e continuando a martelar até ao direito, cujos ossos estalavam, isto para que o cravo entrasse no orifício do suporte e, através desse, no tronco da cruz. Ao olhar a cruz de lado, Emmerich verificou que o prego atravessou os dois pés. “Esta tortura foi a mais dolorosa de todas, por causa da distensão de todo o corpo. Contei 36 golpes de martelo, no meio dos gemidos, claros e penetrantes, do pobre Salvador; as vozes em redor, que proferiam insultos e maldições, pareciam-me sombrias e sinistras”.

Neste momento, a Santíssima Virgem, perante o corpo do Filho adorado, ao som das marteladas e dos gemidos de Jesus, sentiu tanta “dor e compaixão, que caiu novamente nos braços das companheiras, o que provocou um ajuntamento do povo… Durante a crucifixão e a elevação da cruz, que viria a seguir, ouviam-se, especialmente entre as mulheres, gritos de compaixão, como: ‘Por que a terra não traga estes miseráveis? Por que não cai fogo do céu, para os devorar?’ A estas manifestações de amor respondiam os carrascos com insultos e escárnio”.

No limiar das Suas forças, perante toda a brutalidade infligida sobre Si, Catharina ouvia os gemidos que a dor arrancava de Jesus. Apercebeu-se que se misturavam com uma contínua oração – recitava trechos dos Salmos e dos profetas, cujas predições nessa hora cumpria. Durante o horrível suplício, Emmerich viu também anjos a chorar, os quais apareceram por cima de Jesus.

O comandante da guarda romana pregou no alto da cruz uma tábua, com o título que Pilatos escrevera. Catharina apercebeu-se da indignação dos fariseus porque os romanos riam-se alto do título: “Rei dos judeus”.

A hora em que o “Cordeiro de Deus” foi imolado no madeiro da cruz, segundo a visão de Catharina, pela posição do Sol, seriam doze horas e um quarto. “No momento em que elevaram a cruz, ouviu-se do Templo o soar de muitas trombetas: Era a hora em que imolavam o cordeiro pascal”.

Catharina Emmerich realçou que Jesus, durante toda a Sua Paixão até à morte, não cessou de rezar, e assim cumprir as profecias que a Ele se referiam.

NOTA: As citações do livro “Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” são retiradas do portal “online” da Comunidade Santa Rosa de Lima.

M.A.

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