Papa Francisco quer todos na «barca da Igreja»
O Papa disse na terça-feira, dia em que aterrou em Lisboa para presidir à Jornada Mundial da Juventude, que a Igreja deve ter «lugar para todos». No Mosteiro dos Jerónimos, símbolo máximo da Expansão Marítima Portuguesa, duranta a oração de Vésperas dirigiu-se aos responsáveis católicos portugueses, tendo-lhes indicado o caminho que a Igreja em Portugal deve seguir. Para bem de todos e principalmente para bem dos jovens.
«Na barca da Igreja deve haver lugar para todos: todos os baptizados são chamados a subir para ela e lançar as redes, empenhando-se pessoalmente no anúncio do Evangelho», referiu Francisco, na homilia da oração de Vésperas a que presidiu perante bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais, na igreja dos Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa.
O Pontífice pediu que «todos, todos» sejam envolvidos na vida da Igreja, sem criar «alfândegas». «Não transformem a Igreja numa alfândega: “aqui entram os justos, os que estão bem, os que estão bem casados, e os outros todos fora”. Não, a Igreja não é isso: justos e pecadores, bons e maus, todos, todos, todos», insistiu.
Citando Fernando Pessoa – «Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme, e partir dali para [o] Indefinido (Livro do Desassossego)» – convidou todos a «sonhar a Igreja Portuguesa como um “porto seguro”, para quem enfrenta as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida».
Nesta que foi a segunda intervenção da viagem, depois de ter discursado junto ao Presidente da República Portuguesa, o Santo Padre recorreu à imagem do mar e da pesca – ocupação dos primeiros discípulos de Jesus – para sublinhar a necessidade de «sair da margem das desilusões e do imobilismo», perante as dificuldades. Na homilia alertou para o que o Papa designou de «funcionários do sagrado»: «É muito triste quando uma pessoa que se consagrou a Deus se transforma num funcionário».
Com milhares de peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) a recebê-lo, em Belém (uma das zonas mais emblemáticas da cidade de Lisboa), Francisco apontou como exemplo «um jovem lisboeta», São João de Brito (1647-1693), um dos patronos da JMJ, e a sua missão na Índia, para uma Igreja que consegue «dialogar com todos, tornar compreensível o Evangelho», mesmo que para isso tenha de «correr o risco dalguma tempestade».
O Papa defendeu uma Igreja «sinodal», com trabalho em comum, apontando à próxima Assembleia Geral do Sínodo, que decorre em Outubro, no Vaticano. «Podemos olhar para esta situação como uma ocasião para, com fraterno entusiasmo e sã criatividade pastoral, envolver os leigos», pediu aos padres e consagrados presentes, acrescentando que os membros da Igreja devem olhar para fora dela, procurando cultivar «um clima de fraternidade construtiva».
Numa alusão à crise provocada pelos «escândalos» na Igreja, alertou para a perda de «entusiasmo» e de «confiança no futuro», também na sociedade, marcada pela «precariedade económica, a pobreza de amizade social, a falta de esperança». Na mesma ocasião, destacou os desafios de «levar o acolhimento do Evangelho a uma sociedade multicultural», com atenção às situações de precariedade e pobreza, «que crescem sobretudo entre os jovens».
O Pontífice foi recebido no Mosteiro dos Jerónimos pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas.
«Obrigado, Santo Padre, pela sua presença nesta Jornada Mundial da Juventude, a festa da Igreja sempre renovada e jovem, que este ano tem lugar em Lisboa. Esta tarde, rezamos consigo, para que esta convergência de jovens, marcada pelo encontro com Cristo, os leve a entender e sonhar o sonho de Deus e a encontrar caminhos de participação alegre, generosa e transformadora, na Igreja e em toda a humanidade», disse o presidente da CEP, na sua saudação inicial.
Nesta viagem a Portugal, Francisco pernoita na Nunciatura Apostólica, a embaixada da Santa Sé, apenas saindo do Distrito de Lisboa para se deslocar amanhã, 5 de Agosto, a Fátima.
In ECCLESIA – texto editado