Patriarca de Lisboa apela ao diálogo entre os jovens
Os grupos de jovens peregrinos de Macau presentes na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa reuniram no Parque Eduardo VII da capital portuguesa, na passada terça-feira, para participar na Missa de Abertura da JMJ 2023.
Sendo Maria a Mãe muito amada pelos fiéis de Macau, a primeira Eucaristia oficial do evento não pôde estar mais em consonância com o íntimo dos peregrinos do território. Um sentir inscrito há anos na Sé Catedral de Macau junto à imagem de Nossa Senhora de Fátima, com a seguinte frase: “Rainha do Mundo, Mãe de Portugal, Amparai Macau”.
O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, recorreu ao lema da edição deste ano, «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc., 1, 39), para na homilia que proferiu na denominada “Colina da Alegria” transmitir aos milhares de jovens, outros fiéis e sacerdotes, a necessidade de todos se porem «a caminho», no sentido de «encarar a própria vida, como caminho a percorrer, fazendo de cada dia uma nova etapa».
Com o objectivo de combater um mundo a que chamou de «virtual», D. Manuel Clemente pediu uma nova atitude perante a passividade em que muitos se encontram. «A virtualidade mantém-nos sentados, diante de meios que facilmente nos usam quando julgamos usá-los. Bem pelo contrário, a realidade consistente põe-nos a caminho, ao encontro dos outros e do mundo como ele é, tanto para o admirar como para o fazer melhor», disse, perante largas dezenas de milhares de pessoas, acrescentando em jeito de incentivo: «Valeu a pena o caminho que percorrestes para chegar aqui e vos encontrardes nestes dias, na variedade do que sois e na qualidade que trazeis, cada um e cada uma, de cada terra, língua e cultura. Nada pode substituir este caminho pessoal e de grupo, ao encontro do caminho de todos».
Um dos objectivos principais da JMJ de Lisboa é o reforço do diálogo inter-religioso e da vida em comunidade, independentemente da origem de cada um. Daí que o cardeal patriarca tenha iniciado a homilia com uma referência à «amplitude ecuménica, inter-religiosa e de boa vontade que estes dias [da JMJ] têm e congregam». «Desejo – continuou – que vos sintais “em casa”, nesta casa comum em que viveremos a Jornada Mundial. Bem-vindos!».
Neste contexto, o prelado falou principalmente ao coração dos mais novos: «Nem precisais de perceber sempre as palavras, como acontece agora, entre tantas línguas aqui reunidas. Porque os próprios olhos falam e vos sentis seguros e confiantes, na atmosfera cristã que em conjunto criais e nos gestos simples com que comunicais. Há verdadeiramente uma “pressa no ar”, que circula entre vós e onde chegareis nestes dias. Um ar em que o próprio Espírito divino circula, com a prontidão que só Deus tem e comunica». E concretizou: «Vós conheceis esta “pressa”, porque também outros se apressaram a vir ao vosso encontro para vos levar Jesus e tudo quanto Ele vos oferece de horizontes largos e vida em abundância. (…) Na verdade, sentimos ânsia por aquilo que ainda não temos. A pressa é diferente, é partilhar o que já nos leva. Por isso é uma urgência serena e sem atropelo. Como aqui chegastes e como aqui estareis, levando aos outros o que vos traz a vós».
Numa analogia com Maria, D. Manuel Clemente explicou: «Maria também se pôs a caminho [a fim de visitar a sua prima Isabel]. Um caminho difícil e sem os meios de transporte de que hoje dispomos. E era uma jovem como vós, que há pouco concebera Jesus, do modo único que o Evangelho relata». Mais: «Maria levava já no seu ventre o “bendito fruto” que era Jesus. Os cristãos levam-no também, porque o recebem na palavra, nos sacramentos e na caridade onde Ele se oferece. E como acreditamos em Jesus como caminho para Deus, caminhamos com Ele para O levar aos outros. No mesmo impulso que levava Maria, no mesmo Espírito que nos leva a nós. A caminho!».
A terminar, sublinhou ainda: «o Evangelho conta-nos a alegria daquele encontro de Maria com Isabel e do reconhecimento mútuo em que ocorreu. A saudação de Maria foi tal que suscitou na sua parente a exclamação que tantas vezes repetimos: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” E às palavras de Isabel correspondeu Maria com um dos hinos mais belos que cantamos desde então, o Magnificat. É muito importante que seja assim convosco e com todos. Na verdade, cada encontro que tivermos deve ser inaugurado com verdadeira saudação, em que troquemos entre nós palavras de acolhimento sincero e plena partilha. Aprendamos com Maria a saudar a todos e cada um. Pratiquemo-lo intensamente nos dias desta Jornada Mundial da Juventude. O mundo novo começa na novidade de cada encontro e na sinceridade da saudação que trocarmos».
José Miguel Encarnação
Em Portugal