Impressões Papais

Lições que o Papa Francisco aprendeu

No seu encontro com os jovens na Universidade de S. Tomás, em Manila, no passado dia 18 de Janeiro, o Santo Padre congratulou-se com a generosidade da juventude. No entanto, ele disse que também era importante receber, suplicar, conhecer a nossa pobreza, ser evangelizado. É importante não apenas amar. Mas também aprender a ser amado, não ser-se auto-suficiente. Conforme o Papa Bento XVI escreveu na encíclica “Deus Caritas Est”, (sim, já sei que estou sempre a repetir a mesma frase) o homem «não pode dar sempre, ele também deve receber. Quem quiser dar o seu amor, também deve receber amor como um presente».

O Papa Francisco já deu provas vivas de como se deixa ser evangelizado. A primeira pergunta que lhe puseram durante o voo de regresso a Roma foi sobre as lições que tinha tirado desta viagem. «Os gestos! Os gestos comoveram-me. Não eram gestos protocolares, eram gestos bons, sentidos, gestos vindos do coração. Alguns quase que me fizeram chorar. Havia de tudo naqueles gestos. Fé, Amor, a Família, as ilusões de cada um, o futuro». E o que foram esses gestos? Deixem-me copiar o que ele disse (os subtítulos são meus).

GESTO DE PATERNIDADE: «Aquele gesto dos pais que pensam nos seus filhos e por isso desejam que o Papa os abençoe. Não foi o gesto de um pai isolado. Foram muitos os que pensaram nos seus filhos quando passávamos por eles nas ruas. Gestos que não vimos noutros lugares, com se dizendo: “este é o meu tesouro, este é o meu futuro, este é o objecto do meu amor, é por ele que vale a pena trabalhar, é por este que vale a pena sofrer”. Um gesto original, único, mas nascido do coração».

GESTOS DE ALEGRIA E ENTUSIASMO: «Um segundo gesto que me tocou, mesmo muito, era o entusiasmo que não era artificial, uma alegria, uma felicidade, a capacidade de celebrar o momento. Mesmo debaixo de chuva, um dos mestres de cerimónia disse-me que se sentia edificado, porque os ajudantes, em Tacloban, à chuva, nunca deixaram de sorrir… Era felicidade pura, felicidade sincera. Não eram falsos sorrisos. Não, Não! Era um sorriso que estava todo ali, e debaixo desse sorriso estava uma vida normal, existiam sofrimentos, problemas».

GESTOS MATERNAIS: «Ali estavam os gestos das mães que traziam os seus filhos doentes. De facto, geralmente as mães trazem-nos com elas. Mas é um facto que as mães não os levantam tão alto, apenas um pouco. Os pais levantam, podem ver-se. Aqui Pai! Eram muitas crianças com deficiências, com incapacidades que causam alguma impressão. Eles não esconderam as crianças, ele trouxeram-nas ao Papa para que Ele as abençoasse. “Este é o meu filho, ele está neste estado, mas é meu”. Mas foi a forma como os apresentaram que me comoveu. Um gesto Paternal, um gesto Maternal, de entusiasmo, de alegria».

FÉ E ENTREGA NAS MÃOS DE DEUS: «Há um Mundo que para nós é difícil de compreender, porque foi vulgarizado em demasia, demasiado mal usado, demasiado mal compreendido, mas é um mundo que tem substância: Resignação. Um povo que conhece o sofrimento e é capaz de se levantar de novo. Ontem fiquei muito confortado com a conversa com o pai de Kristel, a jovem voluntária que morreu em Tacloban. Ele disse-me que ela morrera em serviço e estava à procura de palavras que o fizessem compreender o sucedido para aceitar o facto. Um povo que sabe sofrer, é como eu vi e interpretei os gestos».

Os gestos de que o Papa Francisco fala não precisam de explicação. Para este último gesto o Santo Padre disse que a palavra “resignação” tem sido vulgarizada, mal empregue, mal compreendida. Para muitos, ela significa derrotismo, ou indolência. Para outros significa fatalismo. E isto não tem nada a ver com a Resignação Cristã.

A Resignação Cristã exponencia a convicção de que somos filhos de Deus, conforme o próprio Jesus nos ensinou. Isso resulta do conhecimento que este Deus, que deseja que o chamemos de “Paizinho”, é muito mais sensato e prudente, muitíssimo melhor, muito mais poderoso que qualquer uma das suas criações. Dito isso, todos os seus planos são os melhores para nós. Muito melhores que os planos que façamos para nós próprios.

Quando nós dizemos “algo correu mal” significa que apenas não correu de acordo com o NOSSO plano. Há uma máxima que nos devemos lembrar sempre: “O Homem põe e Deus dispõe”. A nossa fé diz-nos que nada pode acontecer a menos que seja, pelo menos, autorizada por Deus a acontecer. E se ele permite que isso aconteça, podemos estar 100% seguros que esse acontecimento nos possa trazer algo de bom, se nós tratarmos dele como Deus deseja que nós o tratemos.

A Resignação ou abandono nas mãos de Deus necessita de dois passos. Aceitar a realidade como ela é, e usá-la para a nossa própria vantagem espiritual. Isto requer espírito de comunicação com Deus nosso Pai, para sabermos qual é o Seu plano para nós. O que necessita que olhemos para Jesus, nosso Irmão mais velho, o Filho muito amado, de forma a que ele nos possa ensinar a como utilizar o plano do Pai. Para isso precisamos de recorrer ao Espírito Santo, para que nos conceda a luz e a Fortaleza que necessitamos.

E, finalmente, convida-nos a solicitar à Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe, para que ela possa apoiar as nossas preces com a sua poderosíssima Intercepção.

É desta autêntica Resignação Cristã que o Papa Francisco tem estado a falar, e não daquela que nos deixa mergulhados em auto-piedade. É este abandono que nos dá «um entusiasmo que não é forjado, uma alegria, uma felicidade, uma capacidade de celebrar». É esta capacidade que faz de nós «um povo que sabe sofrer, e é capaz de se reerguer».

 Pe. José Mario Mandía

(Tradução: António R. Martins)

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