Com o início da época de vela aqui nas Caraíbas começam também as actividades paralelas a este estilo de vida, que vão dando cor e alegria a quem vive nos barcos.
Esta semana fomos convidados para estar presentes num “potluck”, um momento de convívio muito americano e que foi adoptado pela “malta” que vive em veleiros, como forma de se conhecerem e passarem umas horas divertidas fora do ambiente dos barcos. Um “potluck” é, nada mais, nada menos, que um convívio em que cada um traz o que quer para comer e beber e tudo se partilha durante uma horas.
Este foi o primeiro desta “season” em St. Lucia. Foi organizado pelo casal amigo do veleiro “Dream maker”, uns canadianos que passam a maior parte do ano nas Caraíbas, voltando a terra quando chega a época das tempestades.
Regra geral estes “potluck” são feitos em terra, mas desta feita – para variar, como nos explicaram – foi feito a bordo do “Black Magic”, o navio pirata que já havia falado em crónicas anteriores. O tal que teve nome português, mas que ainda não consegui apurar a sua história. Parece que vou conseguir alguma luz sobre este enigma, visto ter o contacto do jovem proprietário que o transformou em navio pirata para levar turistas a passear aqui nas águas de St. Lucia.
Estiveram presentes cerca de 70 pessoas de vários veleiros ancorados em Rodney Bay ou atracados na Rodney Bay Marina, um número que excedeu as expectativas da organização, pois este era o primeiro do ano e muitas pessoas ainda nem sequer colocaram os seus barcos na água.
Para nós foi interessante pois tivemos a oportunidade de conhecer pessoas de outras origens que vivem o mesmo estilo de vida. E, claro, a Maria foi a atracção central, visto não parar um minuto e ter andado por tudo quanto era lado no navio. Só não visitou o que estava por detrás das portas trancadas e deve ter andado ao colo de metade dos presentes.
Nós, os pais, sempre de olho nela, porque assim tem de ser, tivemos também a possibilidade de conhecer outros “cruzeiristas”. Muitos já os conhecíamos da doca dos botes ou da marina, mas agora tivemos a oportunidade de falar com mais tempo.
Saliento um senhor, com mais de setenta anos, certamente, que estava com a esposa a passar uns dias no barco da filha e do genro. Tem uma história de vida interessante, que passa por Portugal. Visitou o nosso país nos anos sessenta, de motorizada e ainda solteiro, durante uma viagem à volta da Europa. Originário da Europa de Leste, cedo se mudou para o Canadá, onde constituiu família e ainda reside, apesar de passar três meses por ano em França, porque a esposa gosta da cultura e comida francesas. Apesar de não viver num barco actualmente, velejou muito quando era novo e ainda hoje, se a família lhe permitir, quer comprar um veleiro e retomar a volta ao mundo que nunca chegou a concluir. Falta-lhe o Pacífico e a Ásia. É algo que, confessou, quer fazer antes de morrer e que está a ser discutido no seio familiar.
São pessoas como estas que me fazem sentir a muita sorte que tem a nossa geração, ao ter tudo à sua disposição. Quem me dera chegar à idade deste senhor e ter a força de vontade que ele demonstra e a sua boa disposição.
Acredito que daqui a um ano ou dois o iremos encontrar com a esposa, e talvez com a filha que já vive num veleiro com o marido, a dar a sua volta ao mundo. Neste momento está a desfazer-se dos negócios que construiu durante a vida no Canadá. O primeiro foi vendido a um português originário dos Açores, como nos fez questão de sublinhar. Agora vai regressar e fechar os contratos de venda dos restantes para, finalmente, se reformar e viajar livremente.
João Santos Gomes