Fórmula 1 – Época de 2018

Circo Romano ou desporto automóvel?

A Fórmula 1, pelo menos nos canais da Fox Sports, emite um desagradável “clip” de publicidade… à Fórmula 1. Se olharmos e ouvirmos com atenção, reparamos que não se consegue descortinar um único momento de desporto automóvel. Vê-se apenas uma quantidade de acidentes, incidentes, choques e aparentes explosões, acompanhadas por uma voz em “off”, excitadíssima, literalmente aos berros, que diz: “Chaotic, Crazy, What a Race!” (caótica, louca, que corrida!). É isto que querem que a Fórmula 1 seja? Caótica, louca, cheia de acidentes? Voltámos aos tempos da antiga Roma, em que quanto mais sangue fosse derramado maior a excitação!? Já alguém perguntou às equipas se se sentem bem ao pensarem em muitos acidentes, incidentes, carros partidos, em corridas caóticas e muito “crazy”? Olhando e ouvindo com atenção verificamos uma não muito disfarçada parecença com as corridas de Stock Cars americanas (acidentes aos molhos, em que de vez em quando mandam o “safety car” para a pista, juntam o rebanho e volta tudo ao mesmo), um objectivo aparentemente subscrito pelos novos patrões da Fórmula 1.

A apresentação de uma lista com cinco pontos para se criar uma nova Fórmula 1 não veio ajudar em nada. A ameaça da Ferrari de abandonar a competição e procurar outros lugares para utilizar a sua tecnologia parece cada vez mais séria… e triste! Se a Ferrari, a única equipa que esteve até hoje sempre presente na Fórmula 1 – desde a primeira corrida em 1950 – deixar de participar em apenas uma prova que seja, nunca mais se poderá falar em Campeonato do Mundo e em Fórmula 1. Esta é a opinião de muitos.

Mas há outros pontos de vista que também têm marcado pontos na confusão do diz que disse. Otmar Szafnauer, chefe de operações da Force India, afirmou ao Autosport que os planos para a nova Fórmula 1 não deveriam incluir as equipas de topo, como a Ferrari, Mercedes, McLaren, Red Bull e Renault, mas continuar com as restantes – Williams, Toro Rosso, Sauber, Haas, Force India, e outras que aparecessem. Estes últimos são quem tem mais dificuldades monetárias e menos possibilidade de fazer algo positivo na categoria. Segundo Szafnauer, as diferenças são disparatadas, sendo que os orçamentos das grandes equipas estão inacessíveis às pequenas. Na proposta da Liberty Media, como tecto de despesa foi adiantado o valor de 150 milhões de dólares americanos. Para Toto Wolff, “patrão” da Mercedes, será impossível trabalhar com tal orçamento, pois só em 2017 gastou mais do dobro desse valor. O porta voz da Force India sabe que se os novos planos da Liberty Media forem aplicados terá de haver um compromisso em que metade das equipas ficará satisfeita e a outra não. Claire Williams, a gestora da equipa de Frank Williams, considera que com as novas regras a sua equipa poderá voltar aos dias de glória, em que foi campeã do mundo de construtores por diversas vezes.

De acordo com as estimativas, todas as equipas a partir da quarta linha do “grid” poderão ser beneficiadas. Já as restantes, ou se ajustam ou deixam a Fórmula 1. Para além do capítulo dinheiro, a Ferrari também poderá abandonar a categoria devido a outros factores. Sergio Marchionne já veio dizer que desporto é uma coisa e espetáculo é outra. Stock Cars são espectáculo, Fórmula 1 é desporto automóvel.

O Grande Prémio da China, em Xangai, teve de tudo um pouco. Vendo equipa por equipa, independentemente dos resultados, a Ferrari foi a mais consistente. Se a senhora Sorte bafejou a equipa de Maranello nas outras corridas, desta vez assim não foi. A Mercedes viu Valtteri Bottas ser espoliado do primeiro lugar pelo Red Bull de Daniel Ricciardo. Se não fosse a reacção instintiva de Bottas, teríamos uma repetição do incidente entre o Ferrari de Sebastian Vettel e o Red Bull de Max Verstappen. Ricciardo saiu limpo da arriscada manobra, enquanto Verstappen foi admoestado pelos comissários. O rebelde só tem razão quando consegue o seu objectivo! No meio da confusão, Kimi Raikkonen deu um ar da sua graça e voltou ao pódio. Vettel ficou em 8º. Verstappen foi quarto, mas a penalização imposta pelos comissários delegou-o para a 5ª posição. Quem beneficiou desta despromoção foi Lewis Hamilton, que pareceu estar de folga durante toda a corrida. Nico Hulkenberg levou o seu Renault oficial a um merecido sexto lugar e Fernando Alonso, com o McLaren Renault, ficou satisfeito como sétimo lugar alcançado. Carlos Sainz Jr. foi nono com o outro Renault oficial e Kevin Magnussen, em Haas-Ferrari, fechou os lugares dos pontos. Depois da euforia das primeiras três corridas o estatuto das equipas está a voltar ao normal.

Este fim-de-semana voltamos a ter Grande Prémio, desta vez em Azerbaijão, nas ruas da capital Baku. Sendo um circuito citadino difícil, com uma das maiores rectas de sempre da Fórmula 1 e vários pontos de atrito entre os pilotos, o suspense é garantido. O primeiro ponto quente é o final da recta da meta, na entrada para a cidade velha. Segue-se o funil junto à fortaleza, que nos dois anos em que este Grande Prémio se disputou deixou sempre marcas, tanto nos carros como nas barreiras. As poucas escapatórias dignas desse nome fazem-nos compará-lo ao Mónaco, embora seja muitíssimo mais veloz. Os melhores carros atingem velocidades acima dos 330 quilómetros por hora. O recorde da volta mais rápida pertence a Sebastian Vettel, com 1:43:41 minutos.

Segundo as expectativas, o espetáculo deverá ser acima da média. A agenda está assim escalonada (horário de Macau): Treinos livres 1, hoje, 17 horas – 18 horas e 30; treinos livres 2, hoje, 21 horas – 22 horas e 30; treinos livres 3, sábado, 18 horas – 19 horas. Provas de qualificação: Sábado, 21 horas – 22 horas. Corrida: Domingo, 20 horas e 10.

Manuel dos Santos

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