Fórmula 1 – Época de 2015

Feliz Aniversário

Não, não nos estamos a dirigir a um qualquer leitor e amigo, mas à Fórmula 1. A Fórmula 1 fez, oficialmente, 65 anos no passado dia 13 de Maio. Não estamos a contar com a primeira corrida com carros desta categoria, pois já existiam – desde o fim da Segunda Guerra Mundial – herdeiros dos carros de “Grande Prémio”, os quais dominaram o desporto automóvel durante os anos 20. Estamos a referir-nos ao longínquo ano de 1950, depois de se terem disputado duas corridas (não oficiais), ganhas pelos Alfa Romeo de Juan Manuel Fangio (1º) e Luigi Faglioli (2º) em ambas as provas. Já nesse ano a Fórmula 1 contou com pilotos dos quatro cantos do mundo, incluindo o príncipe tailandês Birabongse (Bira) Bhanutej Bhanubandh – na realidade, o primeiro piloto asiático na Fórmula 1.

A primeira corrida oficial foi altamente disputada e o italiano Farina foi o primeiro vencedor da categoria, com um Alfa Romeo. Fangio e Bira desistiram com problemas mecânicos. A forma como se disputou constituiu um auspicioso começo para a que é hoje a segunda mais antiga modalidade do desporto motorizado, logo atrás da “velhinha” 24 Horas de Le Mans.

A Fórmula 1 de então não tinha qualquer semelhança com a de hoje. Contudo, embora desprovidos de todos os avanços da tecnologia moderna, os carros eram tão velozes como os de agora, apenas fazendo tempos inferiores por volta, devido às rudimentares soluções tecnológicas da época, que mesmo sendo de topo não se podem comparar com as actuais. Por isso, aqui ficam os nossos sinceros parabéns, com a firme esperança de que esta velha senhora ainda ande por cá muitos mais anos. E não são poucos os que vaticinam o contrário.

A Fórmula 1 está a atravessar uma grave crise de identidade, com problemas contínuos relacionados com os regulamentos, que afastaram dezenas de milhares de aficionados dos autódromos e das televisões. Só neste ano de 2015 as quedas das audiências, apenas no Reino Unido, chegaram aos cinco por cento, repetindo a mesma marca do ano em que Lewis Hamilton se sagrou campeão do mundo de pilotos no Grande Prémio do Brasil, em São Paulo. As audiências têm vindo a cair desde 2007…

As confusas medidas implementadas pelos responsáveis não têm dado qualquer resultado e a comparação com outras categorias, feita por jornalistas, técnicos e mesmo simples fãs, estão a deixar profundas marcas negativas.

O Grande Prémio da Grã Bretanha, este fim de semana, irá revelar uma nova “chuva” de pacotes aerodinâmicos e uma melhoria nas suspensões, nos travões, etc., em busca do milésimo de segundo que possa fazer a diferença entre ganhar ou perder uma corrida. Os actuais carros de Fórmula 1 são mais lentos em cerca de sete segundos (em média, por volta) do que os carros de 2004, o que desagrada a todos, sem excepção, desde pilotos a espectadores. Também o facto das corridas estarem a ser ganhas sempre pelos mesmos, desde o início deste século, não tem dado muita “saúde” à Fórmula 1.

Seguindo uma evolução lógica, no ano passado ano “nasceu” uma nova Fórmula de carros de corrida, virada para o futuro, em oposição declarada à Fórmula 1. Não é poluente, não deixa marca de carbono e não necessita mais do que Sol e vento para se reabastecer, pois os motores são cem por cento eléctricos e as baterias são recarregadas com energia solar. Trata-se da Fórmula E – “E” de Ecologia ou Electricidade.

O primeiro campeonato do “mundo” terminou no passado fim de semana em Londres, capital do Reino Unido, onde nasceu a Fórmula 1. Será este um sinal? Os defensores da “antiga” Fórmula não querem acreditar no seu sucesso, comparando-a a muitas outras Fórmulas efémeras do passado mais ou menos recente. Lembremo-nos da Fórmula 3000 e da Fórmula 5000, entre tantas outras. Nasceram para fazer frente à Fórmula 1, mas os seus carros há muito que são peças de museu.

A Fórmula E parece ter chegado para ficar e não o afirmamos apenas com base nas grandes audiências e nas multidões que encheram os circuitos onde as dez provas foram disputadas. O campeonato começou em Pequim, na República Popular da China, em 2014, passou pela Malásia, Brasil, Uruguai, Argentina, Estados Unidos da América (Miami e Long Beach), Mónaco, Rússia, Alemanha, e terminou em Londres – sempre com “casas cheias”. Coincidência?

A indústria automóvel em todo o mundo tem-se virado para o fabrico de veículos de motorização eléctrica. Nos Estados Unidos, Elon Musk criou os Tesla, que conseguem percorrer a distância entre Detroit, no norte daquele grande país, e Miami, no sul, sem ser necessário recarregar as baterias.

O carro eléctrico não é uma novidade absoluta. No início do século passado, Ferdinand Porsche, à época na empresa Lohner, criara veículos eléctricos fiáveis, incluindo autocarros.

A Fórmula E distingue-se dos carros híbridos por ser cem por cento eléctrica. Os híbridos possuem um motor de combustão convencional e outro eléctrico, sendo comuns há alguns anos nas pistas de todo o mundo. O piloto macaense André Couto foi um dos quatro elementos de uma equipa da Toyota que em 2008, no Japão, conseguiu vencer, pela primeira vez no mundo, uma corrida de resistência (24 Horas de Tokatshi), contra carros convencionais.

Sabe-se que a Fórmula E tem novos carros em desenvolvimento adiantado, tendo já sido testados carros com baterias capazes de cumprirem a distância de uma corrida.

Não é já amanhã que a Fórmula1, eventualmente, dará lugar à Fórmula E, mas estamos convictos que mais cedo ou mais tarde tal irá acontecer.

O multimilionário Charles Branson, dono do Grupo Virgin e um dos grandes impulsionadores desta novel categoria, aposta que daqui a cinco anos a Fórmula de topo do desporto motorizado, com ou sem o nome de Fórmula E, será cem por cento eléctrica.

Manuel dos Santos

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