Aproveitar a vida
“Provavelmente Deus não existe. Deixa de preocupar-te e aproveita a vida”.
Este anúncio anda a circular no exterior de alguns autocarros em Inglaterra e Espanha. Com a globalização, é provável que, em pouco tempo, vejamos autocarros com esta mensagem nas nossas cidades.
Temos de estar muito agradecidos.
Finalmente, alguém descobriu por que motivo nos preocupamos tanto. O nosso problema é que acreditamos em Deus.
No dia em que deixarmos de lado essa superstição, seremos verdadeiramente livres. Poderemos, por fim, aproveitar a nossa vida.
Com esta campanha, tenta transmitir-se a ideia de que sem Deus uma pessoa vive muito melhor.
Mas será verdadeiramente assim? Será que aqueles que têm fé são infelizes? Será que são pessoas que não sabem aproveitar a vida?
É razoável acreditar em Deus, ou é uma atitude própria de gente fanática e pouco inteligente?
Podem parecer perguntas demasiadamente radicais – mas não são poucas as pessoas que, nos dias de hoje, se questionam deste modo.
Temos necessidade de pensar sobre Deus para encontrar o sentido da nossa vida.
Quem sou eu? Donde venho? Para onde vou? Porque existe o mal? Que haverá para além desta vida?
No nosso coração arde uma exigência de sentido.
Além disso, a realidade da morte torna urgente a resposta à pergunta sobre o sentido da vida.
Dessa resposta depende directamente o modo como vivemos o nosso dia-a-dia e o modo como olhamos para o nosso futuro.
A fonte do desespero, muitas vezes, está em considerar que a vida carece de sentido. Que caminhamos para o vazio, para o nada, para o absurdo.
O ateísmo pode parecer uma atitude romântica e libertadora. No entanto, não é assim.
Sem Deus, a vida perde o seu sentido último. O único que passa a ter sentido é aproveitar ao máximo o momento presente.
“Comamos e bebamos que amanhã morreremos”.
Este acaba por ser o modo de viver daqueles que pensam que a morte é o fim de tudo e que a vida carece de sentido.
Pelo contrário, a fé em Deus permite ao homem resolver os problemas do mal, do sofrimento e do sentido da vida.
É também base segura para defender a dignidade, igualdade e liberdade de todos os homens. Sem Deus, tais valores acabam por estar apoiados numa areia movediça.
Quando são úteis numa situação concreta, defendem-se com ardor. Quando incomodam, passa-se por cima deles em nome de uma liberdade mal entendida.
A fé é também fonte de alegria – uma alegria que alivia e refresca a alma, com frequência cansada pelo esforço de viver.
A fé é a única porta nesta Terra que permite entrar no mistério de Deus. No acto de fé, cada um de nós realiza a decisão mais livre e libertadora da existência.
Só em Deus podemos encontrar a verdadeira resposta para o mistério da nossa vida.
No fundo, ao contrário do que diz o anúncio, são aqueles que têm fé que aproveitam melhor a sua vida. Porque são conscientes do sentido último que ela tem.
PE. RODRIGO
Doutor em Teologia