O perigo do narcisismo
Quais são os principais danos que a cultura actual gerou nos jovens?
A pergunta é simples e directa. A resposta não é nada trivial nem evidente. Porém, apesar de não ser fácil responder a esta pergunta, vale a pena tentar.
Na formação dos jovens, é fundamental fazê-los pensar a sério nos riscos a que estão sujeitos pelo facto de serem filhos da cultura que os viu nascer.
Ninguém tem dúvidas de que a cultura actual trouxe muitos aspectos positivos. No entanto, seria uma ingenuidade defender que não existem pontos negativos. Eles existem e são difíceis de individualizar. Mas, apesar de serem negativos, o pensar sobre eles com objectividade é sempre positivo e enriquecedor.
Monsenhor Munilla, responsável pela Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal Espanhola, afirmou, recentemente, que um desses aspectos negativos que influenciam muito os jovens actuais é o narcisismo.
O narcisismo, amor excessivo e doentio por si próprio, fecha a pessoa na contemplação de si mesma.
Está intimamente relacionado com a hipersensibilidade, a absolutização dos sentimentos e a percepção errada – mas nem por isso pouco frequente – de que tudo na vida gira em volta de nós mesmos.
Ora, amar é exactamente o contrário. É sair de si mesmo e promover o bem que existe no outro. Logo, o amor é completamente incompatível com a tendência narcisista que pretende possuir o outro para ser feliz.
Se não se cura a ferida do narcisismo, é impossível conhecer os outros como são e amá-los de verdade. No fundo, com uma ferida dessas no coração, não se pode ser sinceramente feliz.
Atenção, no entanto, a um pormenor: muitas vezes os jovens são levados a pensar exactamente o contrário. Entendem por osmose no ambiente – sem grandes raciocínios – que a felicidade está precisamente em viver para si próprios.
Que remédios propor? Como evitar o perigo do narcisismo?
É certo e sabido que a cura desta ferida passa pela educação num sadio e equilibrado amor de si mesmo.
A tão famosa autoestima!
E não há dúvida nenhuma de que um dos motivos principais da falta de uma equilibrada autoestima na cultura actual é a crise da família. Unida a esta crise está intimamente associada a falta de consciência do amor pessoal que Deus nos tem.
Se a família está desunida, a expressão Deus é meu Pai perde grande parte do seu significado. Torna-se pouco compreensível e alentadora.
Por isso, o anúncio do infinito amor de Deus por cada um de nós é a coluna vertebral da evangelização dos jovens. Que bem soube expressar esta ideia Bento XVI!
É o amor incondicional de Deus que nos capacita para fazer da nossa vida uma resposta generosa.
Captar a presença de Jesus nos pobres e nos doentes evangeliza sempre. A experiência assim o demonstra.
Aproximar-se daqueles que sofrem, para os ajudar, torna-nos melhores. É um caminho seguro e eficaz para combater a tendência narcisista presente na cultura actual.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia