Religião líquida
Um relatório recente da Fundação Jean Jaurès, de Janeiro deste ano, que procura avaliar em que acreditam os jovens franceses, afirma que 49 por cento acreditam que a astrologia é uma ciência, 35 por cento acreditam na reencarnação e 23 por cento acreditam que os fantasmas existem e podem tirar o sono às pessoas e comunicar verdades do além.
Uma jovem universitária, das muitas que foram entrevistadas, diz que acredita na astrologia e ao mesmo tempo não lhe parece que isso seja incompatível com a sua “fé cristã não praticante”. «É para mim uma ferramenta de autoconhecimento que me ajuda a entender melhor as dificuldades que atravesso. Nunca tomo decisões sérias sem antes consultar o meu horóscopo».
Por que motivo é que esta geração, a mais tecnológica de sempre e que viveu o maior avanço da Ciência na História, está à procura do sentido da vida neste tipo de crenças?
Como diz Rafael Palomino, se é verdade que alcançamos uma grande “racionalidade técnica” no mundo actual, também é verdade que existe uma insatisfação clara com as respostas que essa racionalidade oferece às perguntas relacionadas com o sentido da vida.
É fácil chegar à conclusão de que existe uma verdade para lá da Ciência, mas o pensamento mágico ou supersticioso não parece ser o caminho mais apropriado para os jovens a alcançarem. A superstição é um claro desvio do sentimento religioso.
Deus pode revelar o futuro aos seus profetas. Mas a atitude certa de um cristão consiste em pôr-se com confiança nas mãos da Providência de Deus, em tudo o que se refere ao futuro, e em pôr de parte toda a curiosidade malsã a tal propósito (Catecismo da Igreja Católica nº 2115).
Bauman cunhou a famosa expressão de “sociedade líquida” para o mundo actual. Parece que agora também se fala de uma “religião líquida”, consequência do afastamento de muitos jovens das instituições religiosas, e da procura de uma “espiritualidade pessoal” em que a única autoridade és tu próprio, em que escolhes a religião e o modo de a viver que mais se adequem ao teu modo de ser.
Não parece ser o melhor caminho para chegar à Verdade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia