PADRE PAULO FRANCO, PÁROCO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES

PADRE PAULO FRANCO, PÁROCO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES, ANFITRIÃ DA JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2023

Sermos perseverantes é o desafio para depois de Lisboa

Sob a jurisdição da diocese de Lisboa, a paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes foi criada há apenas vinte anos, no bairro mais novo da capital portuguesa, o Parque das Nações. Fruto da vontade dos católicos que vivem na zona oriental da cidade, esta paróquia surgiu onde outrora nada existia, sendo hoje uma das mais dinâmicas do País. Apesar da juventude dos seus sacerdotes e leigos, foi-lhe atribuída a missão de acolher os dois momentos-chave da Jornada Mundial da Juventude: a vigília e a missa de encerramento do encontro entre o Papa Francisco e os jovens do mundo inteiro. Por estes dias, entrevistámos o padre Paulo Franco, pároco da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, que revelou a presença, este Domingo, do secretário de Estado do Vaticano, cardeal D. Pietro Parolin, no Parque das Nações, a quem caberá celebrar uma missa para os organizadores da JMJ 2023.

O CLARIM– A vigília e a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude vão ter lugar num terreno sob a jurisdição paroquial da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, no Parque das Nações. Daí considerar-se ser esta a paróquia anfitriã do encontro do Papa com os jovens do mundo inteiro. Com estão a viver esta realidade?

PADRE PAULO FRANCO –É verdade que a vigília e a missa final – os dois momentos altos da Jornada – terão lugar no Parque Tejo (em breve será divulgado o nome próprio a ser dado ao recinto). Parte deste território geográfico esta sob a jurisdição da paróquia do Parque das Nações, sendo esse o local onde estará instalado o palco com o altar. Obviamente que nos dá uma grande alegria ter o Santo Padre a celebrar na nossa paróquia. No entanto, estamos conscientes que a Jornada não é somente realizada no Parque das Nações; a Jornada é realizada na diocese de Lisboa e nós somos apenas uma das expressões da Igreja, enquanto comunidade cristã nesta diocese. Agora, o facto de terem ali lugar estes eventos centrais dá-nos uma responsabilidade maior, no que respeita ao nosso comprometimento, à nossa colaboração e à forma como estamos envolvidos na realização da Jornada. É um marco que ficará para sempre na memória das pessoas e da comunidade.

CL– Sentem um compromisso acrescido em relação às demais paróquias da diocese de Lisboa

P.P.F. –A sensação que temos é de uma maior responsabilidade em toda a preparação. Aliás, algumas iniciativas, no âmbito da preparação da Jornada, acabam por se realizar na nossa paróquia. A título de exemplo, no próximo Domingo, 14 de Maio, o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal D. Pietro Parolin, irá celebrar missa na nossa paróquia. No dia anterior, sábado, irá presidir às celebrações do 13 de Maio, em Fátima. Serão convidadas as pessoas que estão mais perto da organização da Jornada para o encontro com o secretário de Estado do Vaticano. Este é também um sinal de que a nossa paróquia acaba por ser, um bocadinho, a paróquia de referância na preparação e organização da Jornada. Mas mais do que alguma vaidade que eventualmente nos possa trazer, é sobretudo uma responsabilidade, porque nos leva a ter consciência de que somos levados a contribuir com tudo aquilo que estiver ao nosso alcance para esta missão e para a vontade do Papa e da Igreja universal de reunir com os jovens do mundo inteiro. Não se trata de uma opção, mas de um dever; aliás um dever que toda a comunidade de fiéis já assumiu.

CL– Alojamento, refeições, tendas, transporte e outras questões logísticas. Está a vossa paróquia a preparar algo para receber as centenas de milhares de jovens que irão estar em Lisboa?

P.P.F. –Claro que sim, o que estamos a fazer é aquilo que no fundo é pedido a todas as paróquias da diocese de Lisboa: sermos comunidade de acolhimento. Para tal, temos que assumir três grandes responsabilidades: a primeira, a captação de voluntários que possam servir a Jornada no seu todo ou que no seio da paróquia possam acolher os peregrinos; a segunda, acolhermos os peregrinos em famílias inscritas para o efeito – neste momento já temos garantidas acima de uma centena de famílias de acolhimento, o que poderá vir a beneficiar cerca de quinhentos peregrinos. Poderão ser alojados em casas de família, mas também em alguns espaços comunitários, como escolas, colégios e edifícios públicos; e a terceira responsabilidade é acompanhá-los, garantir-lhes o pequeno almoço (as restantes refeições serão adquiridas por meio de vales que a organização da Jornada irá disponibilizar), assim como a presença assídua no dia-a-dia junto dos peregrinos, de forma a garantir-lhes uma boa experiência durante a Jornada.

CL– De que forma a visita do Papa poderá mudar a realidade da vossa paróquia, da diocese de Lisboa e da Igreja em Portugal?

P.P.F. –O primeiro objectivo destes encontros não é intra, mas extra. Ou seja, é um objectivo universal para a Igreja universal, mais concretamente para os jovens do mundo inteiro. Obviamente, a graça que temos de ser organizadores e acolhedores desta Jornada, e assim colaborarmos com o Santo Padre, também nos dá muito, seja nas dinâmicas implementadas ao longo dos últimos três anos na diocese de Lisboa; seja no envolvimento e compromisso de todos os fiéis leigos e da Igreja no seu todo; seja nas novas dinâmicas e metodologias implementadas na vida pastoral e nas comunidades paroquiais. Esta é uma semente que deve ser regada, cuidada e lançada à terra, para que venha a dar os seus frutos na Igreja em Lisboa e nas suas comunidades paroquiais. Também neste ponto são necessários três passos: o primeiro é que não olhemos para a Jornada como um evento que passará no tempo, mas como um acontecimento que de alguma maneira mexe com a vida da Igreja, tendo nós de saber retirar as devidas ilações; o segundo passo é perceber em que medida as ilações que retirámos se aplicam na nossa vida e nas nossas rotinas – há rotinas e hábitos que precisam ser repensados e revistos, e reformas que precisam ser feitas; por último, temos de ter a ousadia e coragem para mudar, pois quando não temos essa coragem nada de novo pode acontecer nas nossas vidas. Este é o desafio que ficará para depois da Jornada: o desafio de sermos perseverantes e de termos a capacidade de auto-reflexão e confrontação com o que viermos a lidar e com aquilo que viermos a tocar. Não podemos ficar apenas pelo evento de Agosto de 2023.

CL– A paróquia do Parque das Nações foi criada em resultado da evolução que a zona oriental de Lisboa foi tendo nas últimas décadas. Trata-se de uma nova paróquia, com uma igreja de arquitectura moderna, pensada para uma nova geração. Posto isto, de que forma têm contribuído para o desenvolvimento humano e urbano do bairro mais novo de Lisboa?

P.P.F. –A nossa paróquia foi fundada em 2003 e a freguesia em 2012, ou seja, a paróquia é bastante anterior à freguesia. Para a criação da freguesia muito contribuíram os nossos paroquianos, juntamente com a comissão de moradores do Parque das Nações. Este ano celebramos os vinte anos da paróquia, o que também é uma coincidência, uma vez que foi fundada a 25 de Julho, data da véspera do início da Jornada. Esta paróquia começou do zero. Aqui não vivia ninguém. Havia uma refinaria, um quartel militar e um aterro sanitário. Da reconversão dos espaços surgiu o bairro do Parque das Nações. A iniciativa da criação da paróquia partiu, pois, da vontade dos primeiros habitantes do Parque das Nações. Foram ter com o cardeal patriarca da altura, D. José Policarpo, e pediram-lhe para ser criada uma paróquia no Parque das Nações. Estou a citar este episódio pois reflecte a característica particular desta paróquia: foi sempre sendo criada e construída em resultado da pró-actividade, do envolvimento e do compromisso da comunidade cristã e dos leigos. Não foi uma imposição da autoridade eclesiástica, mas uma resposta à vontade dos fiéis, o que se manifesta no dia-a-dia da paróquia. No que respeita aos índices da sua actividade (Catequese, imposição dos Sacramentos, pastoral juvenil e pastoral da evangelização), estamos no “top” três das paróquias da diocese de Lisboa. Esta realidade faz-nos pensar que o facto de ter sido dado protagonismo aos leigos na construção da sua comunidade, levou a paróquia a crescer abruptamente ao longo dos últimos anos. Muitas vezes falta dar este protagonismo aos leigos e sobretudo às gerações mais novas. Isto vem ao encontro do que falávamos há pouco: são necessárias reformas, novidades, transformações, mudanças. Na prática, são necessários caminhos novos que nos conduzam à construção da Igreja do futuro. Trata-se da tal nova evangelização de que o Papa tanto fala.

José Miguel Encarnação

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